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Mulheres indianas sofrem assédio por homens que utilizam câmeras e drones que monitoram animais

O caso mais alarmante citado foi a divulgação, nas redes sociais, por alguns agentes florestais, de uma fotografia de uma mulher autista enquanto ela fazia suas necessidades no bosque.

Militar ucraniano utiliza drone com sistema que inclui óculos de realidade virtualMilitar ucraniano utiliza drone com sistema que inclui óculos de realidade virtual - Foto: Genya Savilov/AFP

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Mulheres indianas estão sofrendo assédio e intimidação por homens que utilizam câmeras e drones supostamente destinados a monitorar a vida selvagem, alertaram pesquisadores nesta segunda-feira. Trishant Simlai, da Universidade de Cambridge, entrevistou 270 mulheres que vivem próximas à reserva de tigres de Corbett, no norte da Índia.

O caso mais alarmante citado foi a divulgação, nas redes sociais, por alguns agentes florestais, de uma fotografia de uma mulher autista enquanto ela fazia suas necessidades no bosque. Para as mulheres das aldeias da região, esse bosque é um espaço de "liberdade e expressão", longe dos homens, em uma "sociedade muito conservadora e patriarcal", explica Simlai à AFP.

Ali, elas podem cantar, conversar sobre temas tabu, como sexualidade, ou beber álcool e fumar enquanto colhem ervas e lenha para suas casas. No entanto, a instalação de câmeras e gravadores, além do uso de drones para monitorar e proteger tigres, elefantes e outros animais da área, teve um "impacto desproporcional" sobre essas mulheres, afirma o pesquisador.

Em alguns casos, as mulheres precisam se abrigar, pois os drones são deliberadamente lançados em sua direção, de acordo com o estudo publicado na revista Environment and Planning F. A pesquisa também relata o caso de um guarda florestal que, ao flagrar um casal em um momento de intimidade por meio de uma das câmeras instaladas, "alertou imediatamente a polícia".

Uma das entrevistadas explicou que esses dispositivos reprimem seus comportamentos "por medo de serem fotografadas ou gravadas em momentos inoportunos". O mau uso dessa tecnologia pode até ser contraproducente em relação ao objetivo inicial de proteger a fauna ameaçada.

Após a divulgação da fotografia da mulher autista, homens da aldeia dela "destruíram e incendiaram" todas as câmeras que encontraram, relatou um deles.

Entre o homem e o tigre
Para evitar as câmeras, as mulheres se aprofundam mais no bosque, que abriga uma das populações de tigres mais densas do mundo. Elas também cantam menos para não atrair a atenção dos felinos. Uma das entrevistadas revelou que o medo das câmeras a fazia explorar áreas mais remotas da floresta. Este ano, ela foi morta por um tigre, afirmou Simlai.

Por outro lado, em algumas ocasiões, esses sistemas trouxeram benefícios às mulheres. O estudo menciona o caso de uma mulher que, "sempre que seu marido a agredia, corria para se posicionar na frente de uma câmera, impedindo-o de persegui-la".

Embora as tecnologias de vigilância ambiental tenham efeitos positivos na conservação da fauna, Simlai defende que as comunidades locais sejam informadas e envolvidas no uso desses dispositivos. Rosaleen Duffy, especialista em ecologia da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, afirmou que "infelizmente" não ficou surpresa com os resultados do estudo.

"O que me surpreende é que ecologistas acreditem que a tecnologia pode ser introduzida em um vazio social, político e econômico", disse à AFP.

Por isso, ela pede regras claras sobre o que pode e o que não pode ser feito com essas ferramentas, "e consequências igualmente claras para aqueles que as utilizarem de forma inadequada".

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