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COP28

"Não podemos combater a mudança climática sozinhos": o pedido de ajuda de agricultores no Peru

Nos campos, as informações climáticas tornaram-se tão vitais quanto a água.

Mina Poderosa, província de Pataz, no PeruMina Poderosa, província de Pataz, no Peru - Foto: Governo do Peru

Após vários dias de seca, a chuva que cai apenas umedece as colheitas. Sem mais precipitações, os agricultores de Junín, no Peru, dificilmente acreditam que conseguirão continuar trabalhando nos campos do principal produtor de batata da América Latina.

"Não podemos combater a mudança climática sozinhos (...) não temos conhecimento para fazê-lo", declara Lidber Ramón, um agricultor de 40 anos, enquanto a chuva do meio-dia diminui nas montanhas de Jauja, na região central de Junín, onde vivem cerca de 4.500 agricultores e pecuaristas.

O verde desbotado das terras está relacionado a um "déficit de chuvas" do El Niño, um fenômeno cíclico que eleva a temperatura do oceano Pacífico, gerando secas ou inundações, explica à AFP Luis Romero, assessor para mudança climática da organização humanitária Save the Children.

O aquecimento global está "acelerando esses processos, encurtando o intervalos" entre um evento e outro, afirmou. Baseado em um estudo de sua organização, Romero garante que os nascidos após o ano 2000 verão nove fenômenos El Niño, três vezes mais do que a geração anterior.

Assim como a maioria dos agricultores, para realizar seu trabalho no campo, Ramón se guiava pelos sinais da natureza — o que os especialistas chamam de bioindicadores — como migração das aves, o aparecimento de pragas, nuvens ou as horas do sol.

"Este conhecimento já não é suficiente, precisamos de informação (...) Não vamos conseguir fazer nada sozinhos (...) Muitas pessoas da minha aldeia estão migrando para a cidade. Alguns lugares parecem cidades fantasmas", diz ele.

Nos campos, as informações climáticas tornaram-se tão vitais quanto a água.

Informações no boca a boca
A ONG Save the Children trabalha junto ao Estado peruano na implementação de um sistema de informação agroclimática que atualiza as previsões meteorológicas a cada 10 dias com uma projeção de três meses. Além de calcular o impacto das chuvas, geadas ou secas nos cultivos de batata.

"Passamos de uma informação muito aberta e muita amplas a uma informação mais específica (...) para que os agricultores tomem medidas adequadas para enfrentar o clima" como, por exemplo, armazenar água ou reforçar os abrigos de animais, diz Romero.

Entretanto, o especialista indica que as comunidades rurais de Jauja enfrentam um "bloqueio de informação" pelo acesso limitado aos serviços de energia e internet, por isso estão realizando capacitação em oficinas presenciais para compreenderem os dados agroclimáticos. Dessa forma, podem transmitir este conteúdo em suas comunidades "de boca em boca", completou.

Com 1,2 milhão de habitantes — 22% em situação de pobreza —, Junín é um dos principais produtores de batata nativa (sem modificação genética) do Peru. Os agricultores alternam seu cultivo com a criação de ovelhas, alpacas, vacas e vicunhas.

Em 2022, apenas em uma comunidade de 200 habitantes, 382 das 1.000 alpacas morreram, de acordo com o líder local Jaime Bravo. As fêmeas e seus filhos morreram por falta de pasto em meio a uma seca atípica.

Outros agricultores vendem seus animais para plantar alimentos que a seca estraga. Condenados à falência, abandonam os campos, diz Naida Navarro, de 54 anos e dona de seis vacas.

Entre janeiro e setembro, a produção agropecuária do Peru caiu 3,6% em relação ao mesmo período de 2022, de acordo com a estatística oficial. O Banco Central de Reserva estima que este ano o setor registrará sua pior contração desde 1997, em grande parte devido às secas relacionadas ao El Niño.

Um dos cultivos mais afetados é o da batata, cujo principal produtor na América Latina é o Peru, segundo a agência da ONU para agricultura e alimentação.

Entre 2008 e 2019, cerca de 660 mil pessoas foram deslocadas neste país sul-americano devido a catástrofes naturais, sobretudo relacionadas ao El Niño, de acordo com dados do Conselho Norueguês para os Refugiados. O número representa 2% dos 33 milhões de peruanos.

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