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'Muda essa política de atirar', pedem pais da menina Ágatha a Witzel

Para o casal, Witzel precisa entender que "nem todo mundo que está de moto, boné ou mochila é bandido"

Agatha Vitória Sales Félix, 8, morreu na madrugada deste sábado (21) no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, bairro da zona norte do Rio de JaneiroAgatha Vitória Sales Félix, 8, morreu na madrugada deste sábado (21) no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, bairro da zona norte do Rio de Janeiro - Foto: Reprodução/Instagram

Visivelmente abalados, os pais da menina Ágatha Félix, 8, morta ao ser atingida por uma bala perdida no Complexo do Alemão, no Rio, falaram nesta terça-feira (24) sobre a tragédia.

Vanessa Francisco Sales e Adegilson Félix pediram justiça e mandaram um recado ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC): "Muda essa política de atirar. O que aconteceu com a minha filha pode acontecer com a vida de outras pessoas também", disse Adegilson, segurando a mão da mulher, em entrevista ao programa "Encontro com Fátima Bernardes" (TV Globo).

Para o casal, Witzel precisa entender que "nem todo mundo que está de moto, boné ou mochila é bandido", disse o pai de Ágatha. A criança foi baleada nas costas quando estava dentro de uma Kombi com a mãe, a caminho de casa, na noite da última sexta (20), em uma localidade no alto do Complexo do Alemão.

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Parentes acusam a polícia de ter feito o disparo, com o objetivo de acertar um motociclista, mas o tiro atingiu a menina. A polícia diz que foi atacada por criminosos e houve troca de tiros.

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios. Antes da tragédia, a família de Ágatha contou que pensava em deixar a parte mais alta do morro do Alemão por causa das constantes trocas de tiros entre criminosos e a polícia.

O plano do casal, segundo Vanessa Sales, era juntar dinheiro e comprar uma casa na parte baixa da comunidade. A mãe da menina se lembra que a família se refugiava no box do banheiro quando as rajadas de tiro irrompiam na comunidade.

Eram essas pausas forçadas na rotina que mais assustavam a criança. "Teve um dia que a gente se escondeu no box do banheiro. Eu peguei um edredom e um travesseiro. E duas vezes naquela semana ela ficou muito assustada e me abraçou muito forte", lembrou. "Nesses dias, ela ficava muito chateada porque não conseguia ir à escola, às aulas de xadrez."

Segurando nas mãos a boneca da Mônica, brinquedo predileto da filha, Vanessa disse que Ágatha era "uma menina inteligente, perfeita e de muito amor".
"Hoje eu estou aqui e sei que muitas mães estão chorando comigo. É isso que está me acalentando. E saber que meu anjinho foi pro céu e, de lá, está secando as minhas lágrimas agora", disse a mãe.

Witzel culpa tráfico
Witzel disse na sua primeira entrevista sobre a morte da menina Ágatha, na segunda (23), que o caso não pode ser utilizado como "palanque eleitoral" ou com o objetivo de obstruir votações importantes como o pacote anticrime do ministro da Justiça Sergio Moro.

"É indecente usar um caixão como palanque, especialmente de uma criança", afirmou Witzel, que permaneceu em silêncio a respeito do caso durante o fim de semana. O governador afirmou que passou os últimos dias conversando com autoridades como Moro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e deputados.

Witzel atribuiu a morte de Ágatha ao tráfico de drogas, que, segundo ele, utiliza os moradores das comunidades como escudo contra a polícia, e os usuários dessas substâncias. "Quem fuma maconha e cheira cocaína ajudou a apertar este gatilho", disse.

O governador afirmou ainda que a polícia age sempre na legítima defesa da sociedade e que os traficantes provocam as forças de segurança. Com um discurso em defesa das polícias, Witzel não chegou a comentar espontaneamente a possibilidade de que um PM tenha sido responsável pela morte de Ágatha. Moradores e familiares dizem que a polícia tentou atingir um motociclista e acabou acertando a criança.

Confrontado pela imprensa sobre a questão, ele respondeu: "Em momento algum tenho tido discurso brando com quem quer que seja. Eu não tenho bandido de estimação, seja de distintivo, seja de farda. A lei é para todos."

Questionado sobre o que diria para a família da menina, Witzel respondeu que lamenta profundamente a perda. "O meu sentimento é o sentimento de pai, tenho filha de nove anos (...) Você acha que não penso? Eu não sou um desalmado, sou um cara de sentimentos."

Witzel voltou a defender que sua política de segurança é bem-sucedida, com base na redução do número de homicídios dolosos. De janeiro a agosto de 2019 foram 2.717, uma queda de 21% em relação ao mesmo período de 2018.

Alardeando a redução do número de homicídios, o governador não citou que as mortes por intervenção de agentes do estado subiram de 1.075, de janeiro a agosto de 2018, para 1.249 no mesmo período de 2019 -um aumento de 16%.

O secretário de estado da Polícia Militar Rogério Figueiredo, presente na entrevista, disse que a morte de Ágatha foi um evento isolado e que os policiais militares são heróis do Rio de Janeiro.

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