Ministro vai à feira do MST, ironiza instalação de CPI e fala em conflitos do Abril Vermelho
Paulo Teixeira disse que deputados vão encontrar "coisas gravíssimas", como suco de uva produzido sem trabalho escravo. Comissão tem grande parte dos postos ocupados pela oposição e preocupa governo
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), ironizou a comissão parlamentar de inquérito (CPI) que irá investigar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Segundo ele, os deputados vão encontrar "coisas gravíssimas" na CPI, como suco de uva produzido sem trabalho escravo. A CPI que investiga o movimento foi desencadeada após uma série de invasões realizadas no mês passado, durante o chamado Abril Vermelho, e é vista com preocupação pelo governo, justamente pelo potencial de desgastes que pode gerar.
'Terrorismo' e 'baderna': indicados para a CPI do MST defendem criminalização do movimento
"Vão encontrar coisas gravíssimas. Suco de uva feito sem trabalho escravo, arroz integral. milho, soja não transgênica", afirmou o ministro pouco antes de subir ao palco da Feira Nacional da Reforma Agrária neste sábado, em São Paulo. A fala sobre o suco de uva faz uma referência indireta ao resgate de mais de 200 trabalhadores em condições análogas à escravidão em vinícolas no Rio Grande do Sul. A empresa fornecia mão de obra para grandes produtores de vinhos do país.
Como mostrou o GLOBO, os partidos já indicaram 13 dos 27 titulares para a CPI, todos com atuação contrária ao Planalto e alinhados à bancada ruralista. Muitos, inclusive, já criticaram publicamente o MST.
Além de minimizar os efeitos da comissão, Teixeira disse que o governo "quer paz no campo", propósito que ele não vê na CPI.
"A CPI quer botar fogo nas relações", afirmou o ministro. "Se é para discutir paz no campo, não tem a ver com o MST", completou.
'Conflitos superados'
A presença de integrantes do governo na Feira Nacional da Reforma Agrária neste sábado ocorre após atritos do governo com o movimento, que promoveu uma série de invasões em abril deste ano.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), chegou a dizer que as invasões eram tão repugnantes quanto os atos golpistas de 8 de janeiro. A fala foi rebatida por Teixeira na época.
— Ali, naquele momento (das invasões), nós pedimos para que eles se retirassem das áreas da Embrapa e da Suzano. E eles se retiraram. Estabelecemos uma mesa de negociação em torno das áreas da Suzano. Estão superados esses problemas e bola para frente — afirmou Teixeira, para quem as pressões do movimento são "naturais".
Desatenção no WhatsApp e trajeto inverso: depoimentos expõem enganos na preparação do GSI antes do 8 de janeiro
Pressionado no Congresso: governo enquadra o PT e tenta apagar incêndios no primeiro escalão
— Os dois governos passados, de Michel Temer e Jair Bolsonaro, extinguiram o MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário). Com a extinção, a remontagem tomou tempo. Além disso, eles (Temer e Bolsonaro) não desapropriaram um centímetro de terra para reforma agrária. Isso gerou um represamento imenso, com pessoas morando em acampamentos em beira de estrada no Brasil inteiro. Seria natural que tivesse essa pressão, mas já estamos com um plano emergencial pronto para ser lançado no mês de maio.
O plano, conta o petista, inclui novos assentamentos em áreas que o Incra possui, regularização de lotes que estavam vazios e serão ocupados por famílias, além de crédito de instalação nos assentamentos e assistência técnica para produção.
Lula envia Alckmin
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de presença desejada pelos organizadores, não deve comparecer à feira, mas será representado pelo vice, Geraldo Alckmin, que já foi um crítico contundente dos sem-terra durante sua gestão no governo de São Paulo.
Em relação à interlocução com a área ambiental, o ministro contou que há uma oportunidade de transição ecológica na agricultura e que o próximo Plano Safra irá financiar pequenas fábricas de bioinsumos e dar juros menor ao reflorestamento produtivo. O acordo, diz ele, foi construído com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), e da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD).