MV Experience Fórum debate tendências de inovação em tecnologia para a saúde
Fundador e CEO da MV, Paulo Magnus abordou o que é esperado para próximos 10 anos na saúde digital. Mais de mil inscritos participam do fórum, que tem 100 palestrantes
SÃO PAULO (SP) — Os desafios para a saúde digital nos próximos 10 anos e a discussão das tendências em inovação e tecnologia no setor foram destaques na abertura da décima edição do MV Experience Fórum, nesta terça-feira (4), em São Paulo.
Profissionais de saúde, gestores e especialistas em tecnologia e inovação se encontram no fórum para compartilhar conhecimentos sobre as melhores práticas de transformação na saúde digital.
Na palestra de abertura, nesta terça-feira, o fundador e CEO da MV, Paulo Magnus, afirmou que espera um futuro diferente em um intervalo de dez anos, no qual a saúde digital estará cada vez mais presente na rotina hospitalar e na vida do paciente.
Para ele, é uma missão de todos os envolvidos no setor trabalhar nessa integração digital com os pacientes.
“Eu sou um apaixonado pela gestão de saúde e sonho com a transformação digital para levar a saúde para mais perto das pessoas”, falou Paulo Magnus, que destacou ainda o trabalho da MV no estudo das tendências de mercado no mundo para trazer para o Brasil. “Hoje o nosso ecossistema está completo e pronto para fazer a transformação digital”, completou.
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O CEO da MV lembrou durante o painel como a pandemia de Covid-19 representou um avanço na implantação da saúde digital, a partir do uso de dispositivos como a telemedicina.
“A saúde digital precisa ser algo para entregar a saúde às pessoas”, acrescentou, falando também sobre exemplos bem-sucedidos de ferramentas com a inteligência artificial, que são usados em clientes da MV pelo Brasil.
Promovido pela MV, multinacional brasileira líder na América Latina no desenvolvimento de softwares para a saúde, o evento ocorre no Transamérica Expo até esta quarta-feira (5) com a presença de mais de 100 palestrantes.
O MV Experience Fórum 2024 reúne mais de mil participantes e conta com uma estrutura de três palcos e programação de 40 horas de conteúdo.
Prontuários criados por inteligência artificial
No MV Experience Fórum 2024, o fundador e CEO da MV, Paulo Magnus, falou sobre a possibilidade de, num futuro próximo, hospitais terem prontuários preenchidos por inteligência artificial.
A ferramenta de transcrição pode ser usada para gerar esses documentos. A MV tem como um de seus produtos o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP).
“O que podemos fazer para diminuir a burocracia? Metade do tempo que o médico gasta é escrevendo”, falou Paulo Magnus, ao citar o uso da transcrição feita por inteligência artificial em consultas, ferramenta que vem sendo trabalhada pela MV.
Com o dispositivo, é possível gerar todo o prontuário a partir do que foi falado entre médico e paciente durante a consulta.
“Os dados vão para o prontuário de forma automática. Estamos trabalhando numa ferramenta para ajudar também no diagnóstico”, finalizou Paulo Magnus, afirmando que esses processos têm a capacidade de revolucionar a rotina médica.
O uso da IA para ajudar no diagnóstico deverá ser autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de ser colocado em prática.
O diretor corporativo de tecnologia da MV, Andrey Abreu, lembrou que as IAs generativas, que atualmente conseguem trazer uma inteligência adicional ao processo, trazem outro nível de acurácia do que está sendo colocado.
"Se olharmos as IAs dentro da saúde, elas podem ser usadas para uma simples transcrição clínica. Você está lá, fazendo uma consulta e o médico não está olhando para você, está olhando para o computador. A transcrição permite, por exemplo, que a conversa seja gravada e estruturada no prontuário do paciente", explicou Andrey.
"A IA tira a necessidade do teclado, estamos falando muito disso. Quando você tira o teclado, o médico tem um ponto focal só em você, olho no olho, está tratando o paciente, fazendo o que sabe de melhor. Hoje, 70% do tempo do médico é tratando burocracia. Eu dou a condição do médico de se conectar ao paciente"
Um ponto importante de atenção no uso da IA na área da saúde é o fornecimento de opiniões e como isso poderia afetar a prática médica.
"Temos hoje uma tabela de CIDs, que são situações de doença. Uma inteligência que leia o que aconteceu numa consulta médica e decide que o melhor CID para essa doença é esse aqui não está tirando a prática do médico de ter que avaliar o paciente e olhar outros comportamentos para poder tomar uma decisão médica", frisou, destacando que esse é um ponto controverso no debate.
