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Com Trump eleito, brasileiros na Flórida temem aperto na imigração

Residentes em situação irregular e brasileiros que têm vistos temporários estão apreensivos.

Roberto Freire (PPS)Roberto Freire (PPS) - Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A primeira coisa que Victor Souza fez ao saber da vitória surpreendente do candidato republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos foi marcar uma conversa com seu advogado em Miami, logo pela manhã.

O empresário paraibano veio para a Flórida com a mulher e dois filhos em janeiro para entrar como sócio em uma distribuidora de pão de queijo congelado e outros produtos brasileiros. Ele deu entrada em um pedido de visto de negócios, mas agora tem medo de que Trump proponha mudanças na lei que dificultem sua vida.

"Trump dificilmente fará mudanças que afetem pedidos de visto de forma retroativa, mas mesmo assim eu fiquei muito preocupado,'' disse Souza, que também é motorista cadastrado no aplicativo de transporte Lyft, concorrente do Uber.
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"Ele falou tanto sobre expulsar os imigrantes, sobre como os estrangeiros roubam os empregos dos americanos, que eu pensei 'será que cometi um erro ao vir para cá e investir em um negócio?. Será que esse cara vai resolver me deportar?'", disse, em tom de brincadeira.

Trump foi o vencedor das eleições desta terça (8), após derrotar a ex-secretária de Estado e representante do Partido Democrata, Hillary Clinton, em um resultado que contrariou a maioria das pesquisas e surpreendeu até mesmo apoiadores do bilionário.

Residentes em situação irregular e brasileiros que têm vistos temporários estão apreensivos. Aproximadamente 300 mil brasileiros vivem na Flórida, de acordo com estimativas do Itamaraty, mas o número é provavelmente maior, já que pessoas sem visto evitam contato com o consulado brasileiro, por medo de serem entregues às autoridades americanas.

Durante a campanha, Trump prometeu deportar 11 milhões de pessoas que trabalham nos Estados Unidos ilegalmente, e falou em construir um muro na fronteira com o México para evitar que "estupradores" e "traficantes" entrem no país. Também disse que implementaria políticas para banir a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos como forma de combater o terrorismo.

Maria Helena Oliveira vive em Miami há 25 anos sem visto e trabalha como cuidadora de idosos e diarista. Foi casada com um porto-riquenho mas não conseguiu o tão sonhado green card, o que a impede de entrar novamente nos Estados Unidos caso saia para visitar a família no Brasil.

"Estou arrasada. Se ele realmente fizer o que está prometendo, muita gente vai sofrer. A vida dos ilegais já é muito difícil, imagina como vai ser com o Trump trabalhando para deportar todo o mundo?"

TODOS NA MIRA

Não são só os residentes irregulares menos qualificados que temem eventuais mudanças nas políticas de imigração do governo Trump. Investidores e pessoas que têm recursos financeiros para obter um visto de estudante, por exemplo, também podem, potencialmente, sofrer restrições à entrada nos Estados Unidos no futuro.

Patricia Périssé Bochi, advogada especializada em consultoria migratória e vistos de negócios, teme que o discurso xenófobo e racista de Trump gere desconfiança entre investidores brasileiros que consideram os Estados Unidos como um possível destino.

"Ele pinta uma imagem negativa e generalizadora do imigrante, que afeta todas as classes de pessoas", disse Bochi, que tem como clientes de seu escritório em Miami brasileiros que investem pelo menos US$ 500 mil nos Estados Unidos para obter um green card.

"A briga dele começa com os ilegais, mas a retórica é relativa ao imigrante em geral."

Brasileiros que têm os recursos financeiros para viver na Flórida sem a necessidade de trabalhar dificilmente serão afetados por qualquer medida de restrição a imigração, opina Leo Ickowicz, dono da imobiliária Elite International Realty, que conta com 85 corretores cujos clientes são, em sua maioria, brasileiros.

Muitos de seus clientes chegam a Miami com vistos de estudante, que podem ser renovados de acordo com cada caso individual. Depois podem mudar de visto, e obter o direito de trabalhar ou de investir em uma empresa, por exemplo, segundo Ickowicz.

"Eu tenho visto muitos casais jovens que estão vindo para cá para dar segurança e uma educação melhor para os filhos, e eles usam o visto de estudante nesse primeiro momento", disse o empresário. "O Trump não vai alterar os planos dessas famílias. E, quando se tem dinheiro, é mais fácil resolver essas questões de visto, em qualquer lugar do mundo."

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