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Mulheres negras de Paraty, almas adornadas

Sesc dá visibilidade a um movimento de mulheres negras do Estado do Rio de Janeiro.

ParatyParaty - Foto: Carla Batista/divulgação

Caminhando pelas ruas de Paraty neste verão você pode se deparar com uma mostra exemplar. #AlmAdornada. Exposição que é como um espelho jogado ao mar, no qual se mirasse Yemanjá. Mulheres negras que saem das águas e nos impressionam pelo poder e beleza refletidos pelas suas imagens. Fotos de peles negras, aveludadas, com brilho irisado pelo sal e pela lida diária, adornadas com conchas e estrelas. Parece que as ondas dos mar se criam a partir do trabalho de suas mãos. Retratos do reconhecimento sublime à força que existe em cada uma delas, desde que se juntaram, a partir do momento que se despiram para incomodar o olhar das pessoas acostumadas ao branqueamento historicamente forçado.

Naquelas pequenas salas ficamos sabendo como nasceu o Coletivo de Mulheres Pretas de Paraty, a partir do Encontro Mãe Preta: aonde estão as pretas de Paraty? realizado em 2016.

“pretendíamos ser um grupo de mulheres interessadas em nos apropriar de nosso processo sociocultural e histórico, com a intenção de nos instrumentalizar e criar estratégias de cura e enfrentamento ao racismo”.

Em 2017, se somaram à iniciativa as fundadoras da tenda Articula Preta, da Festa Literária de Paraty – Flip, daquele ano. De lá pra cá o movimento só cresce e ganha visibilidade. Costuma-se dizer que as mulheres, quando se juntam, são como as águas...

A exposição, que teve início em agosto de 2019, dentro das atividades do Àwa Festival de Cultura Negra, permanece na cidade até o dia 26 de janeiro. Foi organizada por Dani Guirra e Marcela Bonfim. São desta última as palavras:

“acessar e refletir imagens invisíveis na pele de uma mulher negra significa abraçar sentido de libertação, dar vazão a vozes sufocadas por gerações, gerar constelações de estórias únicas e que também são múltiplas histórias. (...) (Re)fazer caminhos da memória-cultura de um corpo esquecido de sua própria memória ancestral, cada vez mais, tem nos tornado mulheres negras mais próximas de mulheres negras: é um resgate, uma retomada da forma do fazer juntas”.



Em um dos espaços da galeria do Sesc - que fica em frente ao cais da cidade - uma espécie de linha de apresentação das integrantes pode ser visitada, acompanhada de seus depoimentos. Processos de empoderamento e politização, isto é, de como foram se constituindo como força coletiva, foram verbalizados e são apresentados a modo de instalação.

A exposição contrasta e dialoga com a cidade colonial. A beleza do que é preservado nas construções naquela paisagem exuberante de montanhas e mar, no contexto de uma urgência de descolonização da nossa História.

Que bom quando curadorias de espaços dedicados à arte compreendem que a capacidade de organizar a vida, para que ela seja mais bela e bem vivida, é também motivo de exposição e reconhecimento. Que venham outras mostras como essa pelo Brasil afora.

*Carla Gisele Batista é historiadora, pesquisadora, educadora popular. Mestra em Estudos Interdisciplinares Sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pela UFBA. Militante feminista, integrou as coordenações do Fórum de Mulheres de Pernambuco, da Articulação de Mulheres Brasileiras e da Articulación Feminista Marcosur. Publicou em 2019 o livro: Ação Feminista em Defesa da Legalização do Aborto: Movimento e Instituição, pela Annablume Editora.

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas

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