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Comunidade

Miséria e violência são marcas do Jacarezinho, um dos piores IDH do município do Rio

Medo e pobreza rondam os 38 mil moradores do local

JacarezinhoJacarezinho - Foto: wikipedia

A chegada das forças policiais, com mais de mil homens,  no Jacarezinho, na manhã desta quarta-feira, movimentou a rotina de uma população, que segundo dados do último censo do IBGE,  é composta por quase 38 mil moradores - a associação de moradores estima em 80 mil - acostumados à miséria, ao abandono e à violência.

O Cidade Integrada,  projeto do governo do estado, que é uma espécie de reformulação do programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), chega na comunidade pouco mais de oito meses após a operação mais letal da história do Rio, ocorrida em maio de 2021, resultando em 28 mortes, entre policiais civis e militares.

A pobreza e violência andam lado a lado no Jacarezinho. A comunidade possui um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade do Rio. Ocupa a 121ªcolocação entre 126 bairros da cidade, atrás somente de  Manguinhos, Maré, Acari/Parque Colúmbia, Costa Barros e Complexo do Alemão.

Outra dado expõe o traço da miséria local  vem do Instituto Pereira Passos  (IPP). Segundo o órgão, no Jacarezinho 15% da população local vivem abaixo da linha dapobreza e 85% em favela. Os moradores locais têm rendaper capita (por pessoa) de R$ 177,98. É a quarta médiamais baixa do município.

O tamanho desse abismo pode ser mensurado na comparação com outras outras áreas da cidade. Para se ter ideia, na Lagoa a renda per capita é de R$ 2.955,29,segundo o último IDH.

A tentativa atual não foi a primeira do governo do estado para combater a violência.Em 2012, a comunidade foiocupada pelas forças de segurança para a instalação de umaUnidade de Polícia Pacificadora (UPP), que tinha o objetivo minimizar o controle territorial de facções e instalar projetos sociais. Porém, não aconteceu nem uma coisa nem outra. Em setembro de2019, a base da UPP foi desmobilizada, levando embora junto as esperanças dos moradores por dias de paz.

Naquele mesmo ano, doishomens que instalavam câmeras de segurança foramatraídos por traficantes coma desculpa de um serviço nafavela. Terminaram julgadospor um tribunal do tráfico eexecutados. Os bandidos assassinaram um deles por suspeitarem que tivesse ligaçãocom a milícia em Nova Iguaçu, enquanto o outro foi morto porque acompanhava ocolega.  Um vídeo, também daquele ano, dá  o clima de tensãono bairro: num treino carregando fuzis, policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) correm pelasruas cantando sobre “matartraficante”.
 

A insegurança, que  desafiava a presença dos policiais da UPP, ganhou contornos ainda mais dramáticos após a saída deles, na comunidade com a presença de traficantes e milicianos. Os “bondes” do Jacarezinho, em quebandidos atravessam o bairroarmados, são conhecidos pelopavor que espalham na populaçao.Em 19 de outubro do anopassado, em plena pandemia,um grupo protagonizou umafuga cinematográfica duranteação da PM na favela ao sequestrar um trem de serviçosda SuperVia. Era por volta das7h quando dez bandidos armados abordaram dois maquinistas, obrigados a levá-losaté a Mangueira.Um anoantes, quando distribuía cestas básicas, a ONG Rio de Paz, sediada na comunidade,precisou sair por conta deuma troca de tiros entre agentes do Bope e traficantes.

Nem sempre a cisuação foi essa. O lugar, até 1920 era uma antiga chácara localizada entre o Rio Jacarée a fábrica Cruzeiro (depoisGeneral Eletric),  ocupada por casebres. A chegada das indústrias proporcionou o crescimento da população. A partir de 1950, segundo o IPP, com um adensamento considerável, um dosdonos do terreno foi à Justiçapara retirar os moradores, que ganharam o direito de ficarno local que recebeu obras deinfraestrutura em 1980 e2000.

Hoje, no entanto, a sensação é de lugar abandonado pelo poder público. O Cidade Integrada chega com a proposta de mudar essa realidade, segundo o governo do estado, que promete entrar também com serviços e ações sociais, além da retomada do trerritório. 

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