VIOLÊNCIA

Motoristas de aplicativo são atraídos para falsas corridas e viram reféns de narcomilícia no Rio

Conforme a Polícia Civil, os crimes são praticados por traficantes que se uniram a milicianos, conhecidos como narcomilicianos. A ação desses grupos é investigada pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ), que já ofereceu denúncia contra sete suspeitos.

Ao chegar no local da corrida, os motoristas foram rendidos por traficantes e levados sob ameaça para o morro.Ao chegar no local da corrida, os motoristas foram rendidos por traficantes e levados sob ameaça para o morro. - Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Leia também

• Acidente na Rodovia Rio-Santos mata vereador de Mangaratiba e deixa cinco feridos, incluindo criança

• APA busca terceiro título da Maratona do Rio de Janeiro neste fim de semana

• Envenenado com brigadeirão: Saiba quem é empresário encontrado morto em apartamento no Rio

Ao menos 20 motoristas de aplicativos foram feitos reféns e sofreram extorsão por traficantes após serem atraídos para falsas corridas na noite da quinta-feira, 30, na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro. Levados para o interior da comunidade, no Morro do Dendê, eles foram ameaçados e tiveram de fazer pagamento em dinheiro ou via Pix para os suspeitos.

Conforme a Polícia Civil, os crimes são praticados por traficantes que se uniram a milicianos, conhecidos como narcomilicianos.

A ação desses grupos é investigada pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ), que já ofereceu denúncia contra sete suspeitos.

De acordo com o relato à polícia, ao chegar no local da corrida, os motoristas foram rendidos por traficantes e levados sob ameaça para o morro.

Lá, eles foram obrigados a pagar uma "taxa de segurança" em valores que variavam de R$ 60 a R$ 150 em espécie, ou via Pix.

Motoristas que não eram da Ilha do Governador tiveram a placa do veículo anotada e foram avisados de que não poderiam trabalhar na região. Caso fossem flagrados lá, também foram alertados que sofreriam um "esculacho", o que, na linguagem do tráfico, significa a humilhação e agressão em público.

O caso está sendo investigado pela 37ª Delegacia de Polícia da Ilha do Governador. Em nota, a Polícia Civil do Rio informou que as "investigações estão em andamento para identificar possíveis suspeitos e esclarecer todos os fatos".

Já a Polícia Militar disse que a participação da população é determinante no combate a crimes como extorsão e exploração clandestina de serviços. Disse ainda que uma parceria com as empresas de aplicativos de transportes permite o uso de um canal de ligação direta de motoristas e passageiros com os operadores do Centro de Controle Operacional da PM para denúncias em tempo real.

Promotoria
Na terça-feira, 28, o MP divulgou ter apresentado denúncia e pedidos de prisão preventiva contra sete integrantes da facção Terceiro Comando Puro (TCP) por extorsão a motoristas de aplicativos, mototáxis e táxis na Ilha do Governador.

Conforme o promotor Sauvei Lai, da 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial da Ilha do Governador e Bonsucesso, os traficantes exigiam pagamento a motoristas de aplicativos, mediante grave ameaça de morte e com emprego de armas de fogo.

Segundo as duas denúncias apresentadas à Justiça, os integrantes da facção TCP controlam o tráfico na Comunidade do Dendê, da Pixunas e na maioria das comunidades da Ilha do Governador.

"Eles expandiram seus negócios ilegais, organizando-se como narcomilícia e passando a cobrar 'taxas', por meio de extorsões contra motoristas de aplicativos, mototáxis e de táxi, dentro da área territorial em que exercem domínio no citado bairro", diz a nota do MP.

Ainda segundo a promotoria, para atuar como motoristas na região, as vítimas eram obrigadas a efetuar pagamentos semanais de R$ 150 e a se cadastrar na 'Cooperativa do Crime' ou na 'Cooperativa da Extorsão', criadas pelos bandidos na Comunidade do Dendê, onde são feitos os pagamentos e os cadastros dos motoristas extorquidos.

Os traficantes passaram a obrigar o uso de adesivos fornecidos por eles para identificar os motoristas cadastrados e que cumprem as exigências dos criminosos.

À 5ª Vara Criminal, foram denunciados cinco suspeitos, entre eles Mario Henrique Paranhos de Oliveira, vulgo 'Neves' ou 'Nem', apontado como mandante e responsável por ordenar as atividades ilícitas, que se encontra preso.

Outros dois suspeitos foram denunciados à 35ª Vara Criminal do Rio. Oliveira foi condenado por participação na chacina que resultou na morte de 12 pessoas, em outubro de 2003. A Justiça ainda analisa os pedidos.

Conforme o promotor, os criminosos repetem o mesmo modus operandi empregado na Ilha do Governador pela facção TCP que, durante muitos anos, foi comandada por Fernando Gomes de Freitas, vulgo 'Fernandinho Guarabu', e Gilberto Coelho de Oliveira, vulgo 'Gil', que eram os líderes do tráfico de drogas no Morro do Dendê e se associaram com o miliciano Antônio Eugênio de Souza Freitas, o 'Batoré'.

Os três foram mortos, em 2019, durante operação policial realizada para detê-los, quando resistiram à prisão.

Ex-policial militar, 'Batoré' havia sido condenado a 317 anos de prisão por organização criminosa, lavagem de dinheiro, extorsão, incêndio e falsidade ideológica, segundo o Tribunal de Justiça do Rio.

A reportagem entrou em contato com as empresas 99 e Uber e aguarda retorno.

O Estadão entrou em contato com a defesa de Mario Henrique Paranhos de Oliveira e ainda não obteve retorno.

A reportagem não conseguiu contato com defensores que atuaram nos casos de Fernando Freitas, Gilberto Oliveira e Antônio Freitas, deixando o espaço aberto para manifestação.

 

 

Veja também

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela
Venezuela

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios
Queimadas

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios

Newsletter