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RIO DE JANEIRO

Na onda do G20: revista inglesa ensina como visitantes podem irritar (ou não) os cariocas

Com a cidade cheia de estrangeiros, a publicação dá dicas de coisas que podem tirar moradores do sério como falar mal da cidade

Foto: Luis Robayo/AFP

O Rio tem inúmeras qualidades, mas também muitas mazelas crônicas e bem conhecidas. Seus moradores são os primeiros a reconhecer — e reclamar — dos problemas dessa bela metrópole tropical. Mas que ninguém se engane: falar mal da cidade perto de um carioca é meio caminho andado para iniciar uma treta daquelas. Isso porque só mesmo quem vive por aqui tem autorização expressa para apontar o dedo ranzinza para os problemas e resmungar com o devido “lugar de fala”.

Essa é uma das dez dicas que constam de uma bem-humorada lista com o sugestivo título “How to annoy a Carioca” (Como irritar um Carioca), publicada em edição especial da revista Time Out sobre o Rio, lançada de olho no público que invadiu a cidade para o G20.

Na pequena introdução da lista, a publicação inglesa especializada em destrinchar os principais atrativos de grandes destinos turísticos mundo afora alerta seus leitores de que as dicas podem ser usadas justamente para evitar as tais tretas, mas que a escolha é do visitante.

Na mesma linha do primeiro conselho, a revista chama a atenção de que ficar por aí sugerindo que a cidade é perigosa pode não ser a melhor forma de fazer amigos entre os locais. Em que pese o fato de que qualquer carioquinha recém-saído das fraldas logo aprende que, de fato, a cidade tem seus perigos, não pega bem esfregar essa realidade na cara da cariocada.

O artigo aposta que a resposta virá na ponta da língua com algo na linha de que “toda grande cidade tem seus problemas com segurança” e que “pesquisas mostram que as coisas estão melhorando por aqui”.

Agora, se o objetivo for mesmo iniciar uma discussão mais acalorada que uma tarde de verão nas ruas lotadas da Saara, no Centro, é fácil: basta insinuar que São Paulo é melhor que o Rio em qualquer aspecto. Ou melhor, insistir em pedir uma bolacha — termo usado no “dialeto” dos paulistas — em vez de um biscoito que, obviamente, é a forma correta de se referir ao farináceo, com ou sem recheio. Nenhuma dúvida a respeito.

A lista da revista alerta os visitantes para prestar atenção aos detalhes. Criticar o uso de chinelos de dedo? Nem pensar. E não importa onde. É de bom tom saber que, para os cariocas, o acessório é bem-vindo na praia, num passeio no shopping ou mesmo no fim daquela festa de casamento bem animada. Nada de torcer no nariz.

Um antigo estereótipo que deve ser evitado — ou usado, depende da intenção — é sugerir, numa conversa, que os moradores do Rio não são, digamos, chegados a pegar no pesado. A publicação tenta ensinar aos gringos que o fato de a cidade ter algumas das mais belas e conhecidas praias do Brasil o que, eventualmente, possibilita aos seus moradores aquele mergulho revigorante antes ou depois do expediente, não significa que o povo daqui seja arisco à labuta.

A lista publicada pela revista está longe de esgotar o arsenal de gatilhos capazes de transformar cariocas simpáticos e afáveis em ferrenhos defensores de seus usos e costumes. Falar mal de nossas cervejas ou — pior, muito pior — da nossa consagrada comida de boteco é suficiente para abrir um acalorado debate. Torcer o nariz para um legítimo “pé sujo” também não é de bom tom. Ao menor sinal de “nojinho” é bem capaz que os olhares dos locais ganhem ares mais críticos.

Tratar com desdém o samba é outro portal para a treta. Falar mal e classificar como barulhenta a música carioca por excelência é outro erro grave. A cidade que trata a bateria da Império Serrano como a “Sinfônica do Samba” não está preparada para tamanho acinte.

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