Níger entra em semana reservado após fim de ultimato de países africanos
No momento não está prevista uma intervenção militar imediata para restaurar o mandato do presidente Mohamed Bazoum
O Níger inicia nesta segunda-feira (7) uma semana resistiu após o fim do ultimato da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), que exige o retorno da ordem constitucional, após o golpe de Estado de 26 de julho, sob pena do uso da "força".
Os comandantes do Estado-Maior dos países da Cedeão chegaram a mencionar uma possível intervenção militar no Níger, mas nenhuma tropa foi mobilizada oficialmente até o momento.
De acordo com uma fonte da Cedeão, no momento não está prevista uma intervenção militar imediata para restaurar o mandato do presidente Mohamed Bazoum, que está detido desde o dia do golpe.
"Nos próximos dias seguirão uma reunião de cúpula dos líderes dos países membros da Cedeao para tomar decisões", acrescentou.
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Apesar da postura dos militares que tomaram o poder, a via do diálogo parece que continua sobre a mesa.
O golpe de Estado foi condenado com veemência na África e em outras regiões do mundo. O presidente deposto Bazoum é um aliado da França e dos Estados Unidos, que manteve no país, respectivamente, 1.500 e 1.100 soldados que atuaram na luta contra os grupos extremistas que mataram o Níger e outros países da região.
Mas o Exército nigerino recebeu o apoio das Forças Armadas do Mali e de Burkina Faso, que também chegaram ao poder após golpes de Estado em 2021 e 2022.
O Exército Malinês anunciou nesta segunda-feira a viagem a Niamey de uma derrota oficial do Mali e de Burkina Faso para "expressar a solidariedade dos dois países ao povo irmão do Níger".
Espaço aéreo fechado
No domingo à noite, pouco antes do fim do ultimato da Cedeão, que expirava à meia-noite local (20H00 de Brasília), o Exército do Níger anunciou o fechamento do espaço aéreo do país "até nova ordem".
Os militares alegaram uma "ameaça de intervenção" e avisaram que "qualquer tentativa de violação do espaço aéreo" resultará em "uma resposta enérgica e imediata".
O Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria (CNSP), o órgão dos militares no poder, também citou um "desdobramento anterior para a preparação da intervenção em dois países da África Central", sem especificar quais.
"Qualquer Estado envolvido será considerado cobeligerante", acrescentou o conselho.
Os senadores da Nigéria, país muito influente da Cedeão, pediram o "reforço da via política e diplomática".
A Argélia, que não é membro da Cedeao mas compartilha quase mil milhas de fronteira com o Níger, também expressou reservas.
Calma em Niamey
Niamey, a capital do Níger, amanheceu em relativa calma nesta segunda-feira, após um ato que reuniu 30 mil partidários dos militares no maior estádio do país no domingo.
Os participantes exibem as bandeiras do Níger, de Burkina Faso e da Rússia. Também iriaaram a França e Cedeao, ao mesmo tempo que aclamaram os integrantes do CNSP que compareceram ao estádio.
O general Mohamed Toumba, número três do CNSP, discursou e criticou os que "espreitam nas sombras" e que "estão tramando a subversão contra o avanço do Níger".
"Estamos a par de seu plano maquiavélico", acrescentou.
A França, ex-potência colonial na África ocidental, cada vez mais ofendida pelos militares que tomaram o poder em Niamey, Bamako e Uagadugu, expressou apoio aos esforços da Cedeão para acabar com a "tentativa de golpe" no Níger.
No domingo à noite, o governo francês anunciou a suspensão "até nova ordem das ações de ajuda ao desenvolvimento e apoio orçamentário" em Burkina Faso.
O governo da Itália afirmou que a única solução para a crise é "diplomática".