Peixe ancestral chinês pode ser a primeira espécie oficialmente extinta de 2020
Cientistas chineses e da República Tcheca publicaram um novo estudo relatando a má notícia no periódico Science of the Total Environment
O Psephurus gladius, também chamado localmente de peixe-elefante, já foi considerado uma espécie comum no rio Yangtze, na China. Agora ela pode ser a primeira oficialmente extinta em 2020.
Cientistas chineses e da República Tcheca publicaram um novo estudo relatando a má notícia no periódico Science of the Total Environment. O manuscrito foi aceito para publicação em dezembro de 2019 e deve ser publicado nos próximos meses em sua versão definitiva. O anúncio da extinção era esperado. Desde 2003 não se vê um espécime vivo do peixe, que chegava a medir 7 m de comprimento e pesar mais de meia tonelada.
O Psephurus gladius, ou peixe-espátula-chinês, foi considerado extingo por cientistas. O animal media até 7 m e podia pesar mais de meia tonelada Wikimedia Commons O Psephurus gladius, ou peixe-espátula-chinês, foi considerado extingo por cientistas. O animal media até 7 m e podia pesar mais de meia tonelada.
Leia também:
Quase 2.000 novas espécies são incluídas em lista vermelha de ameaça de extinção
Mais de 1 bilhão de animais já foram mortos em incêndios na Austrália, diz professor
Incêndios na Austrália já mataram metade dos coalas em ilha
Os cientistas fazem periodicamente um mapeamento na bacia do rio Yangtze, que tem 6.300 km de extensão e mais de 400 afluentes, para avaliar a biodiversidade. Trata-se de um ecossistema bastante rico, com altitudes que variam em até 5.400 m e climas distintos em seu curso.
O Yangtze é um dos rios mais intensamente navegados no mundo, de acordo com os cientistas. O motivo para o fim da espécie, escrevem, seria a intensa pesca e a degradação e fragmentação no habitat –ou seja, faltou espaço para que o peixe conseguisse se alimentar e se reproduzir.
Uma proibição de pesca do animal estava vigente desde 1983, mas, apesar disso, ele era uma vítima secundária da pesca de outros peixes, ficando presos em redes, por exemplo. Segundo um modelo matemático empregado pelos pesquisadores, é provável que a chamada extinção funcional tenha acontecido até 1993, quando já não se observava a reprodução dos peixes nos berçários onde isso era comum.
A extinção de fato deve ter ocorrido entre 2005 e 2010 e pode ser classificada como definitiva segundo os critérios da lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, já que não há registro de exemplares do P. gladius em cativeiro e tecidos vivos não foram conservados para uma potencial ressurreição.
Como a espécie era piscívora (se alimentava de peixes) e ficava no topo da cadeia alimentar, provavelmente a população nunca foi muito grande. As chances de sobrevivência baixaram após a exploração na década de 1970 e com a construção de barragens ao longo do rio.
O P. gladius faz parte da ordem dos Acipenseriformes, que inclui também o esturjão (famoso pelo caviar), que existe há 200 milhões de anos. Seis espécies de peixes-espátulas, como o P. gladius, são conhecidas, quatro delas apenas pelo registro fóssil.
No mapeamento da bacia do Yangtze, realizado entre 2017 e 2018, foram encontradas 332 espécies de peixes. Entre elas não estavam outras 140 já registradas em outras ocasiões –muitas delas ameaçadas de extinção. "O desenvolvimento sustentável e a conservação da biodiversidade têm de ser amplamente reconhecidos como as prioridades para toda a bacia do rio Yangtze, para prevenir e mitigar as irreversíveis mudanças na região", concluem os cientistas.