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EUA

Na TV, Biden volta a citar Amazônia e não responde sobre aumentar Suprema Corte

Biden também criticou a política externa de Trump, especialmente no que diz respeito às relações com a Rússia, Coreia do Norte e Otan

Joe BidenJoe Biden - Foto: Saul Loeb / AFP

Respondendo a perguntas de eleitores na noite de quinta-feira (15), Joe Biden, candidato democrata à presidência dos EUA e líder nas pesquisas, voltou a citar a importância da Amazônia para conter as mudanças climáticas. "O maior sequestrador de carbono no mundo é a Amazônia. A cada ano, ela absorve mais carbono que as emissões inteiras dos Estados Unidos", disse.

Biden também criticou a política externa de Trump, especialmente no que diz respeito às relações com a Rússia, Coreia do Norte e Otan. Ele deixou implícito que gostaria de retomar o poder simbólico do país nas relações exteriores. "Estamos mais isolados do que nunca. O 'America first' [América em primeiro lugar] deixou a América sozinha", afirmou.

O candidato disse que "não era fã" da ideia de aumentar o número de juízes na Suprema Corte dos EUA -especula-se que ele poderia fazer isso para reverter a maioria conservadora no tribunal- mas disse que isso depende, em última instância, de como transcorrerá o processo de confirmação de Amy Coney Barrett, juíza indicada por Trump após a morte de Ruth Bader Ginsburg (1933-2020).

Na sabatina transmitida em rede nacional, Biden manteve sua calma característica e investiu em peso na discussão de políticas públicas concretas que tomaria caso fosse eleito. Ele voltou a criticar enfaticamente a responsabilidade do presidente Donald Trump na gestão da pandemia de Covid-19. "O que ele está fazendo? Nada" disse. "Há uma responsabilidade presidencial de liderar e ele não fez isso. Só falava do mercado financeiro."



O ex-vice-presidente na gestão Obama (2009-2017) reforçou que tem um plano estruturado para combater o vírus e que adotaria um discurso claro sobre as medidas sanitárias corretas, especialmente o uso de máscaras. Por outro lado, dosou isso com questões caras aos americanos, como a priorização da reabertura econômica ("Não há porque fechar a economia se todos usarem máscaras") e a liberdade de tomar ou não uma vacina contra a Covid-19, quando ela sair. Ele disse implicitamente que poderia tornar a vacina obrigatória caso ela tivesse eficácia suficiente para quase toda a população.

Também bateu na tecla de Trump reduziu impostos para empresas bilionárias, e que o governo geraria empregos e melhoraria a situação econômica retomando a taxação anterior. "Quando você deixa as pessoas voltarem ao jogo e terem emprego, tudo se movimenta", disse. Ele frisou que não aumentará os impostos da classe média –apenas de quem ganhar mais de US$ 400 mil por ano.

Questionado por um estudante sobre como atrair o eleitorado jovem e negro -que pode favorecer Trump significativamente ao não votar por falta de identificação com ambos os candidatos-, Biden abordou políticas específicas para essa população.

"Para além de tornar o sistema criminal mais justo e decente, precisamos colocar os negros americanos numa posição de gerar riqueza", disse. Ele faria isso investindo em escolas para crianças de baixa renda, universalizando o acesso à creche e injetando US$ 70 bilhões em universidades historicamente voltadas à população negra.

Sendo centrista, no entanto, contrariou um dos principais slogans do movimento Black Lives Matter na última temporada de protestos. "Não devemos cortar o financiamento da polícia, devemos mudar as coisas dentro dos departamentos policiais", afirmou. "Nenhum policial bom gosta dos maus policiais."

A noite foi uma espécie de Guerra Fria para os candidatos à presidência. Em vez de se confrontarem diretamente -como era o plano original- ambos participaram de sabatinas simultâneas feitas por eleitores. O evento de Biden foi transmitido pela emissora ABC e realizado na Filadélfia, enquanto o de Trump foi transmitido pela rede de canais NBC e realizado em Miami, na Flórida.

O modelo, conhecido como town hall, foi adotado de última hora com o cancelamento do segundo debate da campanha, marcado para a quinta-feira (15) em Miami. Visando reduzir as chances de contágio por Covid-19 após a infecção de Trump, a comissão organizadora estipulou que os candidatos se enfrentariam virtualmente.

A campanha do republicano se recusou a acatar esse modelo, sugerindo, em vez disso, postergar em uma semana os próximos debates. Após 48 horas de negociações infrutíferas, o evento foi desmarcado. "Sempre tivemos problemas com essa comissão, ela foi ridícula", debochou o presidente, na sua primeira aparição na TV após ter alta do hospital. "Quem quer fazer um debate num computador? Você tem que estar ali."

Os town halls são realizados em meio a denúncias de irregularidades no sistema eleitoral, tentativas da parte do partido Republicano de fraudar resultados -distribuindo urnas falsas na Califórnia- e acenos do presidente a grupos extremistas. Ao momento tenso, soma-se a recusa da chapa de Trump em se comprometer com uma transferência pacífica de poder em caso de derrota e a expectativa de que, em função disso, os resultados vão parar na Suprema Corte -agora com maioria ampla de conservadores.

Para o presidente, a sabatina foi uma tentativa de repor a perda de um espaço de alta visibilidade para tentar se reerguer. Trump está 10,5 pontos atrás de Biden na média das pesquisas eleitorais, segundo o site FiveThirtyEight. O democrata tinha 52,4% das intenções de voto, contra 41,9% do republicano. O site calcula que Biden tem 87% de chance de ganhar a eleição.

A Pensilvânia, onde Biden falou, é considerado um estado-chave para as eleições americanas. Em 2016, o resultado foi apertadíssimo: Trump levou os 20 delegados do colégio eleitoral do estado com 48,5% dos votos, contra 47,5% de Hillary Clinton.

O próximo e último debate antes da eleição -marcada para 3 de novembro- ocorrerá no dia 22 de outubro, em Nashville, no estado do Tennessee.

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