Mundo tem 1ª campanha de vacinação contra malária; saiba onde
Camarões inaugura imunização de bebês contra a doença em países africanos
Camarões incluiu, nessa segunda-feira (22), a vacina contra a malária RTS,S, também conhecida como Mosquirix, nos serviços de imunização de rotina. Com isso, o país se torna o primeiro do mundo a lançar uma campanha nacional de vacinação contra a doença, destinada aos bebês de seis meses de idade.
Outros nove países africanos também planejam lançar a imunização neste ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O impacto da doença é maior no continente, responsável por aproximadamente 94% dos casos globais e 95% das mortes, segundo dados de 2022. A grande maioria dos óbitos , 77%, ocorrem em menores de 5 anos.
“Não estamos apenas testemunhando, como participando ativamente de um capítulo transformador na história da saúde pública da África. Há muito tempo que esperávamos por um dia como este”, disse Mohammed Abdulaziz, chefe dos Centros Africanos de Controle e Prevenção de Doenças (CDC Africa), em coletiva conjunta com a OMS sobre o tema.
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A vacinação terá início depois de Camarões ter recebido cerca de 331 mil doses do imunizante desenvolvido pela farmacêutica GSK, em novembro do ano passado. Mais unidades são esperadas nas próximas semanas. O país, que figura entre os 11 mais afetados no mundo, registrou 3,8 mil óbitos pela malária em 2021, além de três milhões de diagnósticos.
“O lançamento da vacina contra a malária marca um passo significativo na prevenção e controle da doença, especialmente na proteção das crianças contra doenças graves e morte. Estamos empenhados em apoiar as autoridades nacionais de saúde para garantir uma implementação eficaz da vacina contra a malária, juntamente com a ampliação de outras medidas de controle”, afirma, em nota, Phanuel Habimana, representante da OMS em Camarões.
Segundo Shalom Ndoula, secretário do Programa de Vacinação do país, a dose “foi escolhida com base na sua pré-qualificação, garantindo qualidade, eficácia e segurança para inclusão” na campanha.
A Mosquirix foi o primeiro imunizante contra a malária a receber uma recomendação da OMS, ainda em 2021, após mais de 40 anos em desenvolvimento. Desde 2019, a vacina é estudada em três países africanos num esquema de quatro doses para crianças com cerca de 5 meses de idade. Mais de 2 milhões de crianças foram protegidas, o que levou a uma queda de 13% na mortalidade por todas as causas e uma redução de 50% de formas graves e hospitalizações.
“Escolhi vacinar os meus filhos porque vi quão prejudicial a malária pode ser. Estou empenhada em garantir que os meus filhos recebam todas as quatro doses e tomarei outras medidas, como garantir que durmam debaixo de redes mosquiteiras”, contou Helene, mãe das primeiras crianças a serem imunizadas no país.
Por que a vacina não é útil para o Brasil
A Mosquirix, no entanto, não será útil para campanhas de imunização no Brasil. O mesmo vale para uma segunda vacina que recebeu o aval da OMS para malária, a R21/Matrix-M, desenvolvida pela Universidade de Oxford.
Isso porque ambas as doses miram a doença causada pelo protozoário Plasmodium falciparum, responsável por mais de 90% dos casos de malária no mundo e pela forma mais grave do quadro.
No entanto, no Brasil, esse protozoário é responsável por apenas 15,8% dos casos da doença, segundo dados registrados em 2020. Enquanto isso, 84,2% foram decorrentes da infecção pelo Plasmodium vivax.
Há, porém, grupos brasileiros que buscam desenvolver um imunizante nacional direcionado à versão da malária que circula no país. Um dos projetos mais avançados é o da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Centro de Tecnologia de Vacinas (CTAVacinas), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e com a Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos.