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Talibã

No Afeganistão, avião caça da Embraer cai e é tomado pelo Talibã

O avião que caiu foi abatido pelas defesas antiaéreas uzbeques, segundo agências de notícias russas

O avião caça A-29 caiu durante do fuga no AfeganistãoO avião caça A-29 caiu durante do fuga no Afeganistão - Foto: Embraer/Divulgação

A esquadrilha de aviões de ataque leve A-29 Super Tucano da brasileira Embraer operada pela Força Aérea do Afeganistão vive uma saga desde que o Talibã acelerou a tomada do país, consolidada com a ocupação de Cabul no domingo (15).

Dos 23 aparelhos que estavam em território afegão, ao menos 14 foram levados para o Uzbequistão, e um deles caiu durante a operação. Os restantes têm destino incerto, segundo avaliação do Departamento de Defesa dos EUA colhida pela reportagem.

O que é certo é que pelo menos um dos aviões está nas mãos do Talibã, segundo informações da inteligência militar americana. No Twitter, emergiu uma foto feita na base aérea de Mazar-i-Sharif com talebans à frente de um aparelho.

O avião que caiu foi abatido pelas defesas antiaéreas uzbeques, segundo agências de notícias russas, ou se chocou com um caça MiG-29 do país, que o acompanhava. Seja como for, os dois pilotos afegãos do Super Tucano sobreviveram e estão em um hospital em Termez, capital da província de Surkhondario.

A aeronave fazia parte de um grupo de 22 aviões e 24 helicópteros militares que escaparam entre o sábado (14) e o domingo, dia da queda do governo de Ashraf Ghani. Eles violaram o espaço aéreo uzbeque em busca de refúgio e é provável que tenham sido pilotados à revelia dos superiores dos aviadores.
 



Os aviões brasileiros foram produzidos nos EUA pela Embraer e entregues à sua parceira local, a Sierra Nevada, que os forneceu ao governo. Eles foram adquiridos por US$ 428 milhões, em um lote de 20 em 2011, que começou a operar cinco anos depois, e em outro de 6 unidades, por US$ 130 milhões em 2017.

O fato de alguns Super Tucano e pelo menos 91 helicópteros terem ficado para trás não significa necessariamente que agora eles voem pela Força Aérea do Talibã. Alguns fatores concorrem para isso.
Primeiro, no caso dos caças brasileiros, pilotos. Desde que começou a fornecer os aviões para os afegãos, Washington tratou de formar aviadores e técnicos. O programa terminou em novembro passado com cerca de 30 pilotos e 90 homens de apoio capacitados.

Como eram um dos principais diferenciais das Forças Armadas afegãs na luta contra os insurgentes, por sua operação em ambientes hostis e específica para operações contra alvos pequenos e móveis, os Super Tucano passaram a ser alvo de uma campanha particular do Taleban.

Pelo menos 7 dos 30 pilotos foram mortos em atentados, assim como familiares de outros militares, o que gerou um clima crescente de tensão, com relatos de deserção. Ainda assim, os EUA prometeram em julho entregar mais três aeronaves para Cabul, o que evidentemente não irá mais acontecer.

Além disso, os afegãos podem ter sido orientados pelos americanos a desabilitar sistemas de armas, que são controlados por software, dos aviões. Eles podem até voar dessa maneira, mas atirar é outra história, que passa também pela existência de munição suficiente.

Em junho, o Parlamento afegão fez um relatório dizendo que faltavam bombas com guiagem a laser no inventário da Força Aérea, devido ao alto uso contra os talibãs.

Por fim, aviões precisam de manutenção constante e preventiva, que no Afeganistão era feita pelos poucos técnicos e por muitos subcontratados americanos — a Embraer não trabalhava diretamente no país. Essa torneira estará fechada para o Talibã.

O que não significa que o butim militar herdado pelos militantes islâmicos não seja enorme. Uma das crises da avaliação errada do avanço militar talibã é que os americanos não tiveram tempo de proteger ou retirar todo o material bélico que tinham no país. O governo americano previa um cerco a Cabul para daqui a 30 dias, mas a capital caiu duas semanas depois do início da ofensiva final.

Além disso, os estimados US$ 90 bilhões gastos com equipamentos para as forças aliadas afegãs agora foram apropriados. Assim, é possível ver caminhões blindados patrulhando ruas em Herat e picapes da polícia nacional afegã com talibã na caçamba em Cabul.

Havia uma força considerável de blindados, 1.013 unidades, nas mãos do governo derrubado, além de 775 peças de artilharia — enquanto os militantes costumam confiar mais no seus fuzis AK-47 e nos RPG (lançadores de granada propelida por foguete). Novamente, todo esse equipamento precisa ser operado, mas o grau de complexidade é infinitamente menor do que aquele de caças ou helicópteros modernos.

Nesta segunda (16), com a poeira ainda densa no ar dos eventos do domingo, o Taleban informou que pretende oferecer anistia total a soldados afegãos que tenham lutado contra o grupo fundamentalista, desde que se filiem a ele.

Como os ocupantes americanos não eram exatamente populares entre as tropas, e o medo de represálias está se espalhando pelo país, é bem provável que a adesão seja maciça. O Taleban poderá ter o que nunca teve, nem em sua encarnação como governo (1996-2001): um Exército de fato.

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