Mulheres ''batem ponto'' dia e noite em fast food no Leblon há meses, sem trabalhar lá; entenda
Segundo delegada, prática não configura crime
Um fato inusitado está despertando a curiosidade de muitos nas redes sociais e nos arredores da Avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon, na Zona Sul do Rio. Duas mulheres, que se dizem mãe e filha, estão vivendo em uma franquia de fast food com três malas de grande porte e outras menores.
Em um vídeo com mais de 2 mil curtidas e 500 comentários, as versões são muitas. No entanto, as protagonistas desta história dizem que dormem em hotéis nas redondezas e que passam apenas as horas no estabelecimento. Tudo teria começado quando elas tiveram que sair de um apartamento alugado, em Copacabana. Nenhuma das duas quis se identificar.
— Somos do Rio Grande do Sul, mas moramos há oito anos no Rio. Estamos procurando um apartamento para alugar, mas ainda não encontramos, então ficamos aqui porque é onde nos sentimos mais seguras — disse a mãe, de 64 anos, com um sotaque gaúcho. Ela se diz designer de moda e professora de balé, já a filha, de 31, estuda para concurso público.
Muitos que passam pela loja não deixam de olhar ou até param para tirar fotos da cena pouco comum. Desconfortáveis com a exposição, mãe e filha disseram que foram à delegacia prestar queixa contra os curiosos, mas caem em contradição.
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— Elas estão aqui desde 19 de fevereiro — crava um funcionário do estabelecimento, que também prefere não se identificar. — Quando elas chegaram para ficar, era carnaval e eu estava de plantão. Entram na hora em que abrimos, às 10h, e ficam até a hora em que fechamos, às 5h do dia seguinte. Tem vezes que chegam a cochilar nas mesas. Consomem todos os dias e pagam sempre no cartão. São clientes.
A 14ª DP do Leblon confirma que as mulheres registraram uma ocorrência, mas por um motivo diferente: contra um suposto funcionário da lanchonete que teria as chamado de “desocupadas”. Sobre elas não saírem do fast food, a delegada Thaianne Moraes afirma que a prática não configura crime, ao menos que o estabelecimento se sinta lesado.
— Não podemos criminalizar questões sociais sem elas adentrarem à esfera penal. Só podemos dar início a uma investigação caso a loja notifique — esclarece a delegada.
Preocupados com a situação, moradores acionaram a assistência social do município, outro ponto que desagradou as mulheres:
— Não precisamos de ajuda. Temos dinheiro, não estamos passando necessidade — diz a mãe.
A Secretaria municipal de Assistência Social (SMAS) afirma que respondeu a uma solicitação e compareceu nos dias 10 e 16 de março ao local, onde encontraram mãe e filha. E que "apesar de terem oferecido vagas em abrigos e outros serviços disponíveis na rede de apoio, elas recusaram prontamente".