SAÚDE

Mudanças entre lares na infância contribuem para depressão, descobre estudo

Feita com mais de 1 milhão de dinamarqueses, a pesquisa descobriu que mudanças frequentes na infância tiveram um impacto maior do que a pobreza no risco de saúde mental em adultos

Criança em casaCriança em casa - Foto: Pexels

Nas últimas décadas, os profissionais de saúde mental começaram a rastrear “experiências adversas na infância” – geralmente definidas como abuso, negligência, violência, dissolução familiar e pobreza – como fatores de risco para transtornos posteriores.

Mas e se outras coisas forem igualmente prejudiciais?
Pesquisadores que conduziram um grande estudo com adultos na Dinamarca, publicado na revista JAMA Psychiatry, encontraram algo que não esperavam: adultos que se mudaram frequentemente na infância têm um risco significativamente maior de sofrer de depressão do que seus colegas que permaneceram em uma comunidade.

Para Clive Sabel, professor da Universidade de Plymouth e autor principal do estudo, na verdade, o risco de se mudar frequentemente na infância era significativamente maior do que o risco de viver em um bairro pobre.

— Mesmo se você viesse das comunidades mais pobres em termos de renda, não se mudar e ser ‘fixo’ protegeria sua saúde — afirmou Sabel, geógrafo que estuda o efeito do ambiente nas doenças.

 

— Vou inverter a situação dizendo que, mesmo que você venha de um bairro rico, mas tenha se mudado mais de uma vez, suas chances de depressão são maiores do que se você não tivesse se mudado e viesse de um bairro pobre — comparou o geógrafo.

O estudo, uma colaboração das universidades de Aarhus, Manchester e Plymouth, incluiu todos os dinamarqueses nascidos entre 1982 e 2003, mais de 1 milhão de pessoas. Desses, 35.098, ou cerca de 2,3%, receberam diagnósticos de depressão de um hospital psiquiátrico.

Dicas para pais ajudarem seus adolescentes em dificuldade:

Você está preocupado com seu adolescente? Se você teme que seu adolescente possa estar passando por depressão ou tendo pensamentos suicidas, há algumas coisas que você pode fazer para ajudar. Christine Moutier, diretora médica da American Foundation for Suicide Prevention, sugere estes passos.

Procure por mudanças. Note alterações nos hábitos de sono e alimentação do seu adolescente, assim como qualquer problema que ele(a) possa estar tendo na escola, como queda nas notas. Observe explosões de raiva, mudanças de humor e perda de interesse em atividades que costumam amar. Além disso, fique atento às postagens deles nas redes sociais.

Mantenha as linhas de comunicação abertas. Se você notar algo incomum, inicie uma conversa. No entanto, seu filho pode não querer falar. Nesse caso, ofereça ajuda para encontrar uma pessoa de confiança com quem possa compartilhar suas dificuldades.

Busque apoio profissional. Um filho que expressa pensamentos suicidas pode se beneficiar de uma avaliação de saúde mental e tratamento. Você pode começar conversando com o pediatra do seu filho ou um profissional de saúde mental.

Em uma emergência. Se você tem uma preocupação imediata pela segurança do seu filho, não o deixe sozinho. Ligue para uma linha de prevenção ao suicídio. Tranque quaisquer objetos potencialmente letais. Crianças que estão ativamente tentando se machucar devem ser levadas ao pronto-socorro mais próximo.

Recursos. Se você está preocupado com alguém em sua vida e não sabe como ajudar, estes recursos podem oferecer orientação: National Suicide Prevention Lifeline – envie uma mensagem ou ligue para 988; Crisis Text Line – envie TALK para 741741; American Foundation for Suicide Prevention.

Como esperado, adultos que cresceram em bairros mais pobres tinham mais chances de sofrer de depressão, com um aumento de risco de 2% para cada queda no nível de renda do bairro.

Mais surpreendente foi o aumento do risco para adultos que se mudaram mais de uma vez entre as idades de 10 e 15 anos, descobriram os pesquisadores: eles tinham 61% mais chances de sofrer de depressão na idade adulta em comparação com seus colegas que não se mudaram, mesmo após controlar uma série de outros fatores a nível individual.

