Noronha é nosso
Em 1817, por discordar das diretrizes que emanavam do Governo Central, principalmente no que tange à política fiscal escorchante que ameaçava de solução de continuidade as atividades canavieira e algodoeira, carros-chefes da economia estadual, Pernambuco, sem saída, deflagou movimento libertário conhecido como a “Revolução Pernambucana de 1817”.
O referido movimento, abafado pelo Governo Imperial, condenou à morte vários líderes da Revolução, que foram arcabuzados em praça pública, e de quebra o Estado foi penalizado com a perda da Comarca de São Francisco (Bahia) e outras partes integrantes do território pernambucano.
Dizem que a história se repete, e uma coisa é certa: discordamos mais uma vez da política fiscal e de todas as outras, quando acentuam a desigualdade como tragédia que nos oprime, isentando da tarifa o álcool importado, em detrimento da produção nacional, principalmente daqueles que ainda sobrevivem, exercendo com grande sacrifício a atividade sucroalcooleira nas ladeiras do Nordeste, gerando emprego e renda para esses abnegados e indigentes nordestinos.
A tentativa do governo de federalizar o arquipélago de Fernando de Noronha, ao arrepio do disposto na Constituição de 1988, que define o território como área pertencente ao Estado de Pernambuco, não nos surpreende, na medida em que representa apenas mais um episódio de agressão desmedida a tudo e todos que não rezem na cartilha imperial.
A esdrúxula iniciativa de tomar Fernando de Noronha dos pernambucanos, por ironia e preocupante coincidência, parece ter origem na vontade de repetir por aqui uma "miniUcrânia tropical” para chamar de sua, por puro diletantismo do incontido desejo de exibir o sentimento do “quero, posso e mando”, que se solidariza com a invasão de territórios, legítima e legalmente constituídos.
Fernando de Noronha, com população de aproximadamente 3.500 habitantes, sempre fez parte de Pernambuco, quando em 1700 Portugal deu posse do arquipélago à então Capitania de Pernambuco.
O arquipélago denominado Fernando de Noronha, deve-se à homenagem ao português Fernão de Lorona, que financiou a expedição exploratória de 1503 às custas do Brasil, comandada pelo navegador Américo Vespúcio.
É difícil conceber na antevéspera de campanha visando a eleição de outubro nos planos federal e estadual, atitudes dessa natureza, que ensejam perplexidade e posicionamentos, alegando que o que se apresenta é uma “luta do bem contra o mal”. Pois bem, se é para tomar nosso território, reagiremos como brasileiros do bem, seguidores da Constituição, que não nos dá “desconforto estomacal”, mas orgulho de sermos nordestinos praticantes do Estado Democrático de Direito, calejados, com couro grosso e cicatrizes de lutas e reações históricas que jamais esqueceremos.
Estejam certos que palavras são como flechas: uma vez disparadas não voltam aos arcos que as arremessaram. Ouvimos todas elas com cuidado e atenção, foram decifradas nas linhas e entrelinhas, e saberemos respondê-las oportunamente. Não vale dizer em nome de estratégias de campanhas furadas que “não foi bem assim”, entendemos e guardamos os recados, reagiremos à altura com palavras, que são as armas mais letais do nosso arsenal, arcabuzes do bem, do justo, do certo, do correto, do ético, do que espera e necessita o Brasil de hoje e do amanhã.
Não vão nos iludir ao som de sanfona e forró, que nos alegram em momentos de descontração cada vez mais raros. Não somos porcos dengosos, que, coçando a barriga, se derretem, prometendo carinho e atenção. Por isso repetimos: não nos esqueceremos das lições do passado de triste memória.
Noronha é nosso! Entenderam?
*Consultor de empresa
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