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Mutum-de-alagoas

No limiar da extinção, mutum faz postura de dois ovos na Usina Utinga, em Alagoas

Na última sexta-feira (20), a fêmea da espécie colocou dois ovos e, de forma inédita, realiza a incubação dos possíveis filhotes 

Mutum realiza postura de dois ovos na Usina Utinga, em AlagoasMutum realiza postura de dois ovos na Usina Utinga, em Alagoas - Foto: Rosa Maria Souza

Símbolo do estado de Alagoas e no limiar da extinção, o mutum mostra a força da espécie no Zooparque Pedro Nardelli, conhecido pelo Programa de Reintrodução da ave. Localizado na Usina Utinga, em Alagoas, o Zooparque abriga um casal de mutum-de-alagoas (Pauxi mitu) desde 2017.

Na última sexta-feira (20), uma notícia animadora: a fêmea da espécie realizou a postura de dois ovos e, de forma inédita, realiza a incubação dos possíveis filhotes. 

Em dezembro de 2022, a mutum já havia colocado, de forma inesperada, um ovo de 130 gramas, fato que causou comoção e alegria, pois foi um indício de que a reprodução é possível e que a ave estava madura para acasalar. Porém, diferente do cenário atual, o ovo não estava fértil. Com a nova postura, é possível que, após 42 anos, o Estado tenha a primeira reprodução do animal. 

“Era razoavelmente esperado por nós que iríamos ter um evento de reprodução em algum momento, só que isso aconteceu bem antes do que a gente imaginava, o que foi muito bom. A gente tem agora essa fêmea que está chocando dois ovos e isso é uma notícia incrível, maravilhosa, porque a gente pode ter pela primeira vez uma espécie que foi extinta no Estado de Alagoas, uma espécie que só existia aqui, e que vai se reproduzir aqui de novo”, afirmou o professor da Universidade de São Paulo, Luís Fábio Silveira. 

Mutum-de-alagoas. Foto: Ed Machado/ Folha de Pernambuco

De forma inédita, os filhotes devem ser criados pela mãe. Nenhum mutum que nasceu em cativeiro, até então, foi chocado pela mãe, mas por chocadeiras elétricas. Agora, a probabilidade é de que a fêmea realize todo o processo. 

“A gente decidiu deixar ela fazer o processo de incubação, ou seja, se o ovo estiver fértil e nascer, ela vai cuidar dos filhotinhos também. Mas, por enquanto, ela está fazendo uma coisa muito importante, que é expressando o comportamento natural dela, então isso também é uma parte importante do aprendizado, ela poder expressar esse comportamento de reprodução de uma forma natural, ou seja, ela construiu o ninho, botou o ovo, e está tomando conta de todo o processo”, pontuou o professor. 

Importância do mutum-de-alagoas  
Com a chegada do casal de mutuns à Usina Utinga, em 2017, o Instituto Para Preservação da Mata Atlântica (IPMA) e uma série de criadores, universidades, Organizações Não Governamentais (ONGs), além de órgãos dos governos federal e estadual, entre eles o Ministério Público do Estado de Alagoas, começaram a preparar a região para a reintrodução do animal na natureza

A Utinga, do Grupo EQM, presidida por Eduardo de Queiroz Monteiro, do qual faz parte a Folha de Pernambuco, teve papel fundamental nesse processo e cedeu o terreno que se tornou o reduto da ave. 

Em 2019, a ave se tornou a primeira espécie extinta na natureza a ser devolvida ao seu hábitat natural na América do Sul. Após um longo processo de reprodução em cativeiro, três casais do animal foram devolvidos para o seu lugar de origem.

Mutum chocando os ovos no Zooparque Pedro Nardelli. Foto: Rosa Maria Souza

“O mutum-de-alagoas é a maior ave terrestre que a gente tem em todo o Centro Pernambuco de Endemismo, que essa parte de Mata Atlântica que vai desde a margem norte do Rio São Francisco, até mais ou menos o Rio Grande do Norte. Essa parte de Mata Atlântica é também a área com o maior número de espécies ameaçadas de extinção nas Américas. É uma área muito sensível e com muitas espécies raras e ameaçadas”, destacou Luís. 

Utinga e a conservação das espécies 
Com um sistema de gestão ambiental com 14 programas, entre eles, a conservação da biodiversidade, a Usina Utinga apoia as ações do IPMA com relação às espécies ameaçadas.

Além disso, o local tem uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) com 960 hectares, que foi criada, principalmente, para servir de abrigo para o mutum, com o intuito de reintroduzir a ave e outras espécies, a exemplo dos papagaios-chauás, na natureza. 

Na última terça-feira (24), foi realizada na Utinga uma reunião com instituições parceiras do Plano de Ação Estadual do mutum-de-alagoas. No encontro, foram discutidas questões acerca da conservação da espécie de outras como o papagaio-chauá e o macuco, que serão as próximas espécies a serem reintroduzidas na usina.

Reunião com instituições parceiras do Plano de Ação Estadual do mutum-de-alagoas. Foto: Luciano Barbosa/ IPMA

“A Usina Utinga possui projetos e ações de responsabilidade socioambiental com os colaboradores e com a comunidade local, e como forma de reafirmar o seu compromisso com meio ambiente, tem estabelecido relações com a comunidade acadêmica científica, incentivando e apoiando pesquisas em suas áreas”, reiterou a assessora de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Grupo EQM, Sônia Roda. 

O mutum-de-alagoas é o carro-chefe na Usina. “Temos indivíduos de mutuns soltos na RPPN Mata do Cedro há 5 anos. Protegendo o mutum toda a biodiversidade local estará protegida. É um excelente bioindicador de qualidade de habitat, e, se o mutum está conseguindo sobreviver naturalmente na RPPN, significa que esta possui estabilidade alimentar  suficiente para alimentar grandes frugívoros e outras espécies”, disse Sônia.

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