Nove militares aguardam sentença pela morte de seis indígenas na Guatemala
Militares abriram fogo contra manifestantes que bloqueavam a rodovia em protesto contra o aumento da tarifa de energia elétrica
Um tribunal da Guatemala vai anunciar nesta quarta-feira (28) a sentença do julgamento de nove militares acusados de matar seis indígenas durante a operação para desocupar uma rodovia bloqueada em 4 de outubro de 2012, um caso conhecido como o "Massacre do 'Cume do Alaska'".
O coronel Juan Chiroy, o sargento Edin Agustín e sete soldados são acusados de abrir fogo contra os manifestantes bloqueavam a rodovia Interamericana em protesto contra o aumento da tarifa de energia elétrica e com outras reivindicações sociais.
Seis homens da etnia maya k'iche' morreram na operação, que aconteceu sob o governo do presidente de direita Otto Pérez (2012-2015), condenado em 2022 a 16 anos de prisão por corrupção, no que os líderes indígenas descrevem como o primeiro massacre executado pelas forças de segurança após o fim da guerra civil (1960-1996).
Mais de 30 indígenas também ficaram feridos, mas os militares foram julgados apenas por lesões em 14 pessoas.
O massacre aconteceu em um local conhecido como 'Cume do Alaska' devido à altitude e ao clima frio no trecho da rodovia entre os departamentos de Totonicapán e Sololá, quase 100 km ao oeste da capital.
A última audiência foi aberta na manhã desta quarta-feira pela juíza presidente do tribunal, María Eugenia Castellanos, que anunciará a sentença durante a tarde.
"Meu pedido é que me absolva (...), porque o que vi nesta audiência é que eles não podem provar que cometi um crime", disse ao tribunal o soldado Abraham Gua, de 37 anos, que se identificou como indígena maia poqomchí.
Pouco depois, a juíza Castellanos encerrou os debates e convocou as partes para ouvir o veredicto do tribunal às 15h30 locais (18h30 no horário de Brasília).
Os nove militares permanecem em prisão domiciliar, proibidos de sair do país.
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Antes da audiência, cerca de 50 indígenas realizaram uma breve cerimônia maia, com flores e velas acesas, do lado de fora dos tribunais.
"Derramaram muito sangue"
O julgamento começou em 15 de junho de 2023, após quase 11 anos de espera devido a recursos que atrasaram o processo, em um tribunal de casos de alto impacto na capital.
Os nove militares enfrentam acusações de "execução extrajudicial" e "tentativa de execução extrajudicial", pelos feridos, e podem receber penas de 20 a 50 anos de prisão.
"Não apago da minha memória tudo o que aconteceu, estamos sofrendo e o que queremos é justiça, (...) derramaram muito sangue", disse María Yax, de 45 anos, vestida com seu colorido traje regional.
O marido de Yax, José Puac, era um sapateiro de 33 anos que, junto com milhares de moradores locais, protestava contra o aumento das tarifas de eletricidade e outras demandas.
Os outros quatro mortos são Félix Sapón, Santos Hernández, Rafael Batz e Jesús Caxaj.
No julgamento, mais de 90 testemunhas foram ouvidas, a maioria moradores locais, cerca de 300 documentos foram apresentados e quase 30 perícias forenses foram executadas.
"Acreditamos que há provas suficientes" para uma sentença condenatória, disse a advogada Jovita Tzul, que representa as famílias das vítimas.
A defesa das vítimas deseja que o tribunal também ordene medidas de reparação e proíba os militares de reprimir manifestações.