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Chuvas

Mudanças climáticas: mais inundações ameaçam o Grande Recife

A terceira matéria da séria sobre inundações mostra que as mudanças climáticas tendem a piorar as inundações no Grande Recife.

Redução do intervalo entre temporais tem relação direta com as mudanças climáticas, avalia especialistaRedução do intervalo entre temporais tem relação direta com as mudanças climáticas, avalia especialista - Foto: Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

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Pernambuco precisa urgentemente retomar o planejamento para conter inundações na Região Metropolitana do Recife, conforme especialistas ouvidos pela reportagem. E a Barragem do Engenho Pereira é uma das obras mais urgentes, junto com outras ações estruturais que evitem enchentes, alagamentos e deslizamentos de encostas. E isso se faz necessário diante das mudanças climáticas, que estão tornando as chuvas ano a ano mais intensas e promovendo constantes transbordamentos do rio Jaboatão. 

“A ocorrência de temporais tende a acontecer em intervalos cada vez menores”, alerta o engenheiro pernambucano Kleiton Lins, diretor técnico da Moura Lins Engenharia e especialista em Infraestrutura de Transportes e Hidrologia. Segundo ele, basta observar a ocorrência das tempestades nos últimos anos: 2005, 2009, 2015, 2022, 2023. 

Segundo Kleiton Lins, a redução do intervalo entre os temporais tem relação direta com as mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global. “Observamos uma alteração na distribuição das chuvas ao longo do tempo, pelo menos, nos últimos 30 anos. O índice de precipitação pluviométrica que seria a média histórica para uma década cai agora em intervalos menores”, explica Kleiton Lins. 

“Em maio de 2022, choveu 686 mm em dois dias no Recife. No ano, historicamente, chove de 1.800 mm a 2.000 mm. Ou seja, mais de 30 % da chuva de um ano caiu em 2 dias”, destaca o arquiteto e urbanista Carlos Frederico Moreira Lima, sócio na Moreira Lima Consultores & Projetos, empresa que atua com desenvolvimento urbano em todo o Nordeste. 

“A retomada do planejamento para barragens é um desafio que precisa ser enfrentado pela sociedade, particularmente pelos poderes públicos, com obras para evitar a recorrência de inundações e tragédias, mas com o engajamento de todos os cidadãos. É preciso coibir ações que agravam os problemas ambientais, como o descarte de entulho e resíduos nos cursos d’água”, pontua Moreira Lima.

Os números oficiais evidenciam a dimensão do problema e a necessidade de que todos os setores da sociedade atuem juntos. Para se ter uma ideia, no dia 30 de junho passado, algumas localidades do Grande Recife, como o Cabo de Santo Agostinho e Itamaracá, chegaram a registrar 100 milímetros de chuvas em 12 horas. O volume correspondeu a um terço do previsto pela Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) para todo o mês.

Os dados da Apac referentes a maio do ano passado, quando ocorreu a maior catástrofe natural da história de Pernambuco, com temporais que mataram centenas de pessoas e desabrigaram milhares de famílias, são ainda mais assustadores. 

Em maio de 2022, Jaboatão dos Guararapes, onde houve o maior número de mortes, algumas localidades chegaram a registrar 788 milímetros, volume 150% superior à média histórica. Em Moreno, o acumulado mensal atingiu 696 milímetros, 162% a mais que a média. No Recife, choveu 109% acima do considerado normal.
 

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