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ISRAEL

Netanyahu desiste de indicação de novo diretor do Shin Bet por críticas a Trump

Futuro do serviço de inteligência interna israelense está indefinido em meio a dificuldade de fechar novo nome e questionamento sobre demissão de ex-diretor na justiça

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de IsraelBenjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel - Foto: Menahem Kahana/AFP

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, recuou nesta terça-feira da decisão de nomear o ex-comandante da Marinha Eli Sharvit pra chefiar o serviço de inteligência interna israelense, o Shin Bet, em substituição ao ex-diretor Ronen Bar, demitido de forma polêmica, em uma iniciativa do governo que atropelou determinações judiciais.

Sharvit virou alvo de aliados conservadores de Netanyahu por criticar o presidente dos EUA, Donald Trump, e por ter protestado contra a reforma judicial defendida pelo premier — que analistas apontam como um risco à democracia no Estado judeu.

Netanyahu abandonou Sharvit um dia após anunciá-lo, na segunda-feira, após uma reação de aliados de direita, em parte porque ele havia escrito uma coluna dois meses atrás criticando a abordagem de Trump ao reverter políticas de combate às mudanças climáticas. O Gabinete de Netanyahu informou que ele se encontrou com o militar para informá-lo de que buscaria outros candidatos ao cargo, sem especificar um motivo.

Ronen Bar foi removido do cargo no mês passado, em meio a alegações de Netanyahu de que não haveria confiança mútua entre eles. Conselheiros jurídicos do governo e o Judiciário informaram que a demissão do diretor — a primeira na História do país — só seria possível com aprovação do órgão colegiado que aprovou sua indicação, o que não aconteceu, sendo decretada unilateralmente pelo governo. A Suprema Corte de Israel deve ouvir petições contra a demissão de Bar na próxima semana, e especialistas dizem que isso pode reverter a decisão de Netanyahu.

Críticos chamaram a ação de uma tentativa do premier de expurgar opiniões divergentes dos altos escalões do establishment de segurança de Israel. A decisão gerou protestos sobretudo porque o ex-diretor liderou o Shin Bet enquanto a agência esteve envolvida na investigação de alguns dos laços de assessores de Netanyahu com o Catar, incluindo acusações de que eles receberam pagamentos de pessoas ligadas ao governo da nação, com quem Israel não mantém relações oficialmente.

A queda de Sharvit
Adversários de esquerda e centristas de Netanyahu temiam que ele tentasse aumentar seu controle sobre o Shin Bet, nomeando um conselheiro próximo. Mas muitos saudaram Sharvit, que se aposentou do Exército em 2021, como um soldado experiente e capaz. A reação contrária, porém, veio da direita aliada ao premier.

O jornal israelense Yediot Aharonot noticiou que, em 2023, o agora ex-indicado participou de manifestações contra a reforma judicial de Netanyahu, que atraiu milhões de pessoas de diferentes partes do espectro político israelense, contra as tentativas de interferência e controle do Judiciário pelo Executivo. Sharvit não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre sua participação.

Tally Gotliv, uma parlamentar do Likud, partido liderado por Netanyahu, denunciou Sharvit como alguém que havia "minado" o primeiro-ministro.

— Eu não o teria nomeado para este cargo importante — disse ela em um vídeo postado nas redes sociais. — Senhor, pense novamente.

Em meio aos questionamentos, descobriu-se que o ex-comandante havia escrito uma coluna de opinião em janeiro, criticando as políticas de Trump revertendo os esforços destinados a limitar a poluição e fortalecer a indústria de combustíveis fósseis. Ele trabalhou como executivo no setor de energia verde após deixar as Forças Armadas, e o artigo tratou da política de mudança climática de Trump, sem tocar em qualquer uma das questões de segurança sensíveis que estão sob a alçada do Shin Bet.

"A miopia de Trump envia uma mensagem terrível de desrespeito à realidade científica ao mundo, ao bem-estar da humanidade e à responsabilidade para com as gerações futuras", escreveu no Calcalist, um diário econômico israelense.

O senador Lindsey Graham, republicano da Carolina do Sul e um aliado-chave de Trump, pediu que Netanyahu retirasse a nomeação de Sharvit, dizendo que sua nomeação era "além de problemática".

"As declarações feitas por Eli Sharvit sobre o presidente Trump e suas políticas criarão estresse desnecessário em um momento crítico", escreveu Graham nas redes sociais na segunda-feira. "Meu conselho aos meus amigos israelenses é mudar de rumo e fazer uma melhor verificação."

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