Logo Folha de Pernambuco

TECNOLOGIA

Na Noruega, o futuro já chegou: país deve bater meta e vender só carros elétricos em 2025

Em 2017, quando anunciou o objetivo, marco foi visto como utópico. Mas, em 2024, quase 90% dos novos veículos no país eram movidos apenas a bateria

Estações de carregamento para carros elétricos nos arredores da capital norueguesa, Oslo, capital norueguesa Estações de carregamento para carros elétricos nos arredores da capital norueguesa, Oslo, capital norueguesa  - Foto: Jonathan Nackstrand/AFP

Em 2017, a Noruega estabeleceu a meta de eliminar as vendas de carros movidos a combustíveis fósseis até 2025. Na época, isso parecia mais um sonho otimista para suavizar a imagem do governo liderado por Erna Solberg, uma conservadora defensora da produção de petróleo que havia ganhado o apelido de "Erna de Ferro".

Chegamos em 2025 e o país, de fato, parece que vai bater o marco. No ano passado, os veículos totalmente elétricos representaram 88,9% dos carros novos vendidos na Noruega, um aumento em relação aos 82,4% em 2023, de acordo com dados da Federação Norueguesa de Estradas (OFV) divulgados nesta quinta-feira.

Mas, como a Noruega conseguiu este feito?
Claro, subsidiar carros elétricos fica mais fácil em um país que tem grandes receitas com a exportação justamente de combustíveis fósseis. Grande produtor de petróleo e gás, a Noruega obtém mais de US$ 100 bilhões anuais em divisas com esses combustíveis.

 

Ainda assim, alcançar a meta de uma frota 100% movida a bateria não deixa de ser um feito num momento em que as vendas de veículos elétricos desacelera na Europa e os EUA têm pela frente um progresso vacilante neste quesito, com a descarbonização da economia em risco após a vitória de Donald Trump para mais um mandato na presidência.

— A Noruega será o primeiro país do mundo a praticamente eliminar carros com motores a gasolina e diesel do mercado de carros novos — disse Christina Bu, secretária-geral da associação norueguesa de veículos elétricos.

A meta inicial era “utópica”, diz Harald Andersen, chefe da associação de importadores de automóveis da Noruega, que representa empresas que vão de novatas chinesas a gigantes alemãs como a Volkswagen. Os modelos mais vendidos no país são da Tesla, seguida por Volkswagen e Toyota. Os veículos elétricos chineses agora representam quase 10% das vendas de carros novos no país.

— Nós estabelecemos metas ambiciosas, mas essas metas foram acompanhadas das políticas certas — afirmou Andersen.

Incentivos aos donos de veículos elétricos
Essas políticas consistem principalmente em incentivos, que remontam a 1994, quando o Think City — um pequeno veículo elétrico quadrado que estreou nas Olimpíadas de Inverno de Lillehammer — foi isento de taxas de registro.

À medida que a tecnologia amadureceu uma ou duas décadas depois, governos sucessivos adicionaram benefícios para os motoristas de carros elétricos: estacionamento gratuito, acesso a faixas de ônibus e isenções de pedágios, taxas rodoviárias e impostos.

Embora a Noruega tenha começado a reduzir alguns desses benefícios — desde 2023, por exemplo, compradores de modelos mais caros precisam pagar parte do IVA, imposto sobre valor agregado — os mais importantes permanecem, tornando os carros elétricos uma presença constante nas estradas norueguesas.

Como resultado, oficinas mecânicas estão investindo em treinamento para carros elétricos e em instalações adequadas para trabalhar com baterias. Redes de postos de combustíveis como a Circle K estão substituindo bombas de gasolina por pontos de carregamento elétrico. E operadores da rede elétrica do país estão sobrecarregados com pedidos de conexões de alta voltagem necessárias para os pontos de recarga.

Os carros elétricos inicialmente se estabeleceram em cidades como Oslo e Bergen, mas agora estão aparecendo em localidades tão distantes quanto a ilha ártica de Svalbard e Kirkenes, a poucos quilômetros da fronteira com a Rússia.

Em setembro, baterias alimentaram pelo menos 90% dos carros novos vendidos em todos os condados da Noruega, chegando a 98% em alguns lugares, segundo a Federação Rodoviária. A cifra representa um grande salto desde 2012, quando sua participação de mercado era de apenas 2,8%.

Mesmo assim, quando se considera o total de carros em circulação no país, hoje os veículos elétricos representam apenas um quarto da frota nas ruas e provavelmente não alcançarão metade antes de 2030.

Atualmente, há cerca de 170 modelos elétricos disponíveis na Noruega. A Tesla superou Toyota e Volkswagen para se tornar a marca mais vendida. Fabricantes chinesas como Xpeng, BYD e Nio disputam espaço privilegiado no centro de Oslo. E concessionárias atraem clientes com eventos de vendas, como festas e passeios familiares para fazendas de alpacas.

Embora veículos movidos a gasolina ainda possam ser vendidos em 2025, já que há um cronograma gradual para a proibição total, os veículos elétricos na prática têm um custo de propriedade muito mais baixo na Noruega, dada à escala de benefícios tributários que o país concede.

Mesmo com os incentivos, o apelo inicial dos carros elétricos era restrito aos noruegueses mais ambientalmente conscientes, mas isso está mudando à medida que cresce a confiança na tecnologia e as opções de recarga se multiplicam, diz Christina Bu. No início, era comum que os compradores mantivessem seus carros a combustão como reservas, mas hoje quase dois terços das famílias com carros elétricos usam apenas estes veículos.

— As pessoas vêm até mim com os olhos brilhando e dizem que nunca quiseram um carro elétrico, mas agora têm tanto orgulho de possuir um — afirma Christina. — Há uma lição nisso para outros países.

Veja também

Sentença de Trump sobre caso envolvendo atriz pornô é marcada para antes da posse
ESTADOS UNIDOS

Sentença de Trump sobre caso envolvendo atriz pornô é marcada para antes da posse

Biden vai proibir novas perfurações de petróleo em extensão das águas do Atlântico e do Pacífico
ESTADOS UNIDOS

Biden vai proibir novas perfurações de petróleo em extensão das águas do Atlântico e do Pacífico

Newsletter