Luto

Morre o jornalista Henrique Caban, aos 82 anos

Comunicador participou da reformulação do Globo e atuou por 27 anos em postos de comando na Redação do jornal

Henrique Caban, jornalistaHenrique Caban, jornalista - Foto: Reprodução / TV Globo

Morreu na madrugada desta quarta-feira (18) o jornalista Henrique Caban, aos 82 anos. O profissional, que trabalhou por 27 anos no Globo em postos de comando na Redação, estava com problemas de saúde desde julho do ano passado.

Segundo a filha do comunicador, Isabela Caban, ele faleceu em casa, no Rio de Janeiro. O motivo da morte foram complicações secundárias de doenças cardiopulmonares.

A cremação do corpo do jornalista será realizada nesta quinta-feira às 11h30 no Cemitério da Penitência, no Caju. Caban deixa duas filhas e netos.

Homem de confiança
Com uma carreira extensa, o jornalista participou da fundação da Agência O Globo e também passou pelo jornal "Última Hora", pela Editora Abril – tendo atuado no lançamento da revista Veja –, Jornal do Brasil e a Editora Ediouro.

O jornalista era filho do barbeiro polonês Isaac Caban e da costureira russa Sara Roiberg. O pai de Caban era do Partido Comunista, vindo da Polônia. Antes de desembarcar no Brasil, a família Caban ainda morou no Uruguai, até ser expulsa do país vizinho.

Nascido no dia 24 de novembro de 1940, no Rio de Janeiro, Henrique Caban foi criado na Praça Onze. Ele afirmava que sua militância "vinha de berço", e gostava de dizer que "nasceu recrutado". Durante a juventude, participou da União Nacional dos Estudantes (UNE), e chegou a ser preso, aos 14 anos, durante um comício na Central do Brasil contra a declaração do Estado de Sítio, decretado em 1964.

As histórias dos anos de luta estão reunidas no livro "Os Comuníadas Estão Chegando", em 2013. A obra, realizada em conjunto com outros autores, reúne poesia, colagem, fotografia e depoimentos, com ocasiões e referências a episódios marcantes vividos pelo grupo.

Caban começou seu trabalho em redações cobrindo o movimento estudantil, no jornal Última Hora, como estagiário, em 1959.

No Globo, era considerado homem de confiança de Roberto Marinho, filho do fundador do jornal, Irineu Marinho, e diretor-redator-chefe.

Em 2015, em entrevista ao Globo, o jornalista relembrou uma situação inusitada vivida com Marinho. Precedido pela fama de comunista, ao ser apresentado em 1971 ao dono do GLOBO ouviu a pergunta:

— Você mistura política com sua profissão?

Diante da resposta negativa, Roberto Marinho referendou a contratação. Já em 1974, o então chefe de Redação teve o nome citado na Operação Grande Rio por ajudar financeiramente a família de dois presos políticos.

Agentes da ditadura encontraram depósitos feitos pelo jornalista do GLOBO na conta de um dos opositores ao regime e avisaram Roberto Marinho, que chamou o funcionário para perguntar se era verdade. Diante da resposta afirmativa, o diretor-redator-chefe limitou-se a uma pergunta retórica.

— Tudo bem, Caban. Mas precisava dar o dinheiro em cheque?!?!

Ao lado do diretor Evandro Carlos de Andrade, Caban teve um papel essencial no jornal. O comunicador foi decisivo na reformulação do jornal, com a profissionalização. Caban foi responsável pela reorganização do Globo, com modernização, criação da Agência O Globo e reestruturação das sucursais que o jornal mantinha pelo Brasil — como Brasília, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre.

Henrique Caban acompanhou o processo de informatização do veículo, a reforma gráfica, o advento do computador e da internet. De acordo com o jornalista, as maiores dificuldades para adquirir as máquinas foram a demanda de outros países, a necessidade de um ambiente refrigerado e a desconfiança de outros profissionais, que acreditavam que poderiam perder o emprego para uma máquina. No entanto, ele acreditava que o futuro pertencia à tecnologia. Após transformar a maneira de produzir notícia, o comunicador deixou a redação em 1997, como superintendente.

O jornalista e escritor Luis Erlanger conheceu o profissional quando era apenas estagiário e atribui a ele boa parte de seu aprendizado. Para Erlanger, Caban era um exemplo de como pensar fora da caixa.

— A gente esquece que o jornal tem que ter alguém que faça com que ele rode. O Caban era implacável, o "tocador" da redação. O Globo foi o primeiro veículo impresso a se digitalizar porque o Henrique era um jornalista atípico, ele tinha uma visão de tecnologia e futuro muito intuitiva. É como se ele fosse um super gerente de produção que pegava as peças e transformava em um automóvel. A parte jornalística, como apuração e texto, eu aprendi com o Evandro Carlos de Andrade, mas tudo o que eu sei sobre equipamento e os processos para fazer um jornal acontecer, eu devo ao Caban — afirma o escritor.

Apesar de ser conhecido como uma pessoa amável, na Redação o jornalista era temido pelos colegas de trabalho. No entanto, era reconhecido e respeitado por chefiar com dureza em prol de trazer informação com qualidade para os leitores.

— Eu lembro de quando comecei como editor-chefe no jornal e todo mundo me chamava de "Cabanzinho", porque me achavam parecido com ele. Um dia me perguntaram se isso realmente era verdade. Na ocasião, eu afirmei que sim e disse que ele não gostava que comentassem. Como as pessoas morriam de medo dele, o apelido não pegou. Ele me apoiou durante toda a minha trajetória e sempre vai ser uma das minhas maiores referências — relembrou Erlanger.

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