Norovírus: o que é, transmissão e sintomas da causa do surto de virose no Guarujá
Patógeno é um dos principais responsáveis pela gastroenterite viral, infecção no estômago e no intestino que provoca náuseas, diarreia e vômito
Nesta quarta-feira, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) confirmou a presença de norovírus em amostras de fezes coletadas na Baixada Santista e analisadas pelo Instituto Adolfo Lutz, na capital paulista. A identificação ocorre em meio ao surto de virose que levou os atendimentos no Guarujá, litoral Norte do estado, a explodir no fim de ano com relatos de vômitos, náuseas, cólicas e diarreia nas redes sociais.
O cenário chegou a ser classificado como um surto pela pasta, e cidades vizinhas, como Santos e Praia Grande, também registraram uma alta de gastroenterite. No Guarujá, foram registrados 2.064 atendimentos em dezembro, contra 1.457 em novembro, um crescimento além do esperado para a época do ano. A SES-SP ainda investiga a origem da contaminação.
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O que é o norovírus?
Os norovírus são um grupo de vírus que aparece entre as causas mais comuns de gastroenterite, infecção no intestino e no estômago, viral. Nos Estados Unidos, por exemplo, é a principal causa em todas as faixas etárias. Segundo informações do Hospital Israelita Albert Einstein, os principais sintomas que eles provocam são diarreia intensa, vômito e algumas vezes febre alta.
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O diagnóstico geralmente é feito de forma mais ampla como uma doença diarreica aguda (DDA) viral, já que há uma série de patógenos que causam sintomas semelhantes e são combatidos com o mesmo tratamento. Em alguns casos, porém, como o da Baixada Santista, exames de laboratório podem confirmar se é o caso de norovírus.
O norovírus pode infectar todas as faixas etárias, e as pessoas podem ser contaminadas diversas vezes ao longo da vida, já que existem diversos tipos do patógeno. Segundo informações dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (EUA), os sintomas começam de 12 a 48 horas após a exposição e costumam durar de 1 a 3 dias.
O quadro geralmente é leve e autolimitado, ou seja, se resolve sozinho. No entanto, algumas pessoas podem evoluir clinicamente para quadros de desidratação que variam de leve a grave. Os CDC afirmam que crianças com menos de 5 anos de idade, adultos mais velhos e pessoas com sistemas imunológicos enfraquecidos têm maior probabilidade de desenvolver infecções graves.
Como é a transmissão do norovírus?
Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, e professor da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), explica que a transmissão se dá principalmente pela via fecal-oral:
— Isso ocorre principalmente pela ingestão de água ou alimentos contaminados, como frutos do mar mal preparados ou lavados com água imprópria para consumo, algo comum em surtos relacionados ao esgoto. O contato com água contaminada no mar, rios ou piscinas também representa um risco significativo.
Além disso, ele conta que a contaminação pode ocorrer pelo contato direto com pessoas infectadas ou superfícies contaminadas: — Em alguns casos, especialmente em ambientes fechados, partículas de vômito ou fezes podem se dispersar pelo ar, contribuindo para a transmissão. O norovírus é um exemplo de patógeno altamente contagioso, facilmente transmitido por contato direto ou por superfícies infectadas.
O que favorece a infecção pelo norovírus?
Alguns fatores que favorecem uma infecção são:
Ingestão de água sem tratamento adequado;
Consumo de alimentos sem conhecimento da procedência, do preparo e armazenamento;
Consumo de leite in natura (sem ferver ou ser pasteurizado) e derivados;
Consumo de produtos cárneos e pescados e mariscos crus ou mal cozidos;
Consumo de frutas e hortaliças sem higienização adequada;
Viagem a locais em que as condições de saneamento e de higiene sejam precárias;
Falta de higiene pessoal.
— Aglomerações típicas de períodos de férias e altas temperaturas, que favorecem a proliferação de microrganismos, contribuem para a disseminação dessas doenças — acrescenta Weissmann. Por isso, o norovírus, assim como outras viroses que causam gastroenterite, costumam crescer com a chegada do verão.
Como é o tratamento do norovírus?
O tratamento do norovírus é focado em evitar a desidratação por meio da ingestão de líquidos e solução de sais de reidratação oral ou fluidos endovenosos, em casos mais graves, enquanto o próprio sistema imunológico combate o microrganismo. Medicamentos podem ser utilizados quando indicados para auxiliar nos sintomas, como remédios para enjoo e analgésicos nos casos de cólicas.
Como se proteger?
A diretora da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar da SES-SP, Alessandra Lucchesi, explica que é essencial que os banhistas do litoral paulista tomem precauções adicionais já que há um cenário de surto:
— Não é recomendado tomar banho de mar nas 24 horas após períodos de chuva. Além disso, a lavagem das mãos deve ser intensificada e o consumo de água deve ser limitado àquela de procedência confiável, preferencialmente mineral ou filtrada. Os alimentos também devem ser preparados e armazenados de forma adequada, sempre refrigerados.
De modo mais amplo, para se proteger de doenças infecciosas gastrointestinais, o Ministério da Saúde recomenda:
Lavar sempre as mãos com sabão e água limpa principalmente antes de preparar ou ingerir alimentos, após ir ao banheiro, após utilizar transporte público ou tocar superfícies que possam estar sujas, após tocar em animais, sempre que voltar da rua, antes e depois de amamentar e trocar fraldas;
Lavar e desinfetar as superfícies, os utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos;
Proteger os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos, animais de estimação e outros animais (guarde os alimentos em recipientes fechados);
Tratar a água para consumo (após filtrar, ferver ou colocar duas gotas de solução de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água, aguardar por 30 minutos antes de usar);
Não utilizar água de riachos, rios, cacimbas ou poços contaminados para banhar ou beber;
Evitar o consumo de alimentos crus ou mal cozidos (principalmente carnes, pescados e mariscos) e alimentos cujas condições higiênicas, de preparo e acondicionamento, sejam precárias;
Ensacar e manter a tampa do lixo sempre fechada; quando não houver coleta de lixo, este deve ser enterrado em local apropriado;
Usar sempre o vaso sanitário, mas se isso não for possível, enterrar as fezes sempre longe dos cursos de água;
Evitar o desmame precoce, já que manter o aleitamento materno aumenta a resistência das crianças contra as diarreias.