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Diplomacia

Negociadores querem relançar acordo nuclear iraniano

Nova rodada de negociações em Viena deve ser iniciada nesta quinta-feira (4)

Principal negociador nuclear do Irã, Ali Bagheri Kani, no Coburg Palais, local do Plano de Ação Abrangente Conjunto (JCPOA), em VienaPrincipal negociador nuclear do Irã, Ali Bagheri Kani, no Coburg Palais, local do Plano de Ação Abrangente Conjunto (JCPOA), em Viena - Foto: Alex HALADA / AFP

Os negociadores americanos, europeus e iranianos devem iniciar uma nova rodada de negociações em Viena, nesta quinta-feira (4), para tentar salvar o acordo sobre o programa nuclear iraniano após quatro meses de impasse.

É a primeira vez desde março que todas as partes (Irã, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) se reúnem, com a participação indireta dos Estados Unidos, para resgatar o acordo de 2015 que busca impedir que Teerã se dote de armas nucleares.

Os Estados Unidos, que haviam se retirado do acordo em 2018 sob a presidência de Donald Trump, voltam a participar das discussões desde abril de 2021, mas indiretamente, com a mediação da União Europeia (UE).

"Acho que há uma possibilidade real [de acordo], mas não será fácil", disse um alto funcionário europeu à noite.

Os Estados Unidos e o Irã ainda precisam negociar "a extensão do levantamento das sanções [dos EUA] e várias questões nucleares que não existiam em março", devido ao progresso feito pelo Irã desde então, acrescentou.


Expectativas limitadas

O primeiro dia foi marcado por encontros bilaterais no Palácio Coburgo, luxuoso hotel da capital austríaca onde decorrem as negociações sob os auspícios do coordenador da UE, Enrique Mora.

Mora recebeu sucessivamente pela manhã o embaixador russo Mikhail Ulianov, o representante chinês, Wang Qun, e o principal negociador iraniano, Ali Bagheri.

Este último chamou os Estados Unidos para "aproveitar esta ocasião (...) para agir com responsabilidade".

Russos e iranianos, com posições tradicionalmente próximas nessas negociações, também se reuniram.

O enviado de Washington, Robert Malley, também está em Viena. Antes de viajar, ele colocou panos frios nas expectativas.

"Nossas expectativas são limitadas, mas os Estados Unidos estão preparados de boa fé para tentar chegar a um acordo", tuitou.

"Veremos rapidamente se o Irã está disposto a fazer o mesmo", acrescentou.

A experiência de fracassos anteriores alimenta tanto a cautela quanto as expectativas.

"Estamos exaustos, não consigo imaginar estar aqui em quatro semanas. Esta não é mais uma sessão de negociação. Estamos aqui para finalizar o texto" do acordo, disse o funcionário europeu.


Guarda Revolucionária, um obstáculo a menos

Depois do último fracasso das negociações no Catar, no fim de junho, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, submeteu em 26 de julho uma proposta de entendimento e pediu às partes envolvidas que a aceitem para evitar uma "crise perigosa".

Analistas estimam que nem Washington nem Teerã têm interesse em cortar os canais diplomáticos.

"Diante da multiplicidade de desafios domésticos e internacionais, os Estados Unidos absolutamente não querem uma crise nuclear com o Irã que ameace degenerar em um conflito regional", analisou Suzanne DiMaggio, membro sênior do Carnegie Endowment for International Peace, com sede em Washington.

O Irã busca, por sua vez, obter o levantamento das sanções que sufocam sua economia.

Do lado positivo, a reunião começou com um obstáculo a menos, já que o Irã deixou de exigir que os Estados Unidos retirassem a Guarda Revolucionária, o exército ideológico da República Islâmica, da "lista de organizações terroristas".

Essa questão "não está mais na agenda" e "será discutida mais tarde", disse o alto funcionário europeu.

As garantias exigidas pelo Irã também não devem pesar negativamente caso o sucessor de Biden na Casa Branca queira recuar nos acordos.

"Agora temos garantias importantes, que devem satisfazer o Irã", disse o funcionário. 

No entanto, permanece sem solução o pedido de Teerã para que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o órgão de vigilância nuclear da ONU, encerre uma investigação em andamento.

O pacto de 2015, conhecido por sua sigla em inglês JCPOA, visa garantir a natureza civil do programa nuclear iraniano. 

Mas após a retirada unilateral dos Estados Unidos em 2018 sob o governo de Donald Trump e o restabelecimento das sanções dos EUA, Teerã se desvinculou progressivamente de suas obrigações.

O Irã ultrapassou a taxa de enriquecimento de urânio de 3,67% estabelecida pelo JCPOA, passando para 20% no início de 2021. Em seguida, superou o limite sem precedentes de 60%, aproximando-se dos 90% necessários para fazer uma bomba.

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