Logo Folha de Pernambuco

Peru

Nova presidente do Peru tenta formar governo após destituição de Castillo

Advogada de 60 anos, vice-presidente até quarta-feira, terá que formar nas próximas horas seu primeiro gabinete ministerial

Boluarte tomou posse após queda de CastilloBoluarte tomou posse após queda de Castillo - Foto: Cris Bouroncle/AFP

A incerteza domina o Peru nesta quinta-feira (8), no primeiro dia da presidência de Dina Boluarte, que pediu uma trégua à oposição para tentar superar a crise institucional após a fulminante destituição e detenção de Pedro Castillo, acusado de tentativa de golpe de Estado.

A advogada de 60 anos, vice-presidente até quarta-feira, terá que formar nas próximas horas seu primeiro gabinete ministerial, o que permitirá sentir o pulso da orientação de seu governo e vislumbrar suas possibilidades de sobreviver à tempestade política no Parlamento.

Após uma sucessão de anúncios que abalaram as instituições do Peru em poucas horas, Boluarte tomou posse como a primeira mulher presidente do país e deixou claro que aspira cumprir o restante do mandato, até julho de 2026.

Suas decisões iniciais serão cruciais para saber se conseguirá concretizar o objetivo ou se ela será obrigada a recuar e convocar eleições gerais antecipadas.

No primeiro discurso como chefe de Estado, Dina Boluarte pediu a "unidade nacional" e fez um apelo para que os partidos deixem de lado as ideologias, uma referência tácita ao confronto que marcou a relação entre o governo do esquerdista Castillo e o Congresso, dominado pela direita.

Depois pediu uma "trégua política para instalar um governo de unidade nacional".

Em 1º de dezembro, uma missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) que monitora a crise política peruana solicitou uma trégua de 100 dias entre o Executivo e o Legislativo, o que não aconteceu.

Na quarta-feira, centenas de simpatizantes de Castillo enfrentaram a polícia diante da prefeitura de Lima, onde ele estava detido. As força de segurança utilizaram gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.

"Fechem o Congresso, ninho de ratos", afirmava uma faixa. Opositores do presidente queimaram camisas com a imagem do Castillo.

Crise em tempo real
O Peru viveu na quarta-feira horas de suspense que terminaram com Castillo detido à noite em uma base da polícia no leste de Lima, acusado em flagrante pelo crime de rebelião.

Horas antes de o Congresso debater sua terceira tentativa de remover Castillo do poder em 16 meses, ele anunciou que era alvo de "um ataque sem quartel" por parte do Parlamento, anunciou a dissolução do Congresso e um toque de recolher. O agora ex-presidente pretendia governar por decreto.

As Forças Armadas e a polícia, no entanto, não o apoiaram. O Congresso ignorou seu anúncio e seguiu com o processo de destituição.

Desde que assumiu a presidência em julho de 2021, Castillo viveu sob a pressão do Congresso e do Ministério Público, que o acusa de comandar uma suposta "organização criminosa" que distribui contratos públicos em troca de dinheiro.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, expressou "preocupação" com a situação política no Peru e condenou "qualquer tentativa de subverter a ordem democrática", afirmou seu porta-voz, Stéphane Dujarric, em um comunicado.

Guterres "pediu a todas as partes envolvidas que respeitem o Estado de direito e mantenham a calma, sem inflamar as tensões", acrescentou.

A destituição do esquerdista, que tinha um índice de rejeição de 70% nas pesquisas mais recentes, foi aprovada por 101 votos de um total de 130 congressistas.

Após a destituição, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, chamou Castillo de "ex-presidente" e considerou que os congressistas peruanos tomaram "medidas corretivas" de acordo com as regras democráticas.

Países de toda a região defenderam o respeito ao Estado de Direito e à democracia no Peru.

A União Europeia (UE), por meio de seu escritório em Lima, expressou apoio à "solução política, democrática e pacífica adotada pelas instituições peruanas" e pediu a todos os setores um "diálogo que assegure a estabilidade".

Uma presidência frágil
Sem bancada própria no Congresso, Boluarte enfrenta uma situação de fragilidade muito similar à vivida entre 2018 e 2020 pelo então presidente Martín Vizcarra, que acabou perdendo o cargo.

"Não tem bancada no Congresso, está sozinha", advertiu o ex-presidente Ollanta Humala na quarta-feira em entrevista ao Canal N.

"Ela não tem as ferramentas para governar, deve convocar eleições antecipadas, pode ser renunciando para que o presidente do Congresso assuma e antecipe as eleições", acrescentou Humala, que governou o país de 2011 a 2016.

"O que acontece hoje é uma trégua que vai durar um mês ou talvez mais, mas depois aparecerão os grandes problemas do país", disse.

"Esperamos que a presidente nomeie um gabinete com uma base ampla, um gabinete muito bom. Todos devemos fazer o possível para que as coisas funcionem bem", tuitou a líder de direita Keiko Fujimori.

A filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000) afirmou que seu partido, Força Popular, a principal minoria do Congresso, apoiará a nova presidente.

Dina Boluarte pode ter a seu favor o enorme descrédito do Congresso, marcado por escândalos de corrupção. O Parlamento tem índice de rejeição de 86% nas pesquisas recentes.

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter