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EUA

Nas redes sociais, Musk e Rubio batem boca com chanceler da Polônia sobre uso do Starlink na Ucrânia

Bilionário afirmou que linhas ucranianas "entrariam em colapso" se ele desligasse o sistema, e autoridades polonesas sugeriram se tratar de "falta de ética"

Soldados ucranianos preparam drones para uso no campo de batalha contra as forças russas no leste do paíSoldados ucranianos preparam drones para uso no campo de batalha contra as forças russas no leste do paí - Foto: David Guttenfelder/TNYT

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o principal conselheiro de Donald Trump na Casa Branca, Elon Musk, discutiram de forma ríspida, em redes sociais, com o chanceler da Polônia, por causa do uso do sistema de internet por satélite Starlink, de propriedade de Musk, na Ucrânia.

A disputa começou no domingo, quando Musk, respondendo a um de seus seguidores na rede social X — também de sua propriedade — sobre a guerra na Ucrânia, afirmou que seu sistema Starlink “é espinha dorsal do exército ucraniano”, e que “toda a linha de frente deles entraria em colapso se a desligasse”.

O uso do sistema, que permite o acesso à internet em locais isolados, foi concedido a Kiev nos primeiros momentos da guerra, em 2022, especialmente às forças de defesa ucranianas, assumindo um papel central na coordenação de ataques, inclusive em solo russo.

Inicialmente, os custos foram cobertos pela própria Starlink, mas passaram a ser assumidos em boa parte pelo Departamento de Defesa dos EUA e, desde 2023, também pela Polônia, que paga por quase 20 mil terminais no país.

Estima-se que haja 42 mil terminais em uso na Ucrânia. Por isso, o comentário com tom de ameaça de Musk não foi recebido com afagos em Varsóvia.

“Os Starlinks para a Ucrânia são pagos pelo Ministério da Digitalização da Polônia ao custo de cerca de US$ 50 milhões por ano”, escreveu, em resposta a Musk no X, o chanceler polonês, Radoslaw Sikorski.

“Deixando de lado a ética de ameaçar a vítima de agressão, se a SpaceX (que controla a Starlink) provar ser um fornecedor não confiável, seremos forçados a procurar outros fornecedores.”

Pouco afeito à diplomacia, Musk disse para Sikorski, chamado por ele de “homem pequeno”, “ficar quieto”.

“Você paga apenas uma pequena fração do custo. E não há substituto para o Starlink”, escreveu Musk.

Em seguida, foi a vez do secretário de Estado, Marco Rubio, se pronunciar, igualmente sem muito tato diplomático, uma característica marcante do governo de Donald Trump.

“Está apenas inventando coisas. Ninguém fez nenhuma ameaça sobre cortar a Ucrânia da Starlink”, respondeu Rubio, se referindo à crítica feita pelo homólogo polonês.

“E diga obrigado porque sem a Starlink a Ucrânia teria perdido essa guerra há muito tempo e os russos estariam na fronteira com a Polônia agora mesmo.”

A "aliança" entre Musk e Rubio veio dias depois de uma reportagem do jornal New York Times relatar uma discussão ríspida entre os dois, na Casa Branca, sobre o chamado Departamento de Eficiência Governamental, liderado pelo bilionário e que está realizando cortes profundos na máquina pública.

A Casa Branca não se pronunciou, mas um comentário do premier polonês, Donald Tusk, nesta segunda-feira sugeriu que os ânimos ainda estão exaltados.

“Liderança verdadeira significa respeito por parceiros e aliados. Mesmo pelos menores e mais fracos. Nunca arrogância. Caros amigos, pensem nisso”, escreveu no X.

Com cerca de 500 km de fronteira com a Ucrânia, a Polônia é uma ferrenha defensora de Kiev e da ajuda militar ao país vizinho, inclusive na forma dos terminais Starlink.

Ao mesmo tempo, Varsóvia lidera a lista de gastos com Defesa, em proporção do PIB, na Otan, a principal aliança militar do Ocidente, e tem incentivado os demais governos europeus a seguirem pela mesma rota. Especialmente diante do novo contexto político.

Tusk tenta manter bons laços com Trump e com a indústria bélica americana, mas não esconde o temor com uma possível redução da pegada militar dos EUA na Europa. Em reuniões com os demais líderes do continente, reitera que o momento é de fortalecer as capacidades defensivas, citando uma Rússia que deve sair empoderada de um eventual acordo de paz — na semana passada, em declarações ao Parlamento Europeu, disse que o país deveria explorar “possibilidades de ter as armas mais modernas”, incluindo “armas modernas não convencionais” e até mesmo nucleares.

No caso do Starlink, a ameaça de desligar o serviço na Ucrânia, negada por Musk no próprio domingo, já foi feita em outros momentos: em fevereiro, quando Washington e Kiev discutiam um acordo para o acesso dos americanos aos recursos minerais ucranianos em troca da ajuda militar, a agência Reuters revelou que negociadores da Casa Branca ameaçaram suspender o serviço caso não houvesse concessões do outro lado.

Neste contexto, a Europa tenta criar uma opção mais segura a curto prazo. Na semana passada, o portal Politico revelou que a Comissão Europeia está estudando como disponibilizar a Kiev o uso do sistema Govsatcom, já existente dentro da União Europeia, e ao IRIS, similar ao Starlink, mas que só estará em operação na próxima década.

“A chantagem dos EUA para o fornecimento do serviço de internet via satélite Starlink é inaceitável”, escreveu, em carta para a Comissão Europeia, o eurodeputado Christophe Grudler, no fim do mês passado. “Peço que a Comissão estude todas as soluções alternativas de satélite que a UE possa propor à Ucrânia.”

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