Morte do presidente do Irã: conheça Mojtaba Khamenei, que pretende suceder pai como líder supremo
Acidente aéreo que vitimou Ebrahim Raisi mexeu com os jogos de poder e sucessão política no país
A morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, confirmada pelas autoridades do país nesta segunda-feira, provocou uma imediata discussão sobre o futuro político da nação persa, no curto e no médio prazo. Líder político da linha-dura do regime teocrático, Raisi não ocupava apenas o cargo de presidente do país, como também era cotado como principal nome para suceder o líder aiatolá Ali Khamenei, de 85 anos. Sua morte precoce abre espaço na disputa pelos dois principais cargos do Estado iraniano.
As movimentações políticas para a escolha do novo presidente começam a acontecer em meio ao luto nacional. O vice-presidente da República Islâmica, Mohammad Mokhber, assumiu interinamente o cargo, com a missão de convocar uma nova eleição em 50 dias. Nenhum nome foi apontado como favorito imediato. Quanto à sucessão mais distante — e importante —, porém, a saída de cena de Raisi abriu caminho para o filho de Ali Khamenei, Mojtaba Khamenei, que tem intenção de substituir o pai como líder supremo.
Segundo filho de Khamenei, Mojtaba nunca ocupou um cargo importante na política iraniana — o que não o torna um completo desconhecido na burocracia estatal. Ele coordena o Gabinete do pai, que é de fato a principal autoridade política do país, e tem contatos importantes nos bastidores. Em um artigo publicado no ano passado, a The Economist ressaltava suas relações próximas com Hossein Taib, um poderoso chefe da inteligência da Guarda Revolucionária do Irã.
Apontado há anos como principal adversário de Raisi na sucessão de Khamenei, Mojtaba tem a seu favor credenciais religiosas mais relevantes do que a do presidente falecido. Ele é apresentado pelas mídias iranianas como aiatolá, a mais alta posição clerical dentro do regime teocrático — Raisi era apenas um imã, dentro da esfera religiosa.
O componente religioso é fundamental para o cargo de líder supremo, que no Irã é responsável por tomar todas as decisões que competem a um chefe de estado e comandante-em-chefe das Forças Armadas. Também conhecido como Velayat-e Faqih na teologia islâmica xiita, a função segue e aplica a lei islâmica, só podendo ser ocupada por um teólogo xiita de alto escalão, que deve estar pelo menos no posto de aiatolá – embora seja contestado se o próprio Ali Khamenei alguma vez atingiu esse nível.
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A função se sobrepõe em muitos aspectos à de presidente, que chefia o Poder Executivo e lidera o governo. Dependendo da formação política e da força do presidente, ele acaba influenciando sobre a política estatal e a economia.
Apesar da credencial religiosa para o cargo e o caminho aparentemente livre, com a morte de Raisi, uma nomeação futura de Mojtaba como líder supremo dependeria de alguns fatores e da queda de alguns tabus dentro do Irã. O primeiro deles, a falta de projeção política.
O filho do aiatolá nunca se candidatou a um cargo político no Irã e, apesar das eleições no país não serem consideradas livres, com a repressão sobre a oposição crescendo a cada dia, a falta de algum respaldo de sua popularidade pesa contra ele, considerando que o sistema político-religioso do Irã depende do apoio das massas pelo país que o sustentam.
Outra resistência ao nome de Mojtaba pode surgir das raízes da Revolução Iraniana de 1979. Uma das justificativas para a mobilização que derrubou o governo iraniano do xá Reza Pahlavi era justamente o combate à hereditariedade do antigo regime. Emplacar o filho do atual líder supremo para sucedê-lo poderia ser visto como um golpe às bases da revolução.