Novas restrições, medo de segunda onda e negociações pós-pandemia na Europa
Aumento das infecções nos últimos dias na região de Barcelona fez com que as autoridades instassem seus habitantes a ficar em casa
As ruas de Barcelona, segunda maior cidade da Espanha, amanheceram mais vazias, neste sábado (18), em meio a um sentimento de desolação entre os habitantes, chamados a ficar em casa devido ao aumento de casos de coronavírus, enquanto a pandemia parece ter atingido o pico em países gravemente atingidos, como o Brasil. O aumento das infecções nos últimos dias na região de Barcelona fez com que as autoridades instassem seus habitantes a ficar em casa. Por enquanto, é uma recomendação, mas poderia ser o prelúdio de medidas mais rigorosas.
"Preciso do turismo como o ar que respiro, mas também da saúde para poder viver", disse Joan López, que administra um quiosque em frente à Sagrada Família, um dos lugares mais visitados da cidade. Diante da monumental obra de Antoni Gaudí, havia poucos turistas neste sábado, alguns deles nem sequer sabiam das restrições anunciadas no dia anterior. "Há poucas pessoas na rua, mas não sabíamos de nada (das restrições). Acho que manteremos nosso programa e continuaremos visitando a cidade e a praia", disse a turista tcheca Karolina Kapounova, de 23 anos.
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No entanto, em frente à fachada principal do templo, não havia sinal dos numerosos vendedores ambulantes ou guias turísticos. "Acho que todos temos que ser responsáveis. Mas também precisamos sair e tomar ar, com precauções", disse Olga Torres, em um terraço próximo. As autoridades catalãs também proibiram reuniões de mais de dez pessoas, reduziram a capacidade de bares e fecharam teatros, cinemas e outros locais de entretenimento. Todos os anúncios foram ratificados por um juiz.
A Espanha, um dos países mais afetados pela pandemia, com mais de 28.400 mortes, impôs severos confinamentos em meados de março, mas desde que as restrições foram levantadas em 21 de junho, houve uma aceleração das infecções e atualmente há mais de 150 focos ativos no país, principalmente na Catalunha e na região vizinha de Aragão.
O primeiro-ministro francês, Jean Castex, afirmou neste sábado que um novo fechamento de suas fronteiras com a Espanha não está descartado.
Descontentamento e protestos
No total, a pandemia matou 596.742 pessoas em todo o mundo desde dezembro passado e mais de 14 milhões de pessoas foram infectadas oficialmente, segundo uma contagem da AFP com base em dados oficiais.
Mas os números reais podem ser muito superiores, devido à impossibilidade de realizar testes de diagnóstico em massa em todo o mundo e porque os países usam métodos diferentes para realizar seus balanços.
Na sexta-feira e pelo terceiro dia consecutivo, os Estados Unidos registraram um aumento recorde de infectados: 77.638 em 24 horas. O país, o mais atingido do mundo pela Covid-19, já registra 3,64 milhões de doentes e quase 140.000 mortes.
No Brasil, o mais afetado na América Latina, com 2,04 milhões de casos e quase 78.000 mortes, a evolução da pandemia entrou em um "platô", segundo um alto funcionário da Organização Mundial da Saúde (OMS). "O Brasil tem agora a oportunidade de conter a doença, suprimir a transmissão do vírus e assumir o controle" da epidemia, ressaltou o responsável de emergências da OMS, Michael Ryan.
Na América Latina, as infecções superam 3,7 milhões e já existem mais de 158.000 mortes.
Longos confinamentos e pessimismo generalizado na região devido ao avanço do coronavírus e ao desastre econômico alimentaram descontentamentos e protestos em alguns lugares, como Chile e Bolívia. Segundo a ONU, a pandemia fará com que mais 45 milhões de pessoas caiam na pobreza na América Latina e no Caribe.
Em busca de consenso na UE
Enquanto isso, em Bruxelas, os líderes europeus tentavam, neste sábado, no segundo dia de uma cúpula, encontrar um acordo para aprovar um plano que ajudará a superar a profunda recessão causada pelo coronavírus.
Novas propostas estão em discussão com o objetivo de convencer os países mais reticentes a adotar esse plano de 750 bilhões de euros (840 bilhões de dólares) com base na emissão de dívida comum. O valor do fundo, sua distribuição entre subvenções e empréstimos e as condições de acesso dividem os 27 membros.
Na Europa, a Covid-19 matou mais de 200.000 pessoas e, economicamente, poderia causar uma contração de 8,3% no PIB da União Europeia (UE), segundo Bruxelas.
Ao mesmo tempo, os ministros das Finanças e os bancos centrais dos 20 países mais industrializados do mundo (G20) realizam uma reunião virtual sobre a recuperação da economia mundial, em meio a apelos para aliviar a dívida dos países pobres ou a proposta da Argentina para criar um fundo de solidariedade.