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Irã aumenta pressão sobre programa nuclear

Nesta sexta, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu ao Irã que seja 'paciente e responsável'

Presidente francês Emmanuel MacronPresidente francês Emmanuel Macron - Foto: Ozan Kose / AFP

O Irã anunciou nesta segunda-feira (17) que suas reservas de urânio enriquecido ultrapassarão, a partir de 27 de junho, o limite estabelecido no acordo internacional de 2015 sobre sua energia nuclear, aumentando a pressão após a retirada dos Estados Unidos do pacto.

Concluído em Viena por Irã, Alemanha, China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia, o acordo visa a limitar drasticamente o programa nuclear da República Islâmica em troca da suspensão das sanções econômicas internacionais contra este país.

Nesta sexta-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu ao Irã que seja "paciente e responsável".

"Lamento os anúncios do Irã", declarou Macron, em uma entrevista coletiva conjunta com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

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Ele ressaltou, porém, que, por enquanto, o Irã "continua respeitando suas obrigações e os estimulamos a adotar um comportamento paciente e responsável".

"Nenhuma forma de escalada é o bom caminho", insistiu o presidente, afirmando que a França "fará todo o possível" para que o Irã não siga por essa via.

"Cabe ao Irã cumprir suas obrigações (...) Não aceitaremos uma redução unilateral das obrigações", frisou o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, após uma reunião com seus pares em Luxemburgo.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também pediu que o Irã mantenha seus compromissos nucleares.

De acordo com seu porta-voz, Stéphane Dujarric, "o secretário-geral encoraja o Irã a continuar cumprindo seus compromissos nucleares e pede a todos os participantes que respeitem plenamente seus respectivos compromissos e, os demais Estados-membros, que apoiem a implementação do acordo de 2015".

Guterres pede a "todas as partes que evitem qualquer medida que possa levar a uma escalada de tensões na região", acrescentou o porta-voz em sua entrevista coletiva diária.

Já a porta-voz do Departamento de Estado, Morgan Ortagus, afirmou que o mundo não deve "ceder à chantagem nuclear" do Irã.

"Continuamos convocando o regime iraniano a cumprir seus compromissos com a comunidade internacional", completou.

Em maio de 2018, o presidente americano, Donald Trump, retirou seu país deste pacto e restabeleceu as sanções contra Teerã. Há meses, o governo iraniano pressiona aqueles que permaneceram no acordo para ajudar a amenizar os efeitos devastadores da decisão de Washington para sua economia.

Até o momento, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) certificou que o Irã respeita os compromissos assumidos no âmbito deste acordo.

Com este novo anúncio iraniano, a situação pode mudar a partir do final de junho, com a AIEA, uma agência da ONU, considerando Teerã em infração.

"Hoje começou uma contagem regressiva para superar os 300 quilos de reservas de urânio enriquecido e, em 10 dias, vamos superar este limite", declarou o porta-voz da Organização Iraniana de Energia Atômica, Behruz Kamalvandi, em entrevista coletiva.

No início de maio, o Irã já havia anunciado a suspensão de alguns de seus compromissos no Plano de Ação Integral. Teerã decidiu não respeitar dois limites impostos: o de 300 quilos, para suas reservas de urânio enriquecido (UF6); e o de 130 toneladas, para suas reservas de água pesada.

Tensões

Na mesma data, o Irã impôs um ultimato de 60 dias aos Estados ainda dentro do acordo para que colaborassem, de forma a evitar as sanções americanas.

Sem obter resposta, ameaçou parar de cumprir outros dois compromissos, com o presidente Hassan Rohani indicando que o país deixará de observar as restrições "relativas ao grau de enriquecimento de urânio" e que poderá retomar o projeto de construção de um reator de água pesada, em Arak (centro).

O reator de Arak foi desativado, conforme previsto no acordo de Viena. Este também estabeleceu um limite para o número de centrífugas que enriquecem urânio e restringiu o direito do país de enriquecer urânio a não mais do que 3,67%. O percentual é muito abaixo do nível necessário para produzir armamento, o qual é de quase 90%.

O anúncio desta segunda-feira acontece em um contexto de grande tensão entre Irã e Estados Unidos. Washington reforçou sua presença militar no Oriente Médio para enfrentar uma suposta "ameaça iminente iraniana" e acusa Teerã de ser responsável pelos ataques de quinta-feira passada contra dois petroleiros no Mar de Omã.

Kamalvandi disse que "nenhuma decisão" ainda foi tomada sobre o que os iranianos chamam de "segunda fase" de seu "plano de reduzir" os compromissos nucleares.

A decisão sobre a implementação desta segunda fase é da responsabilidade do Conselho Supremo de Segurança Nacional, presidido por Rohani.

Em relação ao enriquecimento de urânio, Kamalvandi disse, no entanto, que "consideramos vários cenários": "passar de 3,68% para qualquer outra porcentagem, dependendo das necessidades do país".

Sobre a questão do reator de Arak, as autoridades ainda estão debatendo se ele deve ser "remodelado, ou revivido".

"Levou-se tempo para completar a primeira etapa do plano" (relativo aos estoques de água pesada e de urânio enriquecido), alertou, acrescentando que não será preciso "mais do que um dia, ou dois", para implementar uma possível decisão de aumentar o grau, em que o Irã enriquece o urânio.

O Irã argumenta que não se beneficia dos desdobramentos econômicos que esperava do acordo de Viena. Seu produto interno bruto (PIB) deve cair pelo menos 6% este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Acreditando ser o único Estado-parte deste pacto a cumprir seus compromissos, acusa a União Europeia de não querer, ou de ser incapaz, de fazer qualquer coisa para salvar o acordo.

No início do ano, Paris, Berlim e Londres lançaram um mecanismo de troca - o INSTEX - para ajudar o Irã a contornar as sanções dos Estados Unidos. Este mecanismo, porém, não deu origem a nenhuma transação.

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