Mulheres que mataram guia de turismo a facadas pediram ajuda a ex-marido de uma delas para fugirem
Em depoimento, comerciante diz que tentou convencer Ana Claudia Mazeto a deixar a vida do crime; ela estaria roubando no Centro do Rio com a namorada, Marcelly de Albuequerque, há cerca de três meses
Em depoimento à Polícia Civil do Rio, o ex-marido de Ana Claudia Pires Mazeto, com quem tem uma filha de 3 anos, contou que a mulher e sua atual namorada, Marcelly Andressa Damasceno de Albuquerque, pediram sua ajuda para fugirem. O contato das duas com o comerciante se deu no dia seguinte ao latrocínio (roubo seguido de morte) que cometeram contra o guia de turismo Daniel Mascarenhas Xavier da Silva, de 31 anos, no Centro do Rio, na semana passada. Nesta segunda-feira, elas passaram por uma audiência de custódia, na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte da cidade, a partir das 13h. Ana Claudia e Marcelly foram mantidas presas.
De acordo com o termo de declaração da testemunha, de 61 anos, ao qual O Globo teve acesso, ele manteve um relacionamento conjugal com Ana Claudia por aproximadamente cinco anos, tendo se separado em 2020. Na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), o comerciante narrou ter tomado conhecimento que ela e Marcelly estariam se relacionando há cerca de cinco meses e, há cerca de três meses, cometendo roubos juntas no Centro.
No depoimento, ele afirmou ter tentado convencer a ex-mulher a sair da “vida do crime” por diversas vezes. Ele disse também ter descoberto sobre o latrocínio ao assistir a uma reportagem, na manhã da última sexta-feira. Ao ver as imagens de câmeras de segurança, contou ter tido a certeza de que Marcelly pilotava a moto e Ana Claudia estava na garupa. Enquanto a primeira teria desferido as facadas na vítima, a segunda o teria abordado com um simulacro de uma arma.
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Naquela mesma manhã, por volta de 7h, o comerciante disse ter sido contatado pela ex-mulher, que informara precisar falar pessoalmente, já que “algo muito sério havia acontecido”. Às 10h, ele diz ter encontrado Ana Claudia e Marcelly na esquina das ruas Camerino e Barão de São Félix, também no Centro do Rio, e elas confessaram o latrocínio. Ao ex-marido, a mulher alegou que Daniel reagiu ao ser abordado por elas, que tinham o intuito de “subtrair-lhe os pertences”.
Durante a conversa, Ana Claudia pediu dinheiro ao comerciante e ele lhe deu duas notas de R$ 50. Em seguida, Marcelly teria dito à companheira: “Vamos logo que tem alguém ligando para a polícia”, e as duas foram embora.
Segundo o laudo de exame de necropsia do Instituto Médico-Legal, Daniel Mascarenhas foi esfaqueado cinco vezes nas costas e no pescoço por elas. O documento mostra que a vítima teve hemorragia após sofrer lesões no tórax e pulmão ao ser ferido pelas criminosas.
Professor titular de Medicina Legal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o perito Nelson Massini, após analisar o documento assinado pelo legista Reginaldo Franklin Pereira, explica que a forte hemorragia pulmonar provocada pela perfuração na região clavicular levou à morte do guia de turismo, após grave sofrimento respiratório, entre cinco e oito minutos.
De acordo com o inquérito da DHC, após ferirem o guia de turismo, as mulheres gritaram estarem sendo assediadas, agredidas e roubadas por ele, o que teria feito com que as pessoas não o socorressem. Daniel, então, foi caminhando em direção ao Hospital Municipal Souza Aguiar, a cerca de 300 metros dali, mas não resistiu e morreu antes de chegar à unidade de saúde.
Ana Claudia e Marcelly foram localizadas e presas na comunidade Vila Rosali, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Elas teriam se escondido na casa de parentes na região após serem agredidas por traficantes do Morro da Providência, na região central do Rio, após a repercussão do caso.