Saúde

Nova vacina contra chikungunya tem bom resultado em teste intermediário

Produto criado por empresa americana induziu criação de anticorpos que neutralizaram vírus em experimento

O mosquito Aedes aegypti, transmissor dos vírus de dengue, chikungunya e zika O mosquito Aedes aegypti, transmissor dos vírus de dengue, chikungunya e zika  - Foto: Agência O Globo

Uma nova vacina experimental contra o vírus da chikungunya, transmitido por mosquitos Aedes aegypti, obteve bons resultados em um teste de fase 2, que avalia a capacidade do produto de induzir resposta imune. Num estudo com 20 pessoas que receberam o imunizante, cientistas conseguiram mostrar que o material produzido por seus organismos conseguia neutralizar o patógeno.

A comprovação saiu de um experimento no qual os pesquisadores clonaram anticorpos dos humanos e os transferiram para camundongos infectados com a doença. Usando o material desses voluntários, que haviam se vacinado seis meses antes, os roedores ficaram protegidos pela doença.

A vacina, criada pela empresa americana Emergent Biosolutions, entra agora na corrida para aprovação de um produto para prevenir a doença. O cenário já tem no páreo uma vacina da francesa Valnova, em fase final de testes pelo Instituto Butantan, e São Paulo.

A vacina da Emergent, registrada com a sigla PXVX0317, também deve se qualificar para um ensaio clínico de fase 3 agora. Essa etapa avalia a eficácia do produto em um cenário real de infecção, sem artifícios de laboratório.

Esse foi o terceiro ensaio de fase 2 do produto americano, que antes não tinha sido avaliado diretamente para a capacidade dos anticorpos de neutralizar o patógeno.

"A vacina é bem tolerada e induz uma resposta imune robusta e durável, de mais de dois anos", escreveram os cientistas hoje em um estudo sobre o teste na revista Science Translational Medicine.

Liderado por Michael Diamond, pesquisador da Universidade Washington de Saint Louis (Missouri), o trabalho descreve como o produto funciona.

A vacina da Emergent foi desenvovida com uma estratégia chamada VLP (virus-like particles). O produto consiste de pequenos fragmentos de proteínas que se agregam para formar partículas semelhantes a vírus e treinam o sistema imune na defesa contra o vírus. Essa técnica é diferente daquela usada pela Valnova, que usou vírus inteiros inativados para desencadear a resposta imune.

A chikungunya é uma das doenças transmitidas por insetos que mais provocam dor nas vítimas, por causar inflamações nas articulações, e o número de casos tem aumentado a cada década.

Artrites virais

A empresa americana está, em tese, atrás da francesa na corrida para criar um produto, mas diz ter um trunfo em mãos: sua nova vacina, dizem os cientistas, também é capaz de combater outros patógenos do gênero dos alfavírus, parentes evolutivamente próximos da chikungunya.

"Nossos resultados mostram que duas doses da vacina PXVX0317 induzem altos níveis de anticorpos neutralizantes contra todos os genótipos de chikungunya, e sua amplitude de resposta se estende a vários outros alfavírus causadores de artrites, como O'nyong'nyong e o Mayaro", escrevem Diamond e colegas.

Esses outros vírus (o primeiro de origem africana, o segundo de origem sulamericana) não foram capazes ainda de desencadear epidemias de grandes proporções. Como os mosquitos que os transmitem estão ampliando sua presença, porém, as doenças estão sendo monitoradas por epidemiologistas, sob risco de maior disseminação.

A Emergent tem dois testes dessa etapa já em planejamento registrado no portal ClinicalTrials.Gov, do governo dos EUA, mas não lista recrutamento de voluntários em nenhum país fora dos EUA ainda.

É improvável que um teste robusto de fase 3 possa ser feito só em solo americano, porque a incidência de chikungunya é muito baixa ali. Mesmo com o Butantan já tendo fechado acordo com uma empresa francesa, o Brasil seria um destino desejado também pela concorrente americana, possivelmente numa parceria com outro centro de pesquisa.

"Em 2022 ocorreram 174.517 casos prováveis de chikungunya no Brasil. Em comparação com o ano de 2019, houve aumento de 32,4% de casos registrados para o mesmo período analisado. Quando comparado com o ano de 2021, ocorreu um aumento de 78,9% casos", afirma o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre a doença. "Foram confirmados 94 óbitos para chikungunya no Brasil, sendo que o Ceará concentra 41,5%."

O GLOBO perguntou à Emergent se a empresa está em negociação com alguma instituição brasileira para realização do teste de fase 3, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

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