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Meio Ambiente

'Não há desenvolvimento sem cuidado com a natureza', diz ministra chilena

Maisa Rojas é encarregada de moldar o primeiro "governo ecológico" do país

Rojas  Rojas assumiu o desafio de liderar a agenda "ecologista" do presidente Gabriel BoricRojas Rojas assumiu o desafio de liderar a agenda "ecologista" do presidente Gabriel Boric - Foto: Martin Bernetti/AFP

"Não há desenvolvimento sem cuidado com a natureza", afirma em entrevista à AFP a ministra do Meio Ambiente do Chile, Maisa Rojas, encarregada de moldar o primeiro "governo ecológico" do país, chefiado pelo jovem presidente Gabriel Boric.

Há um ano, Rojas assumiu o desafio de liderar a agenda "ecologista" de Boric, uma prioridade para este presidente 'milenial' de 37 anos - o mais jovem da história do Chile -, que em 11 de março completa seu primeiro aniversário no poder.

Entre os feitos deste período, Rojas destaca à AFP a promulgação da lei Marco de Mudança Climática, que transforma o Chile no primeiro país em desenvolvimento a estabelecer por lei a neutralidade de carbono no mais tardar em 2050, assim como avanços no Congresso da lei que cria o Serviço de Biodiversidade de Áreas Protegidas (SBAP).

Primeiro produtor mundial de cobre, importante ator na extração de lítio, na pesca de salmão e na produção de madeira, o Chile está tentando abrir seu próprio caminho para um modelo de desenvolvimento respeitoso com o meio ambiente, ainda que sem uma referência clara.

A ideia é "dar ao país um novo modelo de desenvolvimento", diz Maisa Rojas, doutora em Ciências Atmosféricas da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Se a economia "é feita às custas da destruição do meio ambiente, na realidade estamos minando o desenvolvimento", acrescenta.

Agenda verde

A mineração do cobre, do qual o Chile produz quase um quarto da oferta global, representa entre 10% e 15% do PIB do país. O lítio tem ganhado terreno nos últimos anos.

Pergunta: Como compatibilizar uma agenda verde em um país que baseou seu desenvolvimento no extrativismo de recursos naturais?

Resposta: "Passando a um novo modelo de desenvolvimento, no qual a extração dos nossos recursos naturais deixe de ser não sustentável, para um em que provavelmente vamos continuar extraindo alguns recursos, mas de forma sustentável".

"Essa transformação requer uma transição, que é um processo que não ocorre do dia para a noite, e essa transformação deve ser ecológica e também social".

Rojas cunha o conceito de "Transição socioecológica justa" e explica que parte destas transformações "significam potencializar novas áreas de produção que não estejam tão centradas no extrativismo puro e que têm que balancear o cuidado com o meio ambiente frente à crise de perda da biodiversidade, a da mudança climática e a contaminação".

Pergunta: O Chile se impôs o compromisso de proteger ao menos 30% de seu território. Quando o país cumprirá esta meta?

Resposta: "O Chile se comprometeu a cumprir a meta em 2030 (...) Temos trabalhado em um portfólio de criação de novas áreas protegidas 2022-2026, que somam cerca de 50 iniciativas e que aportarão novas áreas protegidas durante este governo", que termina em 2026.

Proteger a biodiversidade

No recente Congresso Futuro 2023, evento que reúne no Chile diversas personalidades científicas, Rojas lembrou que 25% das espécies estão ameaçadas pelas mudanças climáticas, ou seja, mais de um milhão estão em risco de extinção.

Pergunta: Qual a senhora espera que seja o legado do seu governo?

Resposta: "Espero que no fim deste ano possamos implementar um serviço de biodiversidade e áreas protegidas. É uma condição habilitante para assumirmos um novo compromisso internacional que temos, juntamente com os outros quase 200 países que fazem parte da Convenção sobre a Diversidade Biológica.

O Chile tem uma quantidade importante (de ecossistemas), que não existem em nenhuma outra parte do mundo. Se forem perdidos, serão extintos para sempre. É irreversível e o compromisso que o Ministério do Meio Ambiente tem é proteger estes ecossistemas únicos".

Fazer sua parte 

Pergunta: Como se pode lutar contra a mudança climática?

Resposta: "Para enfrentá-la, devo reduzir os gases de efeito estufa, trocar, por exemplo, um ônibus a diesel por um elétrico. Ou ao invés de produzir energia queimando carvão, fazê-lo com energia solar. Para a atmosfera, tanto faz onde eu o fizer. Se troco este ônibus na cidade de Coyhaique (no Chile) ou em Paris ou Pequim, tanto faz".

Pergunta: Como somar países como Estados Unidos, China e Índia na luta contra a mudança climática?

Resposta: "No caso do Chile, demonstrando que um país pequeno pode ter uma ambição alta. Se um país pequeno pode fazê-lo, esperamos que isso seja uma pressão para que os países desenvolvidos façam sua parte".

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