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PREMIER ISRAELENSE

Netanyahu diz que ficará em área capturada na Síria até que surja 'nova força'

Segundo o Wall Street Journal, o grupo palestino agora concorda com a presença temporária de tropas israelenses no enclave

Benjamin NetanyahuBenjamin Netanyahu - Foto: Gil Cohen-Magen/AFP

O premier israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta quinta-feira que permanecerá em uma faixa desmilitarizada das Colinas de Golã, em território sírio, até que surja uma “nova força eficaz” para garantir um acordo de fronteiras entre os dois países.

A área foi capturada no domingo, após a queda do regime de Bashar al-Assad em Damasco. As declarações surgem em meio a rumores de que um cessar-fogo em outra frente da guerra israelense no Oriente Médio, a Faixa de Gaza, pode estar mais perto após concessões do Hamas.

Segundo comunicado emitido após uma reunião entre Netanyahu e conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, o premier “deixou claro que Israel faria o máximo para defender sua segurança contra toda e qualquer ameaça”, e que, para isso, o Exército assumiu “temporariamente o controle da zona desmilitarizada na Síria, até que haja uma força efetiva que faça cumprir o Acordo de Separação de Forças de 1974”.


No domingo, após a queda de Bashar al-Assad, Israel capturou uma zona desmilitarizada nas Colinas do Golã (anexadas pelos israelenses em 1967), alegando que o acordo firmado em 1974 pelos dois países, ligado à fronteira, se tornou “nulo” com o fim do regime em Damasco.

A área, de 235 km², fica em território sírio, e era monitorada por forças das Nações Unidas. A invasão foi duramente criticada pela comunidade internacional, incluindo pela ONU, mas os EUA, maiores aliados de Israel, disseram apenas esperar “que fosse temporária”.

Desde a tomada da capital síria por forças de oposição, lideradas por um grupo armado considerado terrorista por vários países, os israelenses realizaram mais de 400 ataques aéreos contra instalações militares locais, alegando que estão agindo para evitar que armas caiam nas mãos de “extremistas”. De acordo com a Força Aérea de Israel, 86% de todos os sistemas de defesa aérea do país árabe foram destruídos.

— Não temos intenção de interferir nos assuntos internos da Síria, mas certamente pretendemos fazer o que for necessário para garantir nossa segurança — disse Netanyahu, na terça-feira.

No encontro com Sullivan, o premier “levantou a questão da necessidade vital de ajudar as minorias na Síria e impedir atividades terroristas contra Israel a partir do território sírio”, de acordo com comunicado de seu Gabinete nesta quinta-feira.

Concessões em Gaza
A queda de Assad, derrubado de maneira relâmpago por grupos de oposição, está diretamente ligada às guerras no Líbano, em Gaza e no confronto indireto (e por vezes direto) entre Israel e Irã.

O chamado “Eixo da Resistência”, liderado pelo Irã e que tinha no regime em Damasco um pilar estratégico, foi enfraquecido com as guerras no Líbano, onde boa parte da capacidade do Hezbollah — e suas principais lideranças — foi dizimada, e em Gaza, onde a catástrofe humanitária convive com um Hamas debilitado.

Enfraquecido, o Hezbollah firmou um acordo de cessar-fogo com Israel no mês passado, que tem sido mantido apesar das múltiplas violações de lado a lado. E o Hamas parece próximo de seguir pelo mesmo caminho.

De acordo com reportagem do Wall Street Journal, o grupo responsável pelo ataque de 7 de outubro de 2023 concordou em fazer duas importantes concessões nas conversas sobre uma pausa nos combates, que mataram mais de 40 mil pessoas.

A primeira é sobre a permanência temporária de forças israelenses em Gaza, localizadas no chamado Corredor Filadélfia, próximo à divisa com o Egito, e no Corredor Netzarim, que divide o enclave ao meio e onde Israel tem construído bases e infraestruturas militares. O grupo ainda se comprometeria a não manter atividades do lado palestino de Rafah, na fronteira egípcia.

A segunda diz respeito aos reféns capturados nos ataques do ano passado. No domingo, durante uma rodada de negociações com mediadores no Cairo, o grupo apresentou uma lista de reféns que poderiam ser libertados caso um acordo seja fechado, e ela inclui cidadãos americanos, mulheres, idosos, pessoas com problemas médicos e os corpos de cinco pessoas que morreram no cativeiro.

Segundo a publicação, ao menos 30 poderiam retornar a Israel durante a primeira fase do cessar-fogo, que interromperia os combates por pelo menos 60 dias. Também foi apresentada uma lista com nomes de prisioneiros palestinos que seriam libertados de prisões israelenses.

Desde o início das conversas, o Hamas jamais havia fornecido uma lista com os nomes dos reféms que estava disposto a libertar, alegando que muitos estavam sob poder de grupos aliados, e que não tinham informações detalhadas.

Ao Wall Street Journal, mediadores afirmam que eles poderiam ser libertados logo após a assinatura do acordo, e o grupo receberia mais tempo para determinar os nomes dos reféns que ainda estão em Gaza, seu estado de saúde e se eles ainda estão vivos.

Estima-se que 96 reféns ainda estejam no território, sendo que 30 teriam morrido nas mãos de seus sequestradores ou em ataques aéreos.

Citados pelo Wall Street Journal, os mediadores afirmam que o Hamas, além de ter perdido a maior parte de sua capacidade de continuar lutando no que sobrou de Gaza, foi influenciado pela decisão do Hezbollah de baixar as armas no Líbano.

E apesar da rivalidade interna com Assad — sua queda foi comemorada pelo grupo palestino —, o fim do regime foi mais um baque contra a “frente” anti-Israel, e mais um impulso para os planos de Netanyahu de remodelar o Oriente Médio.

— Após a queda do regime em Damasco, o Hamas está mais isolado do que nunca. Ele esperava pela unidade dos aliados e, em vez disso, recebeu o desmoronamento dos aliados. Esperava ajuda do Hezbollah e nós tiramos isso dele. Esperava ajuda do Irã, e nós também tiramos isso dele. Esperava ajuda do regime de Assad, isso não vai acontecer — disse Netanyahu na terça-feira. — O isolamento do Hamas abre uma porta adicional para avançar em um acordo que devolverá nossos reféns.

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