Morre Roberta, mulher trans que teve 40% do corpo queimado por adolescente no Recife
Morreu, na manhã desta sexta-feira (9), a mulher trans Roberta Silva, de 33 anos, que teve 40% do corpo queimado por um adolescente no dia 24 de junho, no Cais de Santa Rita, área central do Recife.
Roberta estava internada no Hospital da Restauração (HR), no bairro do Derby, área central do Recife.
O óbito de Roberta ocorreu por volta das 9h desta sexta-feira e foi confirmado pela assessoria de comunicação do HR. Segundo a unidade de saúde, ela tinha sido novamente intubada e, nos últimos três dias, apresentou piora nos sistemas respiratório e renal.
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Com o quadro agravado nas últimas horas, Roberta sofreu falência dos sistemas respiratório e renal e não resistiu após passar 15 dias lutando pela vida.
O prefeito do Recife, João Campos, afirmou que lamenta profundamente a morte de Roberta. "É intolerável qualquer vida perdida para o ódio e para o preconceito. Vamos avançar com novas ações para ampliar o atendimento a esta população, como a Casa de Acolhida LGBTI+, que irá receber o nome de Roberta", postou o gestor.
Lamento profundamente a morte da mulher trans Roberta da Silva. É intolerável qualquer vida perdida para o ódio e para o preconceito. Vamos avançar com novas ações para ampliar o atendimento a esta população, como a Casa de Acolhida LGBTI+, que irá receber o nome de Roberta.
— João Campos (@JoaoCampos) July 9, 2021
A codeputada estadual Robeyoncé Lima, do mandato coletivo Juntas (PSOL), também lamentou a morte de Roberta. "Atacada de maneira cruel, ela foi mais uma vítima da transfeminicídio em Pernambuco. Mandemos boas energias para que ela tenha uma passagem serena e também honremos sua memória", postou em seu perfil no Twitter.
Me foi informado agora pouco do falecimento da companheira Roberta. Atacada de maneira cruel, ela foi mais uma vítima da transfeminicídio em Pernambuco.
— Robeyoncé Lima (@RobeyonceLima) July 9, 2021
Mandemos boas energias para que ela tenha uma passagem serena e também honremos sua memória.
Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ) afirmou que presta solideriadade à família pela morte de Roberta.
"Infelizmente hoje a intolerância e a violência venceram a vida. Prestamos nosso respeito e solidariedade à família, amigas e amigos de Roberta e a toda a comunidade LGBT. O Governo de Pernambuco não tolera crimes de ódio e repudia que uma pessoa seja assassinada pela sua condição de gênero ou orientação sexual", diz o texto.
A pasta afirmou que a família de Roberta recebe apoio e amparo da Coordenadoria LGBT do Estado e da Secretaria de Assistência Social do município do Recife.
"Para prevenir e impedir a violência contra pessoas LGBT, foi instituído pelo Governo do Estado de Pernambuco, mais um instrumento, o Comitê de Prevenção e Enfrentamento da Violência LGBTFóbica para estruturar as ações de enfrentamento a essa violência. O comitê trabalhará de forma integrada para capacitar, assessorar e mobilizar em articulação com os municípios, a prevenção, o acolhimento às vítimas e punição aos agressores", completou a secretaria.
Caso Roberta
A tentativa de homicídio contra Roberta ocorreu na madrugada de 24 de junho, no Cais de Santa Rita, bairro de Santo Antônio, área central do Recife. Ela, moradora de rua, costumava dormir nas proximidades do terminal rodoviário.
Um adolescente jogou uma substância inflamável em Roberta e ateou fogo nela. O autor do crime foi apreendido e encaminhado a uma Unidade de Atendimento Inicial (Uniai) da Secretaria de Criança e Juventude.
De acordo com a codeputada estadual Robeyoncé Lima, do mandato Juntas (PSOL), Roberta afirmou que o crime teria sido motivado por transfobia.
A vítima foi socorrida por paramédicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que enviou uma unidade de suporte básico ao local e a transferiu para o Hospital da Restauração (HR), no bairro do Derby, também na área central da capital pernambucana.
O caso foi registrado como “ato infracional análogo a homicídio doloso tentado”, segundo a Polícia Civil de Pernambuco, uma vez que teve um adolescente como autor.
De acordo com a corporação, o adolescente foi conduzido por policiais militares para a Delegacia de Polícia de Plantão da Gerência de Proteção da Criança e do Adolescente (GPCA), onde foram tomadas as medidas legais.
“As investigações continuarão até a completa elucidação”, informou a Polícia Civil, por meio de nota.
Na noite de 26 de junho, por causa da gravidade dos ferimentos causados pelas queimaduras, Roberta teve o braço esquerdo amputado. Ela teve uma piora na condição clínica e precisou ser intubada.
Em 28 de junho, ela passou por um procedimento de retirada do tecido desvitalizado no Centro de Tratamento de Queimados do HR. Roberta foi extubada e liberada da Sala de Recuperação Pós-Anestésica. Dois dias depois, Roberta teve o segundo braço amputado.
O Ministério Público de Pernambuco informou que investiga o caso. Segundo o órgão, a ação é acompanhada pelo Núcleo de Direitos LGBT. Segundo o órgão, a instituição atuará para formular e implementar “ações institucionais” com o objetivo de garantir os direitos à liberdade de orientação sexual e à identidade de gênero.