"A inteligência pode apoiar o médico na prática dele, sem tirar a sua responsabilidade. Estamos entrando numa nova revolução que vai gerar controvérsias e debates", completou Andrey Abreu.
Por fim, Andrey lembra que o desafio é evoluir as instituições de saúde, que vêm de um sistema primário quando se fala de tecnologia.
"É natural, pois é uma área pouco regulada. Por mais que você tenha os protocolos, hospitais funcionam cada um de uma forma. É uma preocupação muito grande dos hospitais, mas ainda há pouco conhecimento de como fazer", completou o diretor.
Como a tecnologia ajuda a quebrar barreiras no acesso à saúde
Outro destaque da programação do MV Experience Fórum 2024 desta terça-feira foi a palestra “Saúde para todos: como a tecnologia está quebrando barreiras”, conduzida pelo especialista internacional em temas de gestão e economia de saúde, André Medici.
No painel, Medici destacou itens que são fundamentais na busca pela equidade em saúde, como inovações tecnológicas, cuidado baseado em valor e os determinantes sociais atrelados aos pacientes. O especialista citou em sua fala exemplos de estratégias que superem essas desigualdades.
“Buscamos uma abordagem focada em trazer uma melhoria na equidade em saúde e resultados centrados no paciente”, explicou, ao destacar a importância do olhar ao cuidado de saúde baseado em valores (VBHC, da sigla em inglês para value-based healthcare).
Em um país como o Brasil, onde muitas vezes o acesso à saúde é complicado por fatores que dificultam a equidade dos cuidados de qualidade, é importante incentivar a adoção de práticas baseadas em evidências. Com isso, será possível padronizar o atendimento à saúde e reduzir as variações que podem levar a disparidades.
“Isso significa que todos os pacientes, independentemente de onde vivem ou de sua condição financeira, têm maior probabilidade de receber cuidados de qualidade semelhantes”, completou Medici.
Entre as barreiras que dificultam o acesso da população, André Medici elencou pontos como questões geográficas, jurídicas e regulatórias, econômicas, socioculturais, de infraestrutura, políticas de saúde e tecnologia digital.
Para superar esses desafios, destacou o especialista, é possível usar soluções tecnológicas, como telemedicina, prontuários eletrônicos de saúde, capacitação e educação continuada, sistema de gestão hospitalar, interoperabilidade, inteligência artificial e ferramentas de monitoramento remoto.
“É liberar o médico de sua carga burocrática para que ele possa ficar olho com olho com o paciente”, finalizou o palestrante.
André Medici lembrou ainda que, por muito tempo, se tinha a ideia de que a saúde era um direito de poucos. "Essa é uma questão que estava na história: pessoas mais pobres vivem menos, pessoas que têm dinheiro vivem mais", falou, colocando como contraponto a criação da Organizaçao Mundial da Saúde (OMS) como forma de ampliar o acesso dos pacientes aos cuidados médicos.
"Eu diria que a tecnologia de informação é uma das soluções. Questões como a telemedicina, prontuários eletrônicos, interoperabilidade permitem fazer com que você tenha a informação necessária para baratear o custo e fazer as pessoas acederem à saúde. Quebrar barreiras tem muito a ver em como a tecnologia da informação e a inteligência artificial vão tratar o tema da saúde nos próximos anos", completou Medici.
Inteligência artificial em destaque na oncologia
O médico oncologista e sócio-fundador da Oncovitta Paraná, Bruno Pozzi falou no MV Experience Fórum 2024 sobre como a inteligência artificial vem ganhando destaque na área da oncologia e como ela pode afetar a rotina do médico.
“Conseguimos unir várias pontas desde o início da jornada do paciente até o seu tratamento. O grande propósito da IA hoje é reduzir processos, acelerar as coisas. Por exemplo, a comunicação com o paciente pode ser acelerada, o acesso ao médico pode ser acelerado. A IA pode ser, por exemplo, a primeira a falar com o paciente”, explicou Pozzi.
“Com a junção da inteligência artificial e do ser humano você consegue resultados mais rápidos e eficientes”, acrescentou o médico ao citar exemplo de como a IA conseguiu antecipar diagnósticos de câncer de mama em cinco anos a partir de exames de imagem.
Sobre a questão ética, Bruno Pozzi explanou como é importante a regulação da inteligência artificial, que foi, inclusive, tema central do seu painel no fórum.
“Eu vejo hoje um potencial para o bem da IA muito maior do que para o mal. Dito isto, temos dois pontos imediatos: privacidade e transparência. Esses dados têm que ser muito bem utilizados. O paciente precisa saber que está protegido. Quando falamos em saúde, temos que ter muito para não ‘comoditizar’ a informação para esse dado não virar um produto para ser vendido”.
*O jornalista viajou a convite da MV