rio de janeiro

Morte de Sérgio Bomba é mais um capítulo da disputa pelo espólio do milicano Zinho; entenda

Sérgio Rodrigues da Costa, conhecido como Sérgio Bomba, era investigado por participar de disputa entre criminosos em Sepetiba

Sérgio Rodrigues da Costa Silva, conhecido como Sérgio BombaSérgio Rodrigues da Costa Silva, conhecido como Sérgio Bomba - Foto: Reprodução

A morte de Sérgio Rodrigues da Costa Silva, conhecido como Sérgio Bomba, na noite do último domingo (21), é mais um capítulo da violenta disputa pelo espólio do miliciano Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho. Investigado por chefiar um grupo paramilitar em Sepetiba, ele foi executado quando estava com a namorada em um quiosque na orla do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste. Imagens do circuito de segurança do estabelecimento mostram a frieza do atirador, que vem caminhando pelo calçadão, se aproxima do casal e dispara contra a vítima. Um dos tiros acertou o olho do miliciano.

No dia anterior, Sérgio Bomba teria escapado de um atentado em Sepetiba, bairro onde controla as extorsões a moradores e comerciantes. O crime no Recreio aconteceu às 20h49. Ele estava com a namorada, que mostrava algo a ele no celular. Logo em seguida, surgiu o matador de camisa branca, bermuda jeans e boné preto. Os disparos são feitos a cerca de um metro de distância. O assassino, que fugiu a pé, usou uma pistola.

"Cenário de fragmentação"
Segundo informações preliminares, ele estaria disputando territórios da Zona Oeste com Rui Paulo Gonçalves Estevão, o Pipito, apontado como o principal sucessor de Zinho, que foi preso em 24 de dezembro. Desde que o miliciano se entregou à Polícia Federal, seus aliados travam uma guerra sangrenta que já deixou quatro mortos e um desaparecido. Dois homicídios são investigados.

"O cenário atual é de fragmentação com o domínio de líderes em localidades setorizadas. Observa-se aparente ascensão dos chamados “frentes” ou “encarregados” na hierarquia, cada qual com seu próprio grupo armado" explicou o coordenador do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio, Fábio Corrêa.

Pipito é um dos poucos integrantes da milícia que continuam leais ao chefe preso. Sérgio Bomba, por exemplo, atuava em Sepetiba havia mais dez anos, antes mesmo de a milícia ser dominada pela família Braga, da qual foi aliado. Ele foi braço direito de Carlos da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, irmão de Zinho, morto em abril de 2017. Três Pontes seria o pioneiro dos três irmãos na milícia da Zona Oeste. Depois de sua morte, Wellington da Silva Braga, o Ecko, assumiu o comando da quadrilha. Em 2017, Sérgio Bomba chegou a ser preso sob a acusação de cobrança de taxa, grilagem de terra e clonagem de veículos roubados.

Zinho deixou do lado de fora outros escudeiros, apesar de não ter apontado herdeiros. Além de Pipito, Antônio Carlos dos Santos Pinto, o Pit, de 44 anos, era indicado como sucessor natural do chefão. Mas, apenas cinco dias após a prisão de Zinho, ele foi emboscado na comunidade Três Pontes, em Paciência. No ataque, o filho dele, de apenas 9 anos, também foi morto, além de um homem identificado como Leonel Patrício de Moura. Um dos responsáveis pelas finanças da quadrilha, Pit tinha duas anotações criminais, uma por formação de quadrilha e outra por porte de arma. Ele chegou a ficar preso de 2019 a 2022.

No mesmo mês, outro ataque deixou dois mortos em Seropédica, cidade controlada por milicianos. Testemunhas contaram que homens que passaram de carro atiraram na direção de Amarildo Rodrigues Salles, de 58 anos, e Lucas Zulche Suhet Salles, de 28 anos, que estavam num bar. Uma terceira pessoa ficou ferida. A Delegacia de Homicídios da Baixada ainda investiga o crime.

O racha na milícia controlada pelos irmãos Braga se intensificou com a morte de Ecko, em junho de 2021. Na época, Zinho assumiu o comando do bando, mas aliados do primeiro não aceitavam o irmão como chefe e deixaram a milícia para criar o próprio bando. Foi o caso de Danilo Dias Lima, o Tandera. Ele saiu da quadrilha perto do fim da era Ecko, mas manteve um pacto de não agressão até a morte do chefe. Assim como Três Pontes, Ecko foi morto pela polícia.

O grupo, que até 2021 dominava 20 bairros da capital e seis cidades da Baixada Fluminense até a Costa Verde, acabou rachado em uma miríade de pequenas quadrilhas: diversos criminosos que ocupavam cargos de “gerentes” na antiga estrutura passaram a reivindicar seu quinhão e disputar território entre si.

À época, Zinho, que era uma espécie de “gerente de finanças”, e Tandera, que foi um dos responsáveis pela expansão da milícia em direção à Baixada, passaram a disputar o posto de novo chefão. A quadrilha, então, se dividiu: Zinho ficou com a Zona Oeste; Tandera, com Nova Iguaçu e Seropédica.

Os dois grupos logo dariam origem a outras subdivisões. Em 2022, Tandera perdeu apoio de seus comparsas — principalmente após a morte de seu irmão, Delson Lima Neto, o Delsinho, durante uma operação policial — e novos cabeças tomaram seu lugar. Tauã de Oliveira Francisco, o Tubarão, é quem chefia o grupo em Seropédica. Gilson Ignácio, o Juninho Varão, está à frente da quadrilha que atua em Nova Iguaçu.

Três grandes grupos
Atualmente há três grandes grupos na corrida pelo domínio: os que são fiéis a Ecko, mas não aceitaram Zinho; os que estão do lado do miliciano preso; e os que não admitem mais o reinado dos integrantes da dinastia Braga. Com a prisão de Zinho, nem na Zona Oeste, região onde a milícia foi fundada e que sempre foi considerada uma espécia de QG, a unidade da quadrilha foi mantida. O desaparecimento de Jairo Batista Freire, o Caveira, outro postulante à sucessão de Zinho, motivou o mais recente racha. Ele teria sido morto, mas o corpo não foi localizado apesar de imagens de Caveira baleado terem circulado pelas redes sociais. Após o episódio, criminosos oriundos de Sepetiba declararam guerra contra o grupo de Pipito, que hoje domina a favela de Antares, no bairro vizinho de Santa Cruz. Os milicianos de Sepetiba acusam Pipito de tentar tomar o controle da milícia à força.

Além disso, chegou até os setores de inteligência dos órgãos de Segurança a notícia de uma reunião para dividir a “herança” do miliciano. A ideia dos criminosos é evitar que o comando das extorsões fique nas mãos de um só dono. Só que o acordo não foi levado adiante até agora.

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