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LUTO

Morre cardeal australiano George Pell, ex-tesoureiro do Vaticano absolvido por pedofilia

De um humilde começo na Austrália rural, Pell se tornou um dos assessores de maior confiança para o papa Francisco no Vaticano

Cardeal australiano George PellCardeal australiano George Pell - Foto: Alberto Pizzoli / AFP

O cardeal australiano George Pell, que chegou a ser tesoureiro do Vaticano antes de ser acusado e absolvido de abuso sexual em seu país, morreu em Roma aos 81 anos, informou uma autoridade eclesiástica nesta quarta-feira (noite de terça, 10, em Brasília).

De um humilde começo na Austrália rural, Pell se tornou um dos assessores de maior confiança para o papa Francisco no Vaticano, até a explosão do escândalo de pedofilia.

"Com profundo pesar posso confirmar que sua eminência, o cardeal George Pell, faleceu em Roma na primeira hora da manhã", disse o arcebispo australiano Anthony Fisher em um comunicado enviado à AFP.

"Essas notícias foram um grande choque para todos nós", afirmou. "Por favor, rezem pelo repouso da alma do cardeal Pell, pelo consolo de sua família e de todos aqueles que o amaram e lamentam sua morte neste momento", completou.

Em um telegrama de condolências enviado hoje, o papa Francisco transmitiu sua "tristeza" e saudou um "fiel servidor que, sem dúvida, seguiu seu senhor com perseverança inclusive na adversidade".

De acordo com o jornal oficial do Vaticano, o cardeal morreu de complicações cardíacas ligadas a uma operação no quadril, à qual foi submetido na terça-feira (10) em um hospital de Roma.

Donald McLeish, da Rede de Sobreviventes de Abusos de Padres, disse que o cardeal encarnava a indiferença da Igreja para com as vítimas de pedofilia.

"Seu nome é conhecido por sobreviventes do mundo todo", disse ele à AFP. "Não só por sua inação, mas pela frieza que teve com as vítimas e os sobreviventes", acrescentou.

Já o ex-primeiro-ministro conservador da Austrália Tony Abbott despediu-se dele como "um santo dos nossos tempos", cujo nome foi manchado por "acusações atrozes". O ex-premiê descreveu seu julgamento como "uma forma moderna de crucificação".

O arcebispo de Melbourne, Peter Comensoli, afirmou que Pell foi "um líder muito significativo e influente da Igreja, tanto na Austrália, quanto internacionalmente".

O corpo do cardeal será repatriado para a Austrália e enterrado na cripta da Catedral de St. Mary, em Sydney, disseram autoridades eclesiásticas.

O prelado ainda tinha um processo aberto, na condição de coacusado. Os advogados da parte demandante anunciaram que vão levá-lo à frente. O caso foi apresentado pelo pai de um ex-coroinha que alegou ter sofrido abuso sexual por parte do cardeal.

"O processo seguirá adiante contra a Igreja e contra qualquer patrimônio que Pell tenha deixado", disse Shine Lawyers, em um comunicado.

Um ano de prisão
Antes de sua prisão na Austrália, Pell era considerado o braço direito do papa Francisco e a terceira pessoa mais importante da Igreja Católica.

O primeiro-ministro trabalhista Anthony Albanese, que se descreve como um católico não praticante, enviou suas condolências a "todos que estão de luto".

Em 2014, como chefe da Secretaria de Economia do Vaticano, o cardeal australiano recebeu do papa Francisco a tarefa de limpar a cúria da corrupção.

Apenas três anos depois, porém, retornou voluntariamente para a Austrália, onde enfrentaria acusações de abuso sexual. Ele negou-as, com veemência, até sua morte.

O primeiro julgamento terminou sem um acordo do júri, mas, no segundo, foi declarado culpado de ter abusado de dois coroinhas de 13 anos na década de 1990.

Em 2019, foi condenado a passar seis anos atrás das grades e levado para a prisão de Barwon, perto de Melbourne. Ficou recluso por mais de 12 meses. Em abril de 2020, o Supremo Tribunal da Austrália reverteu sua sentença, absolvendo-o.

Meses depois, Pell voltou para Roma, onde foi recebido pelo pontífice argentino no Palácio Apostólico, em outubro de 2020. Na semana passada, compareceu ao funeral do papa emérito Bento XVI, na Praça de São Pedro.

Embora absolvido pela Justiça, uma investigação do governo criticou a inação de Pell ante as acusações de pedofilia que surgiram na Igreja Católica da Austrália.

“Em 1973, o cardeal Pell não apenas estava ciente do abuso sexual de crianças no clero, como também considerou medidas para evitar situações que pudessem provocar falatório sobre o assunto”, concluiu a comissão em 2020.

Nascido na pequena cidade de Ballarat, no sul do estado de Victoria, Pell chegou mais alto na Igreja Católica do que qualquer outro australiano antes dele.

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