Musk é acusado de fazer saudação nazista: o que é o sieg heil?
Durante discurso pós-posse, o CEO da Tesla fez gesto que críticos compararam ao que ficou marcado na História de culto a Adolf Hitler
Elon Musk foi acusado de fazer uma saudação nazista durante um discurso depois da posse de Donald Trump, em Washington, capital dos Estados Unidos.
O CEO da Tesla e da SpaceX usou a sua rede social, X, para responder com ironia nesta terça-feira (21) às acusações, afirmando que os opositores precisariam "'de truques sujos melhores" contra ele.
O movimento, porém, gerou debate nas redes sociais e mobilização de críticos, que compararam o braço estendido de Musk ao "sieg heil", marcado na História como um gesto de exaltação ao regime de Adolf Hitler.
A saudação conhecida como Seig Heil (Salve a vitória, em alemão), em que a pessoa estica o braço em um ângulo de 45º e coloca a palma da mão para baixo, não começou com o nazismo, embora historicamente tenha ficado vinculada ao regime alemão.
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Ela é uma variação de um gesto romano que já era utilizado por militares no início da República de Roma. Foi também representado anos depois em obras de arte, como o quadro do artista francês Jacques-Louis David, em 1784.
Trazendo de volta as raízes italianas, o ditador Benito Moussolini passou a utilizar o gesto, mas, pouco tempo depois, ele se tornou uma identidade do governo nazista alemão.
O ministro da propaganda da Alemanha Nazista, Joseph Goebbels, fez uma adaptação para "Heil Hitler" ("salve, Hitler", em alemão). Logo foi adotado pelo partido como um sinal da lealdade e culto da personalidade de Adolf Hitler. Ganhou popularidade conforme o governo nazista crescia.
Mesmo com uma outra origem, o gesto foi proibido na Alemanha desde o fim da Segunda Guerra Mundial, por estar vinculado ao nazismo. Fazê-lo pode render multa ou até cinco anos de prisão, mesmo em caso de sátira. É permitido apenas em mídias, como filmes, em que seja feita uma análise crítica.
Novo governo americano
Após repercussão negativa do seu gesto, Musk sugeriu que seus detratores encontrassem "truques sujos melhores".
"Francamente, eles precisam de truques sujos melhores. O ataque de 'todo mundo é Hitler' é tão batido", disse o dono da Tesla e da SpaceX, em postagem na sua rede social X.
O empresário causou espanto no evento ao fazer duas vezes uma saudação, descrita por alguns como "fascista" ou "nazista", enquanto outros a defenderam como "um gesto desajeitado".
No momento, ele falava no palco da Capital One Arena, onde apoiadores de Donald Trump se reuniram para um comício em homenagem ao novo presidente americano, algumas horas após sua posse.
Depois de agradecer à multidão por permitir que o republicano retornasse à Casa Branca, ele bateu no peito com a mão direita e então estendeu o braço, com a palma aberta. Ele então repetiu o gesto, virando-se para o resto da multidão atrás dele.
A historiadora Claire Aubin, especialista em nazismo nos Estados Unidos, considerou que o gesto de Elon Musk foi de fato um "sieg heil", a saudação nazista.
"Bem, não demorou muito", criticou o congressista democrata Jimmy Gomez no X, reagindo a uma imagem do homem mais rico do mundo fazendo a saudação no palco.
Outra historiadora e especialista em fascismo, Ruth Ben-Ghiat, também declarou no X que "era de fato uma saudação nazista, e bastante agressiva".
'Ângulo exato'
Alguns jornais estrangeiros, como o israelense Haaretz e o britânico The Guardian, alegaram que o bilionário americano "parecia" ter feito uma saudação "fascista" ou "ao estilo fascista".
"Parece que ele estava segurando a situação há algum tempo e finalmente conseguiu desabafar", disse a ex-congressista democrata Cori Bush no X. "Como se ele tivesse praticado em frente ao espelho para encontrar o ângulo exato".
De acordo com a revista Wired, muitas figuras de extrema direita nos Estados Unidos elogiaram o evento, incluindo o colunista Evan Kilgore, que saudou o gesto de Musk como "incrível".
Nas últimas semanas, Elon Musk fez inúmeras declarações de apoio ao partido de extrema direita alemão AfD, mas também à primeira-ministra italiana de extrema direita Giorgia Meloni e ao partido britânico anti-imigração Reform UK.
"Elon Musk sabia exatamente o que estava fazendo com aquela saudação romana fascista no comício de Trump hoje - que vem logo após sua adesão explícita a políticas e partidos de extrema direita", disse em comunciado Amy Spitalnick, chefe da organização judaica JCPA.
'Momento de entusiasmo'
Para Brandon Galambos, um pastor de 29 anos que estava presente na sala do evento, o gesto do empresário foi acima de tudo "bem-humorado".
— Ele é muito engraçado e usa muito o sarcasmo — disse ele à AFP. — Obviamente a esquerda vai perceber isso e dizer que ele é nazista ou algo assim, mas acho que foi engraçado o jeito como ele fez isso.
O grupo antissemitismo ADL, que já entrou em conflito com o bilionário no passado, desta vez veio em sua defesa.
"Parece que Elon Musk fez um gesto desajeitado em um momento de entusiasmo, não uma saudação nazista", escreveu a organização no X.
A deputada de esquerda Alexandria Ocasio-Cortez criticou a resposta da ADL.
"Você está defendendo uma saudação +Heil Hitler+ realizada e repetida", respondeu a democrata no X. "As pessoas podem oficialmente parar de contar com você como uma fonte confiável de informação".
Para o historiador Aaron Astor, a saudação do bilionário não deve ser categorizada como nazista.
"Eu critiquei Elon Musk muitas vezes por permitir que neonazistas poluíssem esta plataforma", ele escreveu no X, antes de acrescentar: "Mas este gesto não é uma saudação nazista. É um sinal de mão socialmente estranho de um homem autista onde ele diz a multidão 'meu coração está com vocês'.