O estudo não tentou encontrar razões para essa associação, mas Sabel especulou que a mudança foi prejudicial para as redes sociais das crianças, exigindo que elas substituíssem seus grupos de amigos, times esportivos e comunidades religiosas – todas as formas do que ele chama de “capital social”.

— É em uma idade vulnerável – naquela realmente importante – que as crianças precisam fazer uma pausa e recalibrar. Achamos que nossos dados apontam para algo em torno da interrupção na infância que realmente não examinamos o suficiente e não entendemos — constatou Sabel.

Perdendo a conexão
Outra surpresa foi que o impacto negativo de uma mudança não foi mitigado pela mudança para uma área mais rica. Adultos que se mudaram de bairros dos 20% mais pobres para vizinhanças dos 20% mais ricos tiveram um risco 13% maior do que seus colegas que não se mudaram. Já aqueles que se mudaram dos bairros ricos para os pobres tiveram um risco 18% maior do que seus colegas que não se mudaram.

Sabel ainda disse que isso ressaltou a importância do capital social que se desenvolve dentro de uma comunidade estabelecida. Segundo o geógrafo, jovens em bairros desfavorecidos ainda estão “inseridos naquela comunidade”. Mudando para um bairro mais rico, “você tem toda a desvantagem” de uma criação mais pobre, além do estigma de não se encaixar.

Ainda de acordo com Sabel, uma aplicação política clara é para a gestão de crianças sob cuidado do estado. Os dados sugerem que, para este grupo vulnerável, mudanças frequentes entre lares adotivos ou residências deveriam ser evitadas. Para ele, era mais difícil aconselhar os pais, mas aconselhou que, ao contemplar uma mudança, os pais deveriam considerar o impacto sobre as crianças.

— A literatura aponta claramente que ter estabilidade na infância, principalmente nos primeiros anos, é muito importante — ressaltou.

Não está claro se as descobertas dinamarquesas são aplicáveis aos americanos, que têm alta mobilidade geográfica e tendem a fazer mudanças de longa distância. O Censo dos Estados Unidos, por exemplo, estima que um americano médio pode esperar se mudar 11,7 vezes ao longo de sua vida; a mobilidade ao longo da vida, na maior parte da Europa, é uma fração disso.

Shigehiro Oishi, professor de psicologia na Universidade de Chicago e autor de um estudo de 2010 sobre os efeitos a longo prazo de mudanças frequentes na infância, disse que o efeito negativo das mudanças dentro dos EUA pode ser maior do que dentro da Dinamarca, já que as diferenças no currículo e na qualidade da instrução provavelmente seriam maiores.

Ele chamou o artigo de “um estudo de referência” e “muito metodologicamente forte”. Ainda de acordo com Oishi, os autores deveriam ter examinado mais de perto os mecanismos causais ou os fatores moderadores que poderiam explicar por que algumas crianças (e não outras) foram negativamente afetadas por mudanças frequentes.

O próprio estudo de Oishi, que acompanhou 7.018 adultos por 10 anos, descobriu que o impacto de se mudar frequentemente na infância era pior entre introvertidos, que relataram menor bem-estar e satisfação com a vida e tiveram maior risco de morte durante o estudo.

O professor, então, disse que os pais de crianças introvertidas deveriam ser alertados sobre os riscos a longo prazo de mudanças na infância. Embora mudar de lar seja geralmente contada entre as 40 experiências de vida mais estressantes, segundo ele, sua pesquisa sugere que o processo ocupa uma posição mais alta para crianças, entre as 5 ou 10 mais irritantes.

Ele acrescentou que, como a mobilidade residencial não é uma doença, seu estudo recebeu pouco financiamento para pesquisa.

Em 2018, uma pesquisa conseguiu estabelecer causalidade acompanhando famílias em habitações públicas que foram divididas em dois grupos: um que permaneceu em moradias públicas e outro que usou vouchers de subsídio de aluguel para se mudar para bairros mais ricos.

O estudo, que acompanhou 2.800 jovens em cinco cidades dos EUA, revelou que a mobilidade levou a maior delinquência entre meninos entre 13 e 16 anos, mas não para meninos(a) mais novos, sugerindo que a adolescência média é um período particularmente sensível.

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