'Não errei nenhuma', diz Bolsonaro ao insistir em tratamento precoce e em críticas a isolamento
Além das criticas pelas restrições feitas pelos governos estaduais, o presidente afirmou que só compra vacina após aprovação da Anvisa
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Em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, na manhã desta segunda-feira (1º), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nunca ter errado ao longo da pandemia de Covid-19 ao defender o ineficaz tratamento precoce, criticar medidas restritivas e ao dizer que só pode comprar vacinas após aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), apesar de não ter feito isso com os imunizantes utilizados atualmente no Brasil.
"Desculpe aí, pessoal, não vou falar de mim, mas eu não errei nenhuma desde março do ano passado. E não precisa ser inteligente para entender isso. Tem que ter um mínimo de caráter. Agora só quem não tem caráter que joga o contrário", disse Bolsonaro em uma conversa gravada e transmitida por um canal de internet simpático ao presidente.
No diálogo, Bolsonaro voltou a defender o tratamento precoce, afirmando que "é um direito do médico trabalhar off label", expressão que tem utilizado ao longo da pandemia para defender o uso de medicamentos que não têm eficácia comprovada contra a Covid-19.
Bolsonaro disse que, quando recebe notícias de que há algum tratamento em outro país, ordena que o embaixador brasileiro no local confirme. "O que mandei confirmar agora é a Coreia do Sul, com a cloroquina", disse.
Publicações sul-coreanas relatam que testes com a droga foram interrompidos em junho do ano passado.
"Negócio de spray, quando chegar no Brasil, deve estar tudo caminhando para chegar, vão também demonizar o spray. Pode ter certeza disso", disse Bolsonaro, que mandará uma comitiva a Israel nesta quarta-feira (3).
Há, atualmente, 35 pesquisas em humanos avaliando 22 possibilidades de drogas contra Covid-19 aplicadas por inalação feita em hospital. O estudo de Israel com o spray nasal EXO-CD24, citado por Bolsonaro, é um dos mais iniciais entre os registros de pesquisas clínicas.
A chamada fase 1 do EXO-CD24 começou no final de setembro do ano passado e, oficialmente, seria concluída apenas em 25 de março. As informações são da base internacional Clinical Trials, que reúne dados sobre experimentos de medicamentos, diagnósticos e vacinas com pessoas no mundo todo.
A droga está sendo testada para Covid-19 com 30 voluntários e, por enquanto, não há resultados publicados em artigo científico nem da fase 1, que ainda não está oficialmente concluída.
"Aqui dentro [no Brasil] você não pode falar [em] off label, virou crime", disse o presidente.
Bolsonaro também falou aos apoiadores sobre a vacina. O Brasil já aplicou ao menos uma dose de vacina em 6.576.109 pessoas, segundo o consórcio de veículos de imprensa. O número representa 3,11% da população brasileira.
A segunda dose já foi aplicada em 1.933.404 pessoas, o equivalente a 0,91% da população do país.
Bolsonaro disse que, em março, o país deve ter, "no mínimo", 22 milhões de doses de vacina.
Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou no domingo (28), em reunião no Palácio da Alvorada, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, apresentou um cronograma que prevê entregar mais 25 milhões de doses de vacinas em março e 45 milhões em abril. As informações, fornecidas pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que participou do encontro, dizem respeito a imunizantes Oxford/AstraZeneca e Coronavac, os únicos em aplicação no Brasil até agora.
"Alguns criticam o Brasil, me criticam. A vacina a gente só podia comprar depois que a Anvisa autorizar. Não é 'vou comprar qualquer negócio que aparecer'. Então, começou essas vacinas a serem certificadas pela Anvisa, estamos comprando", disse Bolsonaro. No entanto, os contratos com os dois imunizantes em uso no país foram firmados antes que a Anvisa aprovasse seu uso.
Na conversa com apoiadores, Bolsonaro também criticou medidas de isolamento e as restrições que estão sendo asseveradas por governadores na tentativa de frear o aumento do número de casos e mortes por Covid-19.
"Não deu certo no ano passado", afirmou o presidente. "O ano passado eu falei [que] a depressão leva ao suicídio. Zombaram de mim também. Ontem reconheceram. E não precisa ser inteligente para entender isso. Você confinado, isolado, você entra em depressão. Não precisa ser inteligente, mas precisa ser muito mau caráter para não entender", disse.