Musk ganha mais poder e defende cortes federais com base em acusações de fraudes sem provas
Bilionário fala em trabalho transparente, mas recebe críticas crescentes de que estaria atuando com poder irrestrito e sem prestação de contas
Vestido com um boné preto com o lema "Faça a América grande novamente", camiseta preta e casaco, o magnata da SpaceX e Tesla e do X, Elon Musk, falou com os jornalistas pela primeira vez desde que chegou a Washington. Sentado a seu lado, no Salão Oval da Casa Branca, estava o presidente Donald Trump, que acabara de assinar uma ordem executiva ampliando os poderes de Musk à frente da comissão de redução de custos - o Departamento de Eficiência do Governo (DOGE, na sigle em inglês).
Musk alertou que, sem cortes, os Estados Unidos "declarariam falência". Entretanto, não ofereceu nenhuma evidência para suas alegações de que a burocracia federal havia sido corrompida por trapaceiros e funcionários que aprovaram dinheiro para "fraudadores".
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Entre essas alegações - novamente, sem apresentar evidências - estava a de que alguns funcionários da agora esvaziada Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional estavam recebendo "propinas". Ele disse que "algumas pessoas" na burocracia de alguma forma "conseguiram acumular dezenas de milhões de dólares em patrimônio líquido, enquanto estavam nessa posição", sem explicar como ele fez essa avaliação. Logo depois, Musk afirmou também que alguns beneficiários de cheques da Previdência Social tinham até 150 anos.
"Na verdade estamos tentando ser o mais transparentes possível", disse Musk, referindo-se às postagens de sua equipe em seu site de mídia social, X. "Não conheço um caso em que uma organização tenha sido mais transparente do que a DOGE".
Na avaliação publicada pelo jornal The New York Times, a equipe de Musk está operando, na verdade, em profundo sigilo: surpreendendo funcionários federais ao atacar agências e obter acesso a sistemas de dados confidenciais. Enquanto isso, o próprio Musk é considerado um “funcionário governamental especial”, o que, segundo a Casa Branca, significa que sua declaração financeira não será tornada pública.
As amplas declarações de Musk ocorreram em meio a críticas crescentes de que ele estaria atuando com poder irrestrito e sem prestação de contas, questões que têm assombrado o presidente quando ele fala com repórteres. Dezenas de processos foram movidos contra os esforços acelerados do governo Trump para desmantelar a burocracia, e vários juízes federais já determinaram a suspensão dessas ações enquanto os desafios legais são analisados.
Musk, o maior doador da campanha eleitoral de Trump, com mais de US$ 250 milhões, convocou uma equipe de jovens engenheiros para impulsionar um programa de eficiência implacável.
Como consequência, algumas agências federais foram fechadas e muitos funcionários foram instruídos a não comparecer ao trabalho, o que desencadeou batalhas legais em todo o país e acusações de tentativa de tomada de poder ilegal.
Quando um jornalista perguntou o que ele achava de seus "opositores", Musk primeiro brincou: "Tenho opositores? Não acho", antes de acrescentar que, graças à vitória eleitoral de Trump, não poderia haver "um mandato mais forte".
"As pessoas votaram por uma grande reforma governamental e é isso que elas terão", disse Musk.
'Verifico' com o chefe
Ele também é acusado de hipocrisia por criticar os burocratas "não eleitos", ao mesmo tempo que se tornou um funcionário não eleito exercendo grande poder.
Os jornalistas perguntaram sobre possíveis conflitos de interesse, já que a SpaceX tem contratos de bilhões de dólares com o mesmo governo que ele está auditando.
Musk rejeitou repetidamente as críticas de que estaria operando sem supervisão, dizendo que estava sendo "transparente". E acrescentou: "Não é como se eu achasse que posso sair impune, serei escrutinado o tempo todo". Especificamente sobre a SpaceX, ele procurou sair pela tangente: “Antes de tudo, não sou eu quem assina os contratos. São as pessoas da SpaceX ou algo assim”, disse o bilionário.
Ele reforçou sua intenção de impor responsabilidade a um funcionalismo público que, segundo ele, opera sem controle.
“A burocracia é um ‘quarto poder não eleito e inconstitucional, que atualmente tem, em muitos aspectos, mais poder do que qualquer representante eleito”, insistiu Musk, que, ironicamente, ocupa um cargo de nomeação não eletiva e tem grande influência sobre o governo.
Musk admitiu que erros podem ser cometidos, à medida que ele reduz o tamanho das agências federais. Caso faça cortes excessivos, afirmou o bilionário, eles simplesmente serão revertidos: “Algumas das coisas que eu digo estarão erradas e devem ser corrigidas. Ninguém acerta 100% das vezes”, disse. “Cometeremos erros, mas agiremos rapidamente para corrigir qualquer erro”.
Imprensa barrada
Enquanto Elon Musk falava sobre transparência, a Associated Press denunciava que seu jornalista na Casa Branca fora excluído do evento de Musk devido à recusa da agência de notícias em escrever "Golfo da América" em vez de "Golfo do México", conforme determinado pelo presidente, em janeiro, por decreto.
Presidente do México sugere mudar nome dos EUA para 'América Mexicana', após Trump propor rebatizar Golfo do México: 'Bom, né?'
Depois de Musk, Trump falou. Ele elogiou o trabalho do bilionário e atacou os juízes americanos que bloqueiam alguns de seus planos.
Durante os 30 minutos do evento, Musk fez questão de deixar claro quem era o chefe.
"Verifico frequentemente com o presidente para garantir que isso é o que ele quer que aconteça", disse. "Por isso, nos falamos quase todos os dias".