'Não existem múltiplos gêneros', diz superintendente de escolas em Oklahoma após morte de estudante
Nex Benedict morreu pouco depois de uma briga no banheiro feminino da escola
Em seu tempo como superintendente estadual das escolas públicas de Oklahoma, Ryan Walters, um ex-professor de história do ensino médio, se transformou em um dos mais estridentes guerreiros culturais em um estado conhecido por políticas conservadoras.
Após a morte, no início deste mês, de um estudante não-binário (cuja identidade de gênero não é estritamente masculina ou feminina) de 16 anos, um dia depois de uma briga no banheiro feminino de uma escola, ativistas LGBTQIAP+ acusaram Walters de ter fomentado uma atmosfera de intolerância perigosa nas escolas públicas.
Na sua primeira entrevista após a morte de Nex Benedict, o Walters disse que a morte foi uma tragédia, mas que não mudou a sua opinião sobre como as questões de gênero deveriam ser tratadas nas escolas.
— Não existem múltiplos gêneros. São dois. Foi assim que Deus nos criou — disse Walters, acrescentando que não acredita na existência de pessoas não-binárias ou transgêneros.
Ele disse que as escolas de Oklahoma não permitiriam que os alunos usassem nomes ou pronomes preferidos que fossem diferentes de seu sexo de nascimento.
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— Você sempre trata os indivíduos com dignidade ou respeito, porque eles são feitos à imagem de Deus. Mas isso não muda a verdade.
Walters, que é o responsável pelas escolas públicas de Oklahoma e é visto como um possível candidato a cargos superiores, tem sido uma das vozes mais altas no estado, buscando impedir a discussão e promoção de questões LGBTQ nas escolas.
Os seus colegas republicanos no Legislativo apoiaram uma onda de leis novas e propostas destinadas a gays e transexuais.
Em entrevistas, estudantes transexuais disseram que a retórica de funcionários como Walters foi vista pelos seus colegas como uma permissão para assediá-los e intimidá-los na escola.
E em uma reunião do conselho de educação de Oklahoma esta semana, Sean Cummings, vice-prefeito de uma cidade adjacente a Oklahoma City, conhecida como The Village, culpou as políticas anti-gays e anti-transgêneros do conselho pela intimidação de Nex.
— Você provocou isso — disse ele, dirigindo-se diretamente a Walters.
Permanecem dúvidas sobre o bullying que os familiares disseram que Nex havia sofrido na Owasso High School antes da briga no banheiro em 7 de fevereiro. A polícia disse na quarta-feira que Nex não morreu de trauma, uma conclusão que Walters reiterou.
— Fomos informados de que a morte não estava diretamente relacionada com a briga na escola — disse ele, alertando que a investigação está em andamento.
Na noite de sexta-feira, o Departamento de Polícia de Owasso divulgou vários vídeos mostrando Nex andando sozinho após a briga e, separadamente, falando no hospital com um policial.
Nex disse ao policial que jogou água em várias meninas que zombavam dele dentro do banheiro feminino, e que três meninas o jogaram no chão e “começaram a espancá-lo”.
— Eu desmaiei — disse Nex ao policial.
Os investigadores ainda não determinaram o que causou a morte do estudante, disse Nick Boatman, porta-voz do Departamento de Polícia de Owasso.
Sarah Kate Ellis, presidente da organização de defesa GLAAD, chamou a morte de “um ataque trágico, sem sentido e chocante que nunca deve ser esquecido” em uma postagem no Instagram esta semana.
Walters disse que a tragédia foi agravada por defensores externos que buscavam defender uma posição política.
— Acho terrível que tenhamos tido alguns esquerdistas radicais que decidiram seguir uma agenda política e tentar tecer uma narrativa que não é verdadeira. Você sofreu uma tragédia e algumas pessoas tentaram explorá-la para obter ganhos políticos — disse.
Os policiais conduziram entrevistas com alunos e funcionários da Owasso High School. O distrito escolar disse que a briga durou menos de dois minutos e que os alunos envolvidos puderam caminhar até a enfermaria depois.
Nenhuma denúncia à polícia foi feita até que Nex foi levado ao hospital por um membro da família, disse a polícia. O estudante não-binário foi para casa naquele dia. No dia seguinte, Nex foi levado de volta ao hospital por médicos locais e foi declarado morto.
O gabinete do médico legista do estado recusou-se a comentar a autópsia ou quaisquer resultados toxicológicos, mas disse que o seu relatório final seria eventualmente tornado público.