SAÚDE

Mpox X varíola do macaco: há diferença entre elas?

Ambas são o mesmo doença; mudança na nomenclatura do vírus e de suas cepas foi oficializada em 2022 para evitar associação incorreta com a espécie e estigma em relação aos países africanos

Monitoramento de novos casos de Mpox se intensifica Monitoramento de novos casos de Mpox se intensifica  - Foto: SES/Divulgação

Nesta quarta-feira, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, seguiu o conselho do Comitê de Emergência do órgão e decretou emergência de saúde pública de importância internacional (ESPII) em decorrência do avanço da mpox em países africanos e da identificação de uma nova cepa mais grave do vírus.

É a segunda vez que a organização instaura o nível mais alto de alerta para a doença - em 2022, diante da disseminação global inédita, a OMS também determinou que era um cenário de emergência, medida que durou até 2023. Mas, na época, o alarme era direcionado à "varíola dos macacos", diagnóstico que recebia esse nome por ser da mesma família da varíola humana, erradicada em 1980.

 

Mas afinal, qual a diferença entre "varíola do macaco" e mpox? Na realidade, não há distinção, já que ambas são a mesma doença. A mudança no nome foi parte de um esforço da OMS, em novembro de 2022, de alterar a nomenclatura do diagnóstico, do vírus e de suas cepas.

O objetivo foi adotar termos "não discriminatórios" em relação aos países africanos onde a mpox é endêmica e ao macaco, que não é principal transmissor da doença, apenas foi a espécie em que o vírus foi isolado pela primeira vez, em laboratório.

Em nota na época, a OMS destacou que uma "linguagem racista e estigmatizante online, em outros ambientes e em algumas comunidades foi observada e relatada" frente à propagação global da mpox. "Em várias reuniões, públicas e privadas, vários indivíduos e países levantaram preocupações e pediram à OMS que propusesse uma maneira de mudar o nome", disse o órgão.

Para chegar ao novo nome, a OMS ouviu diversos órgãos consultivos, com especialistas que representaram autoridades de 45 países diferentes. "As considerações para as recomendações incluíram justificativa, adequação científica, extensão do uso atual, pronúncia, usabilidade em diferentes idiomas, ausência de referências geográficas ou zoológicas e facilidade de recuperação de informações científicas históricas", disse a entidade.

Entenda a origem dos nomes e as mudanças
As críticas ao nome começaram devido à menção ao macaco. Assim como a gripe espanhola não surgiu na Espanha, a varíola dos macacos não tem os animais como hospedeiros da doença. Porém em 1958, quando o vírus foi isolado pela primeira vez, cientistas dinamarqueses utilizaram um macaco cinomolgo (Macaca fascicularis), espécie natural da Ásia, para conseguir o feito - o que acabou criando o nome "monkeypox". No entanto, os principais animais que carregam o vírus são roedores.

No Brasil, o nome "monkeypox" passou a ser utilizado para o vírus, enquanto a tradução mais próxima, "varíola dos macacos" foi adotada para a doença. Essa associação incorreta com o animal chegou a ser encarada como a causa de envenenamentos e ferimentos a macacos de uma reserva natural em Rio Preto, no Estado de São Paulo, em 2022, logo após casos de mpox terem sido diagnosticados na região. Na época, a OMS lamentou o ocorrido e reforçou que o surto atual é causado pela transmissão entre humanos.

Além do problema com o nome do animal, em junho de 2022 cerca de 30 especialistas ao redor do mundo fizeram uma publicação no virological.org – site em que virologistas compartilham informações sobre vírus em tempo real – pedindo a alteração tanto da doença, como das variantes do vírus, devido ao estigma criado em relação à África.

Isso porque o vírus da mpox é dividido em duas cepas principais, que se chamavam clado do Congo, variante predominante na África Central, e Clado da África Ocidental, predominante na região da Nigéria. Porém, com a disseminação intercontinental a partir de 2022, os cientistas argumentaram que os termos reforçam uma associação da doença somente à África, restrição que não é mais realidade.

Por isso, as cepas foram nomeadas, respectivamente, para clado 1 e clado 2. A linhagem 2, mais branda, é a que foi responsável pelo surto em 2022. Agora, a OMS identificou uma nova versão do clado 1, que chega a ser 10 vezes mais letal, chamada de 1b e que tem se disseminado de forma mais ampla e por meio de relações sexuais.

O movimento de renomear as cepas é semelhante ao realizado em 2021 quando a OMS passou a adotar letras gregas para as variantes da Covid-19, no lugar da referência ao país em que ela foi identificada. Na época, a epidemiologista-chefe da OMS e líder da resposta ao novo coronavírus, Maria Van Kerkhove, destacou que “nenhum país deve ser estigmatizado por detectar e relatar novas cepas”. Foi, por exemplo, quando a antiga “variante indiana” passou a ser chamada de variante Delta.

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