MP recebeu 690 denúncias sobre influencers que deram banana e macaco de pelúcia para crianças negras
Relatos foram enviados para análise da 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada da Capital
A Ouvidoria do Ministério Público do Rio de Janeiro recebeu, até o momento, 690 comunicações com denúncias relativas ao caso das influenciadoras que se filmaram entregando uma banana e um macaco de pelúcia para crianças negras. Os relatos foram enviados para 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada da capital para análise do fato e adoção das medidas cabíveis.
Kérollen Cunha e Nancy Gonçalves já eram investigadas pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). Mãe e filha têm um canal no qual publicam vídeos juntas e já haviam sido criticadas por humilharem um motorista e por fazerem o homem comer larvas, em outras gravações.
A especialista em Direito antidiscriminatório Fayda Belo denunciou as duas influencers, nesta terça-feira. A advogada afirma que o vídeo com as crianças apresenta o chamado “racismo recreativo”, que ocorre quando alguém usa de “discriminação contra pessoas negras com intuito de diversão”.
A Polícia Civil do Rio afirmou, nesta quarta-feira, que os vídeos serão analisados e que outras diligências estão em andamento para identificar os envolvidos e apurar os fatos. Não há informações sobre o local e a data exatos dos registros, o que também vai ser apurado pela polícia.
Nas imagens, Kérollen conversa com um menino negro em uma calçada e questiona se ele gostaria de receber um presente ou R$ 10. Ele opta pelo presente, mas, ao perceber que se tratava de uma banana, responde “só isso?”, afirma que não gostou e deixa o vídeo da influencer. Em outro registro, ela aborda uma menina na rua e faz uma proposta similar, oferecendo a opção de a criança escolher entre R$ 5 ou uma caixa. A criança opta pelo “presente”, recebe das mãos da influencer e abre, vendo se tratar de um macaco de pelúcia. Aparentando ter ficado feliz, ela abraça o brinquedo e agradece a influencer.
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A advogada Fayda Belo explica que os vídeos também violaram o Estatuto da Criança e do Adolescente ao expor as crianças.
— Você pode receber uma pena de até quase oito anos de cadeia [...]. O artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente diz que é inviolável a integridade moral do menor, bem como a sua imagem deve ser preservada. [...] O [artigo] 18 diz que é proibido expor menores de idade a constrangimento, a vexame, a humilhação, a ridicularização em público — destaca Fayda.
Procuradas pela reportagem, as influencers não responderam aos contatos. Após a repercussão do caso, a conta delas no Instagram impediu que novos comentários fossem feitos nas publicações. Desde a repercussão dos vídeos, a conta da dupla no Instagram publicou apenas um story, no qual está escrito o versículo bíblico Isaías 43:25: "Mas sou eu, eu mesmo, que apago os seus pecados por amor de mim, e que nunca mais se lembra deles".