Na contramão de Trump, vice se opõe ao aborto mesmo em caso de incesto ou estupro
De olho no eleitorado moderado, ex-presidente passou a defender posição mais suavizada e tenta se afastar da polarização em torno de temas como interrupção da gravidez
J.D. Vance, que foi escolhido na segunda-feira como companheiro de chapa do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, não foi um apoiador de primeira ordem do republicano — certa vez, criticou suas promessas como uma espécie de “opioide das massas”.
Mas depois de ganhar destaque como autor de um best-seller sobre a classe branca trabalhadora dos EUA, modulou seu discurso em sintonia com as crenças do magnata e foi alçado ao Senado em 2022. Vance, 39 anos, se afastou de seu passado anti-Trump para abraçar o estilo populista do republicano.
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As opiniões de ambos convergem em diversos aspectos, mas quando o assunto é a interrupção da gravidez, o candidato a presidente e seu vice não estão exatamente na mesma página. Enquanto Trump passou a defender uma posição mais suavizada nos últimos meses, de olho no eleitorado moderado, Vance se opõe ao direito ao aborto mesmo em caso de incesto ou estupro.
Questionado sobre o assunto, Vance respondeu em 2021 que “dois erros não fazem um acerto”. Segundo ele, deve haver exceções apenas para casos em que a vida da mãe esteja em perigo.
Vance disse que o aborto como “a primeira questão política com a qual me lembro de me preocupar” e equiparou a interrupção da gravidez a assassinato. Também elogiou a sentença da Suprema Corte dos EUA que anulou, em 2022, a decisão histórica Roe v. Wade e, com ela, a proteção federal do direito ao aborto. Quando concorreu ao Senado em 2022, um dos tópicos defendidos no site de sua campanha dizia simplesmente: “Banir o aborto”.
Debate estadual
O senador por Ohio, assim como Trump, se opõe a uma proibição nacional do aborto, dizendo que a questão deve ser deixada para os estados.
— Ohio vai querer ter uma política de aborto diferente da Califórnia, de Nova York, e acho que isso é razoável — declarou em uma entrevista à USA Today Network em outubro de 2022.
Trump tem feito um grande esforço para se distanciar do Projeto 2025, um conjunto de propostas políticas conservadoras para um possível novo governo republicano. Ele afirmou falsamente não saber nada sobre o projeto — ou sobre as pessoas envolvidas na sua criação, embora alguns de seus fortes aliados tenham participado ativamente do processo.
Grande parte das quase 900 páginas do plano detalham reformas extremas na administração executiva. Entre muitas recomendações, o Projeto 2025 apresenta planos para criminalizar a pornografia, desmantelar os departamentos de Comércio e Educação, rejeitar a ideia de aborto como cuidado de saúde e eliminar proteções climáticas.
Trump, no entanto, disse no início deste mês que apoia o projeto de uma nova plataforma para o Partido Republicano. A ideia é que a proposta reflita a nova posição do pré-candidato à Casa Branca sobre o direito ao aborto e torne mais abrangentes outros pontos de diferentes áreas no governo. O comitê da plataforma da convenção republicana adotou o projeto, apesar das preocupações de alguns ativistas contra o aborto. (Com agências internacionais)