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"Nos deixem viver": drag queens protestam na Rússia antes de tribunal decidir se LGBT é extremismo

Ao longo da última década, o Presidente Vladimir Putin pressionou os russos a aderirem aos valores sociais conservadores promovidos pela Igreja Ortodoxa.

Drag performer Valera, 20Drag performer Valera, 20 - Foto: Natalia Kolesnikova/AFP

O Supremo Tribunal da Rússia está prestes a classificar o “movimento LGBT internacional” como uma organização extremista, cimentando uma longa e dolorosa repressão à comunidade. Se a proibição for aprovada, como esperado, os russos de orientação sexual ou identidade de gênero “não tradicional” poderão enfrentar anos atrás das grades.

“O que estamos fazendo não é extremista”, disse Saffron à AFP, descartando o rótulo ao vestir uma jaqueta vermelha sobre um sutiã de lantejoulas

A jovem de 20 anos, que atende por Valera fora do palco, disse que os shows de drag são um lugar para o público e os artistas explorarem e refletirem sobre suas vidas por meio da comédia e da tragédia.

"O que mais me assusta é que perderemos uma variedade tão grande de pensamentos, pessoas e criatividade interessantes", disse ela sobre a proibição iminente.

Ao longo da última década, o Presidente Vladimir Putin pressionou os russos a aderirem aos valores sociais conservadores promovidos pela Igreja Ortodoxa. Em 2013, os legisladores proibiram as pessoas de promoverem relações “não tradicionais” com crianças e, desde então, aumentaram a pressão sobre os setores liberais da sociedade.

Saffron, que se interessou por drag há três anos porque combinava suas habilidades de teatro, figurino e maquiagem, disse que a legislação proposta incutiu "medo" nela.

"Eu não gostaria de ver meus amigos ou pessoas com quem me sinto conectado sofrerem", afirmou.

Por razões de segurança, a AFP utilizou apenas os primeiros nomes.

A guinada conservadora na Rússia acelerou depois do Kremlin ter enviado tropas para a Ucrânia em fevereiro do ano passado. Em dezembro, Putin ampliou a lei de 2013 para criminalizar qualquer menção pública positiva a pessoas ou relacionamentos LGBTQ.

Já em julho deste ano, os legisladores proibiram a intervenção médica e os procedimentos administrativos que permitiam às pessoas mudarem de gênero.

Em resposta à nova legislação, os organizadores dos shows de drags estão tomando medidas extras para manter a comunidade segura. A bandeira do arco-íris não é mais exibida nos shows e o público não pode mais tirar fotos.

Os russos visados pela legislação conservadora enfrentaram, em sua maioria, pesadas multas, mas agora o rótulo de “extremista” pode acarretar pena de prisão. Mas Saffron disse que não desistiria apesar dos riscos.

"Não importa para mim o quanto eu seja derrubada.O mais importante é como posso me levantar, sacudir a poeira e seguir em frente. Eu gostaria de poder e ter a força interior para continuar vivendo e viver sinceramente, para continuar vivendo autenticamente, não importa o que aconteça”, disse Saffron.

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