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ORIENTE MÉDIO

Ministro sírio minimiza alterações curriculares criticadas na web por "inclinação islâmica"

Mudanças abrangem eliminação de poesias sobre mulheres e faz referência pejorativa a judeus e cristãos

Embaixada da Alemanha em Damasco, capital síriaEmbaixada da Alemanha em Damasco, capital síria - Foto: Omar Haj Kadour/AFP

O novo ministro da Educação da Síria, Nazir al-Qadri, procurou minimizar as mudanças curriculares anunciadas nesta semana pelo novo governo após ativistas denunciarem as alterações como potencialmente prejudiciais às minorias por serem vistas como tendo uma inclinação islâmica.

As mudanças foram anunciadas na quarta-feira na página do Facebook da pasta, pouco menos de um mês depois que a s forças lideradas pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) depuseram o regime do ditador Bashar al-Assad e prometeram, desde que assumiram o poder, respeitar as minorias étnicas e religiosas.

Em uma declaração compartilhada no Telegram na quinta-feira, o ministro da Educação disse que as mudanças foram feitas apenas para eliminar referências "glorificantes" ao líder deposto e corrigir interpretações errôneas do Alcorão, o livro sagrado do Islã.

"Os currículos de todas as escolas sírias permanecerão como estão até que comitês especializados sejam formados para revisá-los e auditá-los", disse, acrescentando: "Ordenamos apenas a exclusão de partes que glorificam o extinto regime de Assad e adotamos imagens da bandeira da Revolução Síria em vez da bandeira do extinto regime".

Segundo Qadri, informações "incorretas" também foram corrigidas no currículo da educação islâmica, em que "alguns versículos do Alcorão haviam sido explicados de forma errada".

As alterações incluem a eliminação de poesias sobre mulheres e amor e de referências a "deuses" em cursos de história antiga, além da mudança de frases como "caminho do bem" para "caminho islâmico" e a referência a "judeus e Nasara", um termo pejorativo para cristãos, na interpretação de um versículo do Alcorão sobre aqueles que irritaram Deus e se desviaram do caminho.

A frase nacionalista "sacrificar a vida em defesa da pátria" foi substituída pela islâmica "sacrificar a vida em nome de Alá".

Alguns temas foram completamente removidos, incluindo um capítulo sobre "as origens e evolução da vida". O hino nacional também foi excluído dos livros didáticos, com o ministério descrevendo-o como "o hino do regime (Assad)". As mudanças se aplicam a todos os estudantes de 6 a 18 anos, informou a CNN.

Embora muitos tenham recebido positivamente as mudanças, outros usaram as redes sociais para expressar indignação quanto às alterações religiosas.

O ativista e jornalista Shiyar Khaleal criticou as modificações em uma publicação no Facebook, alertando que "a educação baseada em ideologias extremistas pode formar indivíduos cujas ideias ameaçam a segurança regional e internacional".

As novas autoridades enfrentam a difícil tarefa de reconstruir as instituições estatais moldadas pelo governo de cinco décadas da família Assad, mas alguns sírios expressaram preocupações de que elas possam estar ultrapassando sua capacidade provisória.

"Mudar o currículo sob a supervisão do Hayat Tahrir al-Sham não é apenas um perigo educacional, mas uma ameaça de longo prazo ao tecido social e ao futuro da Síria", escreveu Khaleal.

O jornalista Ziad Haidar descreveu as mudanças como "execuções educacionais" em uma publicação no Facebook, alertando que "grupos religiosos específicos foram visados".

Os novos governantes da Síria têm procurado repetidamente assegurar às minorias que elas não serão prejudicadas, com a comunidade internacional também pedindo que eles protejam as diversas comunidades do país.

Um usuário, citado pela CNN, comentou na publicação do ministério que "o governo atual é interino e não tem o direito de fazer essas emendas aos currículos", que "devem ser alterados de acordo com a nova Constituição."

Em entrevista a um jornal saudita no fim de dezembro, Ahmed al-Sharaa, líder de facto da Síria desde a queda do regime Assad, afirmou que a elaboração de uma nova Constituição demandará um tempo estimado em cerca de três anos. As eleições livres também: ao canal, ele afirmou que pode levar até quatro anos para que um novo pleito no país seja organizado.

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