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Moradores denunciam mais de 20 casos de cachorros envenenados em praça na Tijuca

Pingo, de 17 anos, morreu após ingerir substância em passeio pela região; relatos surgiram há três semanas

Comlurb realiza limpeza na Praça Afonso Pena, na Tijuca  Comlurb realiza limpeza na Praça Afonso Pena, na Tijuca  - Foto: Divulgação/ Subprefeitura da Tijuca

Moradores da Tijuca, na Zona Norte do Rio, denunciam que 23 cachorros apresentaram sinais de envenenamento após passear pela Praça Afonso Pena, e um animal morreu. Os casos, segundo o vice-presidente da Associação de Moradores do bairro, João Alberto, começaram a ocorrer há cerca de três semanas.

Ainda de acordo com ele, a associação enviou um pedido pela Subprefeitura da Tijuca para que a Comlurb realizasse uma limpeza na região há duas semanas. No entanto, devido à delicadeza para escolha do produto que neutralizasse o veneno, a operação só foi realizada na manhã desta quarta-feira.

Procurada, a Subprefeitura afirmou em nota que "os serviços já estavam programados, mas foram reforçados por conta da denúncia de substância tóxica na área.
 

Para garantir uma resposta ainda maior, a Companhia "vai repetir a limpeza e a lavagem hidráulica na praça e ampliar os serviços às ruas do entorno" nesta quinta-feira. A limpeza da praça é feita por dois garis diariamente, e a lavagem é realizada uma vez por semana, de acordo com a Comlurb.

— A gente está trabalhando nos bastidores, sem fazer alarde. Eu tenho cobrado a Subprefeitura uma limpeza há duas semanas. Eles estavam vendo com a Comlurb, que está um pouco com déficit pessoal, e vendo qual seria o melhor material de limpeza para neutralizar e um possível veneno — comentou João Alberto.

O caso mais grave foi do Yorkshire Pingo, de 17 anos, que morreu após apresentar sintomas de vômito intenso. O tutor Marco Aurélio, morador da Tijuca há 50 anos e frequentador da praça, relata que a principal suspeita é que a contaminação tenha sido causada por veneno para ratos e plantas espalhados pela quadra.
 

Pingo e seu tutor Marco no dia da internaçãoPingo e seu tutor Marco no dia da internação | Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

— Levei ele quinta retrasada na praça pela manhã, estava muito bem, mas ao chegar em casa, começou a vomitar sem parar. Achei que fosse algo que comeu, mas como parou de beber água, comer, e só vomitava, corri para a veterinária. Lá, ele permaneceu internado por cinco dias — contou.

Marco internou o cão na Clínica Veterinária Popular, onde foi realizada uma bateria de exames para constatar o que havia acontecido. No ultrassom, o Yorkshire apresentou o baço um pouco reduzido, devido uma possível desidratação e inflamação no intestino e estômago.

— Eu estou destruído, o Pingo era de minha mãe, que no leito de morte dela pediu para eu cuidar dele. Foi o Pingo que me salvou do falecimento seguido dos meus avós, pai, mãe e tio. Dei todo meu amor a ele, era uma referência familiar. Eu e ele sempre, viagens, praia, passeios. Dormia comigo, não consigo mais dormir ou entrar no meu quarto — lamentou o tutor.

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O primeiro caso registrado entre os moradores é de Bart, um Shiba Inu, de 6 anos, da tutora Maria Eduarda Alevato. Segundo ela, ele nunca saiu da coleira, costumava cheirar e subir nos canteiros para fazer as necessidades. Os primeiros sintomas apareceram em dezembro do ano passado, quando o cão estava com o passeador pela praça.
 

Bart, de 6 anos, foi o primeiro a aprensentar os sinais de intoxicação Bart, de 6 anos, foi o primeiro a aprensentar os sinais de intoxicação | Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

— Ao atravessar a rua da praça para ir para casa, ele deitou e não conseguia levantar. Começou a ficar muito ofegante, tinha muita dificuldade de respirar. Com isso, o passeador mandou vídeo e falou que ele do nada começou a ficar assim. Chegou em casa, meu marido ligou o ar, tentou dar água e acalmá-lo. Eu cheguei da rua dez minutos depois e corri para o quarto onde ele estava. Ele havia conseguido se mover do local onde estava, mas caiu a poucos metros — descreveu ela.

— Ele havia tido convulsão, babava muito, e havia vomitado uma gosma. Tentei botá-lo em pé, mas ele não conseguia sustentar o corpo. Peguei ele no colo, descalça, do jeito que eu estava, e corri com ele para a veterinária que cuida dele desde pequeno.

Bart teve alteração de plaquetas, colapso de traqueia, comprometimento dos rins, fígado, pâncreas e baço. Em casa, passou por um mês de tratamento para voltar às funções normais e exames semanais para avaliar as plaquetas com uso de corticoides. Maria Eduarda aguarda o laudo da veterinária para realizar o Boletim de Ocorrência (BO) na delegacia.

Em nota, a Polícia Civil afirmou que "de acordo com a 18ª DP (Praça da Bandeira), os agentes buscam imagens de câmeras de segurança da região e realizam demais diligências para esclarecer os casos". A unidade também solicita que os tutores que suspeitarem de intoxicação nos animais procurem a delegacia, formalizem os registros de ocorrência e forneçam mais informações que auxiliem nas investigações.

Casos de envenenamentos na Barra da Tijuca
Os relatos de envenenamento na Tijuca surgiram após cerca de um mês da circulação dos casos de intoxicação no Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade, conforme mostrou O GLOBO. No bairro, em torno de 40 animais foram infectados e apresentaram sintomas, e seis deles morreram.

Na área, os casos começaram a surgir em maio, quando os animais deram entrada em clínicas veterinárias da região. A Polícia Civil investiga se o uso de um herbicida glifosato, substância usada no controle de plantas daninhas, como tiririca e picão preto, teria causado o envenenamento. As autoridades escutaram tutores, moradores, porteiros, síndicos e zeladores da região e analisam imagens das câmeras de segurança.

Segundo a corporação, uma denúncia levantou a hipótese de que um herbicida poderia ter causado a contaminação dos animais. Uma moradora viu um zelador borrifando o produto pelas calçadas em frente ao prédio onde trabalha após ordem do síndico.

Uma equipe da Polícia Civil esteve no local para recolher gravações das câmeras de segurança e apreendeu o borrifador, que foi encaminhado para análise e perícia no Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). Além disso, os envolvidos prestaram depoimento na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA).

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