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INFECÇÃO

Mpox: nova cepa causa primeiro surto de transmissão local fora da África

Reino Unido registra quatro casos em um mesmo domicílio

Mpox é uma doença zoonótica viralMpox é uma doença zoonótica viral - Foto: Débora Barreto/Fiocruz

A Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKSHA, da sigla em inglês) confirmou um novo caso da nova cepa mais grave da mpox, o Clado 1b, na mesma casa em que outras três pessoas já haviam sido diagnosticadas com a infecção, levando o total de registros para quatro no país.

O surto é o primeiro com transmissão local causado pela nova variante fora do continente africano, onde a mpox tem se disseminado e provocado elevados números de casos e óbitos, especialmente na República Democrática do Congo (RDC). O cenário motivou a Organização Mundial da Saúde ( OMS) a decretar emergência internacional em saúde pública, o status mais alto de alerta do órgão, em agosto.

Segundo a UKSHA, o novo paciente diagnosticado está recebendo cuidados em uma unidade especializada do hospital Guy’s and St Thomas’ NHS Foundation Trust, em Londres, capital da Inglaterra. O indivíduo já estava isolado desde que foi identificado como um contato próximo do primeiro infectado pela mpox no Reino Unido.

“O mpox é muito infeccioso em domicílios com contato próximo e, portanto, não é inesperado ver mais casos na mesma casa. O risco geral para a população do Reino Unido continua baixo. Estamos trabalhando com parceiros para garantir que todos os contatos dos casos sejam identificados e contatados para reduzir o risco de disseminação”, diz Susan Hopkins, conselheira médica-chefe da autoridade sanitária, em nota.

De acordo com a UKHSA, testes e vacinas são ofertados aos contatos próximos dos infectados de acordo com a necessidade avaliada pelos especialistas. Os dois casos anteriores foram confirmados no dia 4, e também foram encaminhados para a unidade especializada do mesmo hospital.

Já o primeiro paciente foi identificado em 30 de outubro em um paciente que havia viajado recentemente para países da África onde há casos comunitários da nova cepa – a UKHSA não detalhou quais. O paciente também foi hospitalizado.

Na ocasião, a agência afirmou ainda que, embora as evidências existentes sugiram que o Clado 1b cause doença mais severa, a agência monitora para entender de fato quais são a gravidade, a transmissão e as medidas de controle eficazes. “Inicialmente, trataremos o Clado Ib como uma doença infecciosa de alta consequência (HCID) enquanto aprendemos mais sobre o vírus”, afirma.

Em comunicado nesta quarta-feira, quando ainda eram três casos pela variante no Reino Unido, o diretor regional da OMS para Europa, Hans Kluge, disse que “a transmissão local do Clado 1b da mpox deve ser um incentivo para que os sistemas de saúde em toda a nossa região aumentem suas medidas de vigilância e se preparem para o rastreamento rápido de contatos de casos suspeitos e confirmados”.

De acordo com a OMS, “o surgimento de novos patógenos é um subproduto do nosso mundo interconectado, e não é inesperado que contatos próximos e de alto risco de uma pessoa infectada possam também contrair mpox”.

O Reino Unido foi o décimo país a registrar um caso da nova cepa da mpox, e o quinto fora do continente africano, onde a doença é endêmica. A variante foi identificada na Alemanha no último dia 22 de outubro. De acordo com a OMS, a infecção ocorreu também em um país africano atingido pela doença.

A Suécia registrou um caso logo depois que a OMS decretou emergência, na capital Estocolmo, em um paciente que esteve numa região da África onde “há um grande surto do Clado 1 da mpox”, sem especificar qual.

Além do Reino Unido, da Alemanha e da Suécia, a cepa foi confirmada em amostras na República Democrática do Congo (RDC), epicentro do novo surto; Índia; Tailândia; Quênia; Burundi; Ruanda e Uganda.

A mpox é uma infecção viral endêmica em alguns países da África Central e Ocidental e semelhante à varíola humana erradicada em 1980. Ela é dividida em duas linhagens principais, o Clado 1 e o Clado 2. Em 2022, a doença foi registrada pela primeira vez fora do continente africano, causando a disseminação global que levou a OMS a decretar emergência na época.

A cepa responsável pela propagação na época foi o Clado 2, que é mais brando, com uma letalidade de cerca de 1%. Sua maior transmissão foi associada ao vírus ter adquirido a capacidade de se disseminar via relações sexuais, numa mutação que recebeu o nome de Clado 2b. Essa versão do patógeno continua a circular e causar casos pelo planeta, embora eles tenham caído consideravelmente desde 2022.

No fim do ano passado, porém, a OMS identificou que uma nova versão do Clado 1, linhagem cuja mortalidade chega a 10% e que já circulava principalmente na República Democrática do Congo (RDC), também passou a se disseminar via redes de transmissão sexual e ser detectada em novos países. Essa nova variante foi nomeada de Clado 1b e ligada à explosão de casos e mortes na RDC neste ano.

De acordo com a última atualização da OMS, até o dia 20 de outubro o país registrou sozinho 43,5 mil casos prováveis de mpox e 1.031 mortes. Para comparação, os números representam a vasta maioria do identificado em todo o continente africano: 53,1 mil casos e 1.046 óbitos. E a doença segue com tendência de alta.

Na época em que a Suécia identificou o primeiro registro, o diretor regional para Europa da OMS disse que "era apenas uma questão de tempo" até que o Clado 1 se espalhasse para outros países. "Como observamos anteriormente, era apenas uma questão de tempo até que o Clado I da mpox (...) fosse detectado em outras regiões da OMS, dado o nosso mundo interconectado", escreveu em publicação no X.

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