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Na Venezuela, irmãs viram heroínas ao desafiar regime com venda de quitutes à opositora de Maduro

Caso de Corina e Elys Hernández viralizou, e restaurante da Venezuela recebeu doações e visitas de apoiadores de María Corina Machado

María Corina Machado, líder da oposição na VenezuelaMaría Corina Machado, líder da oposição na Venezuela - Foto: Reprodução/Instagram

Na Venezuela, um carro parou em frente a um modesto restaurante no estado de Guárico, na vasta savana da Venezuela. De trás do volante, o motorista gritou: "Vocês são aquelas que tiveram o negócio fechado pelo governo? Quero tirar uma foto com vocês!" Ao sair do carro, o homem aproximou-se de Corina Hernández, de 44 anos, uma das proprietárias do restaurante. Tirou uma selfie. "Estamos todos indignados", ele disse.

Hernández e a sua irmã Elys tornaram-se improváveis heroínas políticas populares no momento em que a Venezuela caminha para as eleições mais competitivas dos últimos anos. O motivo? Vender 14 quentinhas e um punhado de empanadas à principal figura da oposição do país. A resposta do governo veio poucas horas depois — uma ordem que obrigava as irmãs a fechar temporariamente seu negócio.

O caso foi amplamente compartilhado na internet, transformando as irmãs em um símbolo de desafio para os venezuelanos cansados dos líderes autoritários do país. (Desde então, as irmãs ganharam um grande número de seguidores nas redes sociais para além da Venezuela e rebatizaram seus quitutes como "empanadas da liberdade"). Mas o negócio das irmãs é apenas um dos vários que sentiram o braço forte do governo após oferecerem serviços cotidianos à principal opositora política do presidente Nicolás Maduro, María Corina Machado.

Corina Machado, uma ex-legisladora e crítica de longa data de Maduro, nem sequer é candidata, mas está capitalizando sua popularidade para fazer campanha ao lado e em nome do principal candidato presidencial da oposição. E onde quer que vá na campanha, as pessoas que a ajudam são perseguidas pelas autoridades.

Nas últimas semanas, entre os visados, contam-se seis operadores de equipamento de som que trabalhavam em um comício, um caminhoneiro que recolhia material para um evento de campanha em Caracas e quatro homens com canoas que asseguravam o transporte em um posto avançado venezuelano empobrecido.

Algumas pessoas foram detidas durante horas, disseram em entrevistas, arrastadas para o famoso centro de detenção conhecido como Helicoide. Outros tiveram equipamentos apreendidos e negócios fechados, privando-os de seu sustento.

"Nesses dias, não tínhamos nada para comer" disse o caminhoneiro Francisco Ecceso, referindo-se aos 47 dias em que o seu veículo ficou apreendido pela polícia.

Para as figuras da oposição e para os analistas que acompanham o declínio da democracia do país nos últimos anos, essas pequenas perseguições são sinais claros de que o governo está procurando novas formas de reprimir a oposição e de exibir seu poder. Seja qual for a motivação, há um consenso generalizado de que as eleições, marcadas para 28 de julho, representam o maior desafio eleitoral aos 11 anos de Maduro no poder.

Pela primeira vez em anos, a oposição está unida em torno de uma única figura — Corina Machado — que tem amplo apoio dos eleitores. Quando ela foi impedida pelo governo Maduro de concorrer, sua coalizão conseguiu colocar um substituto nas urnas, um antigo diplomata de fala mansa chamado Edmundo González.

As pesquisas mostram que a maioria dos venezuelanos planeja votar em González e que estão frustrados com a fome generalizada, a pobreza e os níveis crescentes de imigração, que obrigaram as famílias a se separar.

Maldição transformada em benção
As irmãs Hernández dirigem seu restaurante, Pancho Grill, na pequena cidade de Corozo Pando, a cinco horas de carro ao sul de Caracas, em uma das regiões mais pobres do país. Ao todo, são cinco irmãos Hernández — quatro irmãs e um irmão — e duas delas, Corina e Elys, cuidam do restaurante, juntamente com a sua tia Nazareth.

Na cidade, depois de uma crise econômica que começou por volta de 2015, as pessoas que antes tinham empregos decentes agora ganham a vida procurando sucata para vender, e as mães recorreram à caça de pequenos caititus e roedores semelhantes a porcos, conhecidos localmente como picures, para alimentar seus filhos.